terça-feira, 31 de maio de 2011

Poema de Vitória Lima

1. CIGANO DESEJO

Meu desejo
anda de bonde,
patins e avião.

A pé, descalço,
de tênis
e camisão.

Meu desejo
anda tímido,
coitado.

Pega carona no vento,
no tempo,
anda até na contramão.

Meu desejo
só não anda
satisfeito.



Memórias afetivas do fim do mundo

Por


Que o mundo ainda exista e nós, os seres humanos, continuemos a pintar o oito do infinito e bordar o sete da criação; que os deuses ainda gozem de nossa fragilidade e adiem, milênio após milênio, o encontro definitivo com o Ser, o Espírito, o Absoluto; que as estrelas ainda estejam firmes no além do céu e os cometas já não tenham martelado sobre nossas cabeças a sentença de extinção do processo com resolução do mérito; que eu escreva estas linhas e você, leitor sem fé, acredite em minha galhofa e saiamos nós, deste episódio, impunemente; que assim seja e continue a ser, admito com sinceridade, é fato muito estranho.
O fim do mundo está marcado desde não-se-sabe-quando para sempre-se-prevê-algum-evento. Ora, ele virá daqui a tanto tempo que você e eu, nossos filhos e netos, bisnetos e tataranetos não restaremos sequer na memória de nossos enésimos descendentes. Ora, ele está logo ali, na esquina de casa ou no elevador do trabalho, no cafezinho do Calçadão ou na próxima marola do Cabo Branco. Mas ele sempre se degenera em zombaria e loucura para, logo em seguida, regenerar-se em tecido viçoso, como um fígado em ciclos de sanidade e doença, regulando os humores do gênero humano...
Uma propriedade importante do fim do mundo é sua capacidade de adaptação seletiva, sobretudo à maior das adversidades: sua não ocorrência. Vejamos um exemplo. Logo após a morte de Jesus de Nazaré, os primeiros cristãos aguardavam o retorno triunfal do Redentor para dali a pouco: depois da ceia, ou antes do sacrifício no Circo Máximo. Ocorreu que o tempo foi passando e não se propagaram as pragas nem se romperam os selos celestiais; assim, o Apocalipse teve que resignar-se aos fatos, transmudando-se na esperança do Paraíso ou no medo do Inferno após a morte individual.
Não existe época certa para o surgimento das profecias apocalípticas, mas há eventos fortemente atrativos. Uma data redonda, como a chegada de novo milênio, tem servido como catalisador irresistível. Some-se ao marco cronológico um pouco de dissolução dos costumes e crise política ou econômica e teremos as evidências irrefutáveis de que o último dia aproxima-se. Assim, faltarão apenas a primeira gota do dilúvio, a qual poderá vir na saliva de algum falso profeta histriônico, bem como o Anticristo, convenientemente identificado no líder da oposição ou no chefe da congregação religiosa concorrente.
O milênio, a crise e o Anticristo são os elementos de uma espécie apenas de fim do mundo: o coletivo, que mobiliza toda a engrenagem social em torno do cerrar apocalíptico das cortinas sobre a tragicomédia humana. Há que falar-se em outra espécie: o fim do mundo individual, fruto das operações físico-químicas extraordinárias que se processam na mente de algum indivíduo, digamos, excêntrico, varridamente excêntrico. Afinal, não se classifica nessa categoria um caso como o de Roldão Mangueira e seu dilúvio da Sexta-Feira 13 de maio de 1980, em Campina Grande? Eis a profecia:

Uma enorme bola de fogo cruzará o céu, o Sol girará por três vezes consecutivas, um ensurdecedor trovão ecoará por toda a Serra da Borborema. Em seguida, choverá ininterruptamente por 120 dias.

A promessa desse fim do mundo levou de roldão o juízo de Mangueira e suas borboletas azuis para o Horto onde escapariam do dilúvio, tal como Noé em sua Arca. Há até quem afirme que Roldão ainda ameaçou andar sobre as águas do Açude Velho a fim de provar seus poderes proféticos. Transcorrido em branco o Dia Final, foi o próprio São Pedro quem passou telegrama no Diário de Pernambuco, justificando a impossibilidade e reabrindo o prazo para outra quixotada:

Infelizmente não pudemos atender pedido dilúvio dia 13 Campina Grande PT Informe interesse outra data PT 

Da Borborema aos Bálcãs, houve também o caso de Vassula Ryden e seu... Mas, que digo? Vassula Ryden?! Ah, minhas memórias afetivas do fim do mundo... Menino criado em casa de avó, fui instruído desde cedo nas certezas e nos mistérios da fé. Além de ler a Bíblia, ir à missa aos domingos e recitar o rosário, aqui e acolá eu enfrentava atividades religiosas complementares, como as noites de Maria em maio ou as novenas de Natal em dezembro. Parte considerável de minha instrução religiosa, ficava ao encargo de uma tia-avó que, mesmo morando em Recife, mantinha-me a par das devoções por meio de cartas.
Foi assim que terminei travando contato com Vassula. Uma versão feminina e contemporânea de Paulo de Tarso, que fora derrubada do cavalo da falta de fé e agraciada com o excepcional privilégio de ver o Cristo e com ele manter reveladores diálogos. Além das tradicionais advertências sobre a decadência moral e o ateísmo, Vassula trazia consigo uma novidade: o Redentor voltaria em breve e cabia a ela ser a profetiza do retorno triunfal. “Arrependei-vos e crede no Evangelho!” – ela tentava convencer a todos em suas jornadas missionárias. E convenceu minha tia-avó, que, por sua vez, convenceu-me.
Aos doze anos de idade, experimentei o fim do mundo pela última vez. E como ele era saboroso! Deliciosamente insano! Uma flor de delírio que brotou e amadureceu lentamente no fruto de minha imaginação verdosa... Com o frescor da minha inocência, tracei no céu as linhas imaginárias do palco celeste onde se daria a peça: a fenda luminosa, as trombetas angelicais, a voz inefável do Altíssimo, as fileiras de inocentes e condenados seguindo o destino determinado por suas respectivas sentenças... E como aguardei, em cada nuvem de chumbo ou em cada trovão estridente, a terceira batida de Molière!
E como rezei para que o fim não tardasse... Que o Senhor surgisse no céu sem demora, antes da prova de matemática ou logo após o mais recente desentendimento dos meus pais. Até que um domingo, minha tia-avó ligou de Recife: Vassula recebera do próprio Cristo a confirmação do Juízo Final; seria na quinta-feira seguinte, às três horas da tarde. Não pude conter a euforia! Espalhei a notícia com o fervor de um arauto: em casa, na escola e entre os vizinhos... eu dava por decretado o fim deste mundo, enquanto todos davam por irreversível o processo da minha loucura...
Atravessei a semana em orações e vigílias. Na quarta-feira, despedi-me dos colegas na escola entre a esperança de revê-los no Paraíso e o temor de não encontrá-los no Inferno; à noite, deitei-me com uma dúvida desconcertante: seria aquela a última vez em que eu dormiria? Com a desculpa de estar doente, não fui à escola na quinta. A manhã arrastou-se. Ao meio-dia, almocei com a minha família, emocionado por saber que nunca mais nos sentaríamos em torno daquela mesa. Quando a tarde avançou e a hora D aproximou-se, sobreveio o instante crítico.
Vassula convencera minha tia-avó, que me levara no papo, mas eu não conseguira nenhum adepto para o fim do mundo. Os colegas e os parentes distantes consideravam-me doido varrido, enquanto meia dúzia de outros, mais generosos, punha o devaneio na conta dos meus doze anos. Então, quando chegou o momento de ir à igreja para aguardar o rasgão no ventre do céu, ninguém se habilitou a acompanhar-me. Tive que ir só, deixando para trás as pessoas mais queridas, sem saber se e como voltaria a vê-los... O fato é que os vi, sim, logo depois.
Na igreja, senti o conforto de encontrar uma dezena de fiéis, a quem as palavras de Vassula haviam alcançado. Esperavam o fim dos tempos e a eles uni-me no mesmo rosário. Às três horas da tarde, o Sol esparramava-se no céu como manteiga. De olho no relógio, com o coração a sair pelos ponteiros, contei cada segundo do primeiro minuto na esperança de que em qualquer um deles a promessa iria cumprir-se. Às três horas e um minuto, quis chorar de decepção, mas também quis sorrir de felicidade; afinal, o mundo não se acabara, mas minha saborosa vida continuaria. A congregação dispersou-se.
Voltei para casa e para a escola. Ia humilhado. Suportei a pilhéria de alguns, encarei a repreensão severa de outros e por bom tempo ainda fui advertido de como fora crédulo e tolo. Até que o episódio escorregou na latrina da memória e misturou-se à invenção...

***

Os outros fins de mundo não têm o mesmo charme narrativo do segundo. O primeiro, convenientemente deixado em segundo plano, prometeram-me na escola primária. Em algum momento do futuro, a estrela solar entraria em colapso, sua energia aparentemente infinita emitiria o último sopro de luz e todos nós morreríamos de fome e frio... dia após dia... Mas esse futuro era tão longínquo que não valia a pena perder o sono e o juízo em virtude dele. Quando sobreveio o terceiro, marcado para 11 de agosto de 1999, eu já manifestava os primeiros sintomas da infecção racional e tudo o que guardei do evento foi o comentário de um colega de classe no horário marcada para o instante final:
— O mundo acabou e, como é aula de matemática, a gente deve estar no inferno!
Daí em diante, a infecção alastrou-se até a septicemia. Tornei-me racionalmente blindado contra o apocalipse e migrei para o lado dos que apenas se divertem com a renovação de suas promessas. Sim, colega cético, nada há mais divertido que o fim do mundo. Afinal, se existem dois eventos absolutamente impossíveis, eles são o princípio e o fim de tudo o que existe: à proposição da causa primeira, retornaremos sempre à mesma pergunta sobre o que a originou; à especulação sobre o último suspiro cósmico, retornaremos sempre à mesma pergunta sobre quanto o sucederá. O que nos resta, pois, senão o devaneio e o riso?

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Lembrete

REUNIÃO DO PLL - PLANO DO LIVRO E LEITURA
 

DIA: 2 de junho
HORA:  16 horas
LOCAL:  memorial Joacil de Brito

Magno Nicolau
Ideia Editora
www.ideiaeditora.com.br
(83) 3222-5986

Sarau por José Craveirinha

Por Eduardo Quive
 
O Movimento Literário Kuphaluxa realizou no dia em que José Craveirinha completaria 89 anos, 28 de Maio, um Sarau de Poesia na casa onde o poeta viveu os seus últimos 27 anos, no bairro da Munhuana arredores da cidade de Maputo. Na mesma ocasião, o filho do poeta-mor, fez a passagem do testemunho para os jovens, através do Kuphaluxa para garrantir a continuidade no desenvolvimento da arte da escrita, como seu pai, sempre quiz.
 
O evento que juntou vários declamadores e poetas serviu para exaltar a poesia do considerado Poeta Maior de Moçambique e reflectir sobre a sua vivência, facto que ditou a realização do evento na sua casa.
 
O Sarau foi o seguimento do evento que decorreu no Centro Cultural Brasil Moçambique na quinta-feira da 
mesma semana, que serviu para relançamento da Obra “Maria”.
 
Para a família Craveirinha, o livro “Maria”, editada pela primeira vez em 1988, reflecte a dimensão real do Craveirinha, Homem, Cidadão e Poeta, cuja exaltação não se cingiu apenas as rimas e versos da Negritude, mas da família no seu todo, colocando a esposa ao seu lado e não por de trás.

A família Craveirinha deu a conhecer no mesmo evento alguns segredos de vida quotidiana com José Craveirinha, o que constituiu uma oportunidade única para os jovens amantes da literatura e da sociedade em geral.

domingo, 29 de maio de 2011

O papel


Video gravado por Wander Shirukaya na Estação Ciência no dia 25 de maio de 2011, durante o primeiro sarau do CAIXA BAIXA.
Gostaria de registrar que o ponto alto da decalmação foi o emblemático CALA BOCA, FÉLIX!

sábado, 28 de maio de 2011

Projeto Cidade Poema

Lançado em 2009, o Cidade Poema chega ao seu terceiro ano unindo a poesia às demais artes. no objetivo de colocar a literatura na vitrine, em iniciativas que vão de outdoors a pequenos imãs de geladeira, de minimetragens poéticos a bolachas de chope, de performances teatrais a adesivos ilustrados.
“Porto Alegre já conta com várias iniciativas culturais importantes para debater e festejar a criação literária, entre elas a FestiPoa, que é nossa parceira" afirma Laís Chaffe, idealizadora do CIDADE POEMA. E complementa: "Está na hora de levar o trabalho dos poetas para as ruas, para outros públicos, além daqueles já acostumados a frequentar essas atividades.” Alguns empresários já estão colaborando, mesmo sem incentivos fiscais, por meio de permutas que cobrem parte dos custos do projeto. “O grande desafio será impulsionar o crescimento e garantir a continuidade do CIDADE POEMA ao longo dos anos”, acrescenta. “Temos parcerias importantes e estamos buscando novos patrocinadores. A literatura e as artes visuais vão se tornar parte da paisagem urbana. Haverá surpresas, e também queremos nos surpreender”, complementa.

CONHEÇA AS AÇÕES DO CIDADE POEMA

E-BOOK POEMA - Em janeiro de 2011, é lançado o primeiro livro online do Cidade Poema, reunindo versos de Ana Mello, Alexandre Brito, Augusto Franke Bier, Celso Gutfreind, Diego Petrarca, Laís Chaffe e Lau Siqueira.

POESIA NO GABINETE - Desde 13 de janeiro, é possível ler Fernando Pessoa, ilustrado por Guilherme Moojen, em adesivo poético no escritório do vereador Adeli Sell (PT), um dos primeiros e principais incentivadores do projeto.

POEMAS EM OUTDOORS - Mais dez outdoors foram para as ruas de Porto Alegre no Natal e Ano-Novo 2010/1011, desta vez exibindo versos de Ricardo Silvestrin.

#VERSIFICADOS - Cidade Poema torna-se parceiro e representante em Porto Alegre do movimento idealizado pelo poeta Antônio Araújo Jr. com o objetivo de publicar poesia em classificados de jornais do país. As ações conjuntas começam no dia 12 de junho de 2010, Dia dos Namorados, no Correio do Povo de Porto Alegre (parceria com Cidade Poema) e nos jornais Correio Braziliense, O Dia (RJ) e A Tarde (Salvador). No RS, nove poetas participam da primeira edição do #versificados: Ana Mello, Andreia Laimer, Augusto Franke Bier, Berenice Sica Lamas, Diego Petrarca, Everton Behenck, Laís Chaffe, Liana Timm e Telma Scherer. Poetas gaúchos voltam a publicar nos #versificados em julho, setembro e outubro de 2010.

POESIA É UM SANTO REMÉDIO - dois adesivos poéticos, no Centro de Oncologia da Unimed, no segundo andar da unidade do Shopping Total,  aplicados em junho de 2010.

ESCOLA POEMA - adesivo com poema de Alexandre Brito na sala dos professores da Escola Projeto, em frente à biblioteca, desde junho de 2010.

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE FERNANDA DAVOGLIO - de 24 de abril a 31 de maio de 2010, no SindBancários, foram expostas 28 fotos de Fernanda Bigio Davoglio, que registrou iniciativas do primeiro ano do projeto, entre elas outdoors, busdoors e os bastidores das gravações dos documentários poéticos. Poetas nas fotos: José Eduardo Degrazia, Paula Taitelbaum, Celso Gutfreind, Diego Petrarca, Laís Chaffe, Augusto Franke Bier, Ricardo Silvestrin, Alexandre Brito. Também foram fotografados momentos em que o artista plástico Guilherme Moojen realizou aquarelas nas gravações de curtas do projeto, bem como bastidores e equipe.
 
FESTIPOA LITERÁRIA - exibição, no Instituto Cultural, de 20 minimetragens poéticos no dia 24 de abril de 2010, seguida de leitura de poemas com as participações de Berenice Sica Lamas, Everton Behenck, Guto Leite, José Antônio Silva, Laís Chaffe, Liana Timm e Wladimir Cazé.

POESIA É UM SANTO REMÉDIO - seis adesivos poéticos, um em cada loja da Unimed (os adesivos foram aplicados em setembro/outubro de 2009 e permanecem como parte da decoração das unidades).

20 busdoors (adesivos na parte de trás de ônibus) com arte de Orlando Bona Filho e versos de cinco poetas: Everton Behenck, João Angelo Salvadori, José Eduardo Degrazia, Laís Chaffe e Paulo Seben (circulação em Porto Alegre por um mês, a partir de 15 de abril de 2010).
Homenagem ao Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS) – aplicação de adesivo poético com o poema “Desmatamento”, de Luis Fernando Verissimo, na porta da entidade (março de 2010).

ESCOLA POEMA -  dez adesivos poéticos em painéis na Escola Municipal de Ensino Fundamental São Pedro, desde  novembro de 2009.
Feira do livro 2009 – Sarau Cidade Poema na área infanto-juvenil (novembro), com as participações de Alexandre Brito, Christina Dias, José Antonio Silva, Laís Chaffe, Paulo Seben, Sidnei Schneider.
Feira do livro 2009 – oito adesivos com poemas de Alexandre Brito, Ana Mello, Augusto Franke Bier, Diego Petrarca, Laís Chaffe, Luis Augusto Junges Lopes e Lau Siqueira, ilustrados por Guilherme Moojen – aplicados na área infanto-juvenil da Feira (Cais do Porto), na entrada, na Casa do Pensamento e na biblioteca

Feira do livro 2009 – exibição de 20 minimetragens de 30 segundos durante a Padaria Cultural, atividade organizada por Christina Dias, no Território de Pasárgada.

Produção de 1000 magnetos (imãs de geladeira) com poema de Fernando Pessoa (setembro de 2009), que podem ser adquiridos pelo e-mail cidadepoema@cidadepoema.com (quantidade mínima: 20 unidades).

Exibição de 15 minimetragens de 30 segundos em todas as sessões das salas 1, 2 e 3 do Cinesystem, no Shopping Total, durante todo o mês de novembro de 2009.

Pré-estréia, na Alameda dos Escritores do Shopping Total, dos minimetragens poéticos dirigidos por Laís Chaffe.  

CARDÁPIO POÉTICO - performance de Deborah Finnochiaro na Alameda dos Escritores do Shopping Total.

14 adesivos com poemas nos elevadores do Shopping Total, ilustrados por Auracebio Pereira, o Aura.

8 adesivos com poemas nos espelhos dos banheiros do Shopping Total.

POESIA É UM SANTO REMÉDIO - seis adesivos poéticos, um em cada loja da Unimed (os adesivos foram aplicados em setembro/outubro de 2009 e permanecem como parte da decoração das unidades).

2 mil bolachas de chope com poemas, ilustrados por Bier, na Toca da Coruja (Lima e Silva - março).

Adesivos nas livrarias Letras & Companhia, Palavraria e Sapere Aude! (os adesivos foram aplicados em abril e maio de 2009 e permanecem decorando as livrarias).

30 busdoors circularam por 30 dias com 15 poemas de nove autores (abril/maio 2009).

25 outdoors ficaram expostos durante duas semanas em Porto Alegre, com poema de Celso Gutfreind e ilustração de Guilherme Moojen (abril de 2009).


Mais informações no http://www.cidadepoema.com/

Poema de Hidelberto Barbosa Filho

Momento n° 4

Eu sou qualquer coisa de intermédio
entre o câncer e o milagre.
Vezes sou montanha, vezes sou planície,
e não tenho rio nas minhas aldeias.        
Entre Europa e África, prefiro o sonho,
que não me levara a lugar nenhum.
Nem mesmo sou o meu torrão natal.
Dizer que sou múltiplo nos lajedos do sonho
também não me retrata. Eu sou aquele  
que não poderá ser: pedras e plumas,
isto e aquilo, e, enquanto sonho,   
vive o mundo a luxúria das águas.

            (Poema extraído de "O Livro da Agonia – e outros poemas")

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sétima edição do Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso tem como tema a preservação da vida


 .

Com o tema "Vamos cuidar da vida", o Instituto Ecofuturo lança o 7º Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso. Com inscrições abertas de 1º de março a 30 de junho,
podem participar do concurso crianças e jovens que estiverem cursando séries do ensino fundamental I, ensino fundamental II e ensino médio, estudantes das Escolas
de Jovens e Adultos (EJA), professores e, pela primeira vez, profissionais de biblioteca e educadores sociais. O site com as informações e as instruções para participar
já está no ar: http://www.ecofuturo.org.br/concursocultural

Os autores das 60 redações que melhor traduzirem o conceito sobre os cuidados com a vida ganharão um notebook e uma coleção de clássicos da literatura, além de receberem
certificado, troféu e terem seus textos publicados em livro, a ser lançado pelo Instituto Ecofuturo. O grupo de jurados, que será formado por especialistas de diversas
áreas, analisará os materiais na busca de textos originais e criativos. Os vencedores serão conhecidos durante evento cultural que acontecerá em São Paulo.

O Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso é realizado pelo Instituto Ecofuturo e conta o patrocínio da Suzano Papel e Celulose, apoio do Ministério da Cultura,
por meio da lei de incentivo à cultura, da EKA Chemicals, White Martins e Eternit.
 
Com Maysa do Sebrae

Hildeberto lança livro de sonetos

Hildeberto à sombra do sonet

O poeta Hildeberto Barbosa Filho lança neste sábado, na livraria do Luís, às 10 horas, o livro  “À Sombra do Soneto e Outros Poemas”.

Depois do lançamento, muito vinho e petiscos para os presentes.

Vou com  Michele e Beatriz prestigiar o grande Hidelberto.

Espero ver muitos amigos por lá.




A obra será lançada às 10 horas, na Livraria do Luiz, no centro de João Pessoa.

A apresentação da obra ficará a cargo da escritora Ângela Bezerra de Castro.

Após o lançamento, coquetel e o prazer de reencontrar amigos, porque ninguém é de ferro.

Vamos todos, né?

Poesia Sem Pele será lançado em Campina Grande

 
No próximo dia 01 de junho (quarta-feira), ás 20 horas, na Sala 15, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o poeta gaúcho radicado na Paraíba Lau Siqueira estará lançando seu quinto livro de poemas, intitulado Poesia Sem Pele, editado pelo selo Casa Verde, de Porto Alegre (um dos centros editoriais e literários de maior tradição no país).

O livro traz prefácio da professora de Poesia Brasileira da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Susanna Busato, e foi lançado neste mês de maio, nas cidades de Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e João Pessoa (PB), tendo ainda sessão de autógrafos agendada na programação da Semana Cultural José Lins do Rêgo, no Espaço Cultural, em João Pessoa.

“São poemas que escrevi de novembro de 2007 para cá, desde que publiquei meu penúltimo livro, Texto Sentido”, explica o poeta. “Não posso dizer que tenho escrito livros. Na verdade, tenho cinco publicações de poemas, mas a sensação é que venho escrevendo um único livro desde sempre, com abordagens e influências das mais diversas”, conclui Lau Siqueira.

O livro Poesia Sem Pele é o segundo da coleção Cidade Poema, projeto idealizado e executado pela escritora gaúcha Laís Chaffe e que visa levar a poesia gaúcha ao grande público através dos mais diversos suportes, seja out-door, bus-door, adesivos em vitrines de livrarias, bolachas de chopp, etc.

Segundo a prefaciadora da obra, Susanna Busato, “a poesia de Lau é assim: lâmina de folha a cortar na palavra sua presença aguda de existência volátil: um ponto google, o cerne de um palimpsesto de descobertas no corpo do poema.”

Radicado em João Pessoa há mais de 20 anos, Lau Siqueira é autor das seguintes coletâneas de poemas: O Comício das Veias (Idéia, 1993), O Guardador de Sorrisos (Trema, 1998), Sem Meias Palavras (Idéia, 2002) e Texto Sentido (Bagaço, 2007). Ex- Diretor da FUNJOPE - Fundação Cultural de João Pessoa, atualmente exerce o cargo de Secretario de Desenvolvimento Social da Prefeitura de João Pessoa. Vários dos seus poemas estão publicados nos principais sites e blogs de literatura do país. O autor ainda edita o blog: http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/

Além do lançamento do livro (que custará 10 reais), haverá um Sarau com o público presente. A apresentação da obra ficará a cargo dos poetas Jairo Cézar e Bruno Gaudêncio, membros do grupo literário Caixa Baixa. O lançamento na “Rainha da Borborema” é uma promoção do Núcleo Literário Blecaute e da Revista Blecaute, constituídos pelos escritores Bruno Gaudêncio, Jãn Macêdo e João Matias de Oliveira.

POESIA SIM - www.poesia-sim-poesia.blogspot.com
PELE SEM PELE - www.lau-siqueira.blogspot.com
“Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz”.
(Roland Barthes)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

CAIXA BAIXA na tv


Matéria exibida no Bom Dia Paraíba da Tv Cabo Branco, afiliada da Rede Globo, no dia 26 de maio de 2011.

Bráulio Tavares lança “A nuvem de hoje”, em Zarinha


O livro é uma coletânea dos artigos que BRÁULIO TAVARES publica diariamente no "Jornal da Paraíba", e que são automaticamente republicados no seu Blog Mundo Fantasmo.  É uma coluna sobre Cultura, mas de temática livre, e os assuntos mais frequentes são literatura, música e cinema, mas o autor também escreve sobre poesia popular, ficção científica, futebol, política, comportamento, ciência e temas variados.

BRAULIO TAVARES é escritor e compositor, nascido em Campina Grande, residente no Rio de Janeiro desde 1982.  Tem mais de 20 livros publicados (entre poesia, conto, romance e ensaio), é parceiro musical de Lenine e Antonio Nóbrega.  Já ganhou o Prêmio Shell de teatro, e os prêmios Jabuti e APCA de  literatura infantil.       

Data: 26 de maio, quinta-feira
Horário: 19h30min
Local: Livraria Esquina das Letras
ENTRADA FRANCA
 

I Sarau do CAIXA BAIXA foi escatológico, digo antológico


O cenário estava lindo, poesia e contos pendurados por todo lado, projetor exibindo as fotos dos membros do CAIXA BAIXA, cachaça, petiscos e duas privadas que davam o tom de liberdade que só o banheiro nos proporciona.

Foi nesse clima de descontração e informalidade que se deu a Estação Poética de ontem. Félix Maranganha, Joedson Adriano, Cyelle Carmem, Jô Mendonça, Guga Limeira, Roberto Denser, Thiago Lia Fook, Wander Shirukaya e Jairo Cézar(eu) representaram  o grupo nas declamações.

Os integrantes que não puderam comparecer foram lembrados e lidos.

Como ativista cultural, fico muito feliz de saber que há uma preocupação  por parte da prefeitura de João Pessoa em potencializar uma estrutura física tão majestosa como a Estação Ciência, com eventos artísticos tão bem organizados.

No mais, é agradecer a direção da casa pelo convite, agradecer de forma muito especial a Lúcia França, Amanda, Denise, Rivaldo e toda a equipe da Estação, ao poeta Lau Siqueira por ter nos indicado para participar da festa e ao público presente.

Dia 15 de junho tem mais, outros poetas serão homenageados e nós estaremos lá prestigiando.

Em tempo: Foi veiculado em diversos meios de comunicação ontem, que o CAIXA BAIXA era um grupo de poetas. Devo dizer, que somos um grupo de escritores, não apenas de poetas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Curtas

Lau na semana José Lins do Rego

No próximo dia 2 de junho, quinta-feira, às 19h, estarei realizando noite de autógrafos do livro Poesia Sem Pele, na Semana José Lins do Rego, no Espaço Cultural. Ficaria feliz com sua presença. Há braços!

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E a polêmica continua

O deputado Átila Nunes apresentou projeto de lei que proibe no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a distribuição na rede de ensino pública e particular de livros que contrariem a norma culta da Lingua Portuguesa.

O projeto, segundo o parlamentar, foi elaborado em razão da chancela pelo Ministerio da Educação do livro "Por uma vida melhor", de autoria de Heloisa Ramos, que defende a utilização de frases com erro de concordancia, como por exemplo, "Os livro emprestado estão emprestado", " Nós pega o peixe"

Átila Nunes acrescenta ainda no elenco de restrições, livros que apresentem conteúdo com elevado teor sexual, com descrição de atos obscenos, erotismo e referências a incestos ou incentivos, diretos ou indiretos, à prática de atos criminosos.

Heloisa Ramos, a autora do livro, com aval do Ministério da Educação, justifica a forma de falar popular como opção norma culta do português. Para o deputado Átila Nunes, o Ministério da Educação dá o aval oficial para que crianças – e até mesmo adultos – cultivem seus erros. "As consequências são previsíveis, com a formação de gerações sem a menor chance de competição no mercado de trabalho, que privilegia os que falam e escrevem corretamente"- diz Átila Nunes.
"O Ministério da Educação agiu demagogicamente, ao argumentar que os que dizem ‘os livro’ correm o risco de serem vítimas de preconceito linguístico. Qual será o próximo passo? Ensinar tabuada errada? " – pergunta o deputado.
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Roda de leitura com os pequenos
Em Outubro, participo de uma roda de Leitura com crianças na Estação Cabo Branco. Meu livro infantil já nasceu me dando alegrias.


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Convite Especial



Babilak Bah veio à Paraiba dar oficina na Semana de Luta Antimanicomial, no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira e nesta quinta-feira, dia 26, às 20h estará lançando seu livro Corpo Letrado. Logo após, um show com Babilak Bah, Escurinho e usiários do Juliano Moreira. Tudo no Espaço Mundo, Praça antenor Navarro, Centro Histórico, João Pessoa-PB. Bóra?

Grupo Caixa Baixa é atração do Estação Poética nesta quarta-feira



O grupo Caixa Baixa é atração do projeto Estação Poética nesta quarta-feira (25), às 19h, no Salão Panorâmico da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, no Altiplano. O grupo participa da atividade Varal Poético, uma das ações do projeto.

No local acontecem ainda a abertura da exposição Poesia Privada e o lançamento respectivo dos livros: “Cheiro de Nova Estação” (Gustavo Limeira), “Escritos no ônibus” (Jairo Cézar), “O ofício de engordar as sombras” (Bruno Gaudêncio), “Luzes de Labirinto” (Cyelle Carmem), “Belezas da Paraíba” (Jô Mendonça), e “Ode aos Deuses e Ode aos Homens” (Joedson Adriano). A entrada para o evento é gratuita.

O Caixa Baixa é um coletivo de escritores, naturais ou residentes na Paraíba, que nasceu com o objetivo de criar espaços alternativo para poesia, bem como a troca de experiência entre escritores. Fazem parte do Caixa Baixa os escritores Anna Apolinário, Beto Menezes, Bruno Gaudêncio, Bruno R.Santos, Cyelle Carmem, Félix Maranganha, Gustavo Limeira, Jairo Cézar, Jã Macêdo, João Matias, Joedson Adriano, Jô Mendonça, Laudelino Menezes, Mirtes Waleska, Raonix, Roberto Denser, Thiago Lia Fook e Wander Shirukaya.

O poeta Lau Siqueira será o convidado especial desta apresentação. Lau é natural do Rio Grande do Sul, mas reside em João Pessoa há mais de 20 anos. Publicou três livros: ‘O Comício das Veias’ (Paraíba: Editora Idéia, 1993), ‘O Guardador de Sorrisos’ (Paraíba: Editora Trema, 1998) e ‘Sem Meias Palavras’ (Paraíba: Editora Idéia, 2002). Tem poemas publicados nas últimas edições do ‘Livro da Tribo’ (São Paulo: Editora Tribo) e na antologia ‘Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil’ (São Paulo: Editora Landy, 2002), organizada pelos poetas Frederico Barbosa e Cláudio Daniel. É o criador do blog “Poesia Sim”, bastante visitado na internet.

Projeto Estação Poética – O projeto é uma das ações desenvolvidas pela Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes. Ele tem o objetivo de estimular a prática da recitação de poesias e poemas, através da realização de saraus, lançamentos de livros e outras ações ligadas à literatura. O Estação Poética tem como público principal estudantes do ensino público e privado.

A atividade tem início com um bate-papo descontraído através de leitura, recitação, exposição de textos literários em varais, com a participação especial de poetas, escritores e convidados.

Serviço:
Estação Poética
Dia: Quarta-feira (25)
Hora: 19h
Local: Salão Panorâmico, no segundo pavimento da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, no Altiplano
Informações: 3214.8303/8270
Contato para imprensa:
Wetervan Fernandes – chefe do setor de Gestão Educacional
Fone: 8891.3032 – 8737.1808 – 9614.6746.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Do Literatas

Jorge de Oliveira – O País
 

"...é a beleza da literatura pela pena de quem escreve doce, acertado, inventado, coerente e fácil"

1. O mais lido dos escritores moçambicanos, seguindo a linha que lhe é peculiar, trouxe a público mais um romance, desta feita carregado de muita história de Moçambique, diria, mais ligado a épocas remotas, contornando a guerra dos 16 anos que costuma ser a sua linha. Este outro pé, é um belo romance de amor, de um amor que não interessa se é lindo ou não, proibido ou não, velho, novo, de perto ou de longe, é a beleza da literatura pela pena de quem escreve doce, acertado, inventado, coerente e fácil.

2. Expressões que alimentam a arte fazem a escrita deslizar e embalar a leitura, suportam o livro: “Temos que desenterrar essa estrela decadente”, “Eu durmo sozinho. Mais do que sozinho, eu durmo com a minha esposa”, “você está em fase de nua cheia”. “Sabe como eu me chamo nestes ultimamentes?”.

3. Temos que ter orgulho de ter um artista assim, que constrói a nossa nação desconstruindo-a, que, a dado passo de leitura, nos leva à parede e nos encosta, e nos aperta o pescoço com uma interrogação, como é possível escrever tão belo assim? É um dos nossos moçambicanos que escreve assim? É um dos nossos moçambicanos que domina a escrita deste modo? E repelimos a tentação de dizer ou acreditar que esse pode ser um cidadão do mundo, não, esse é de Moçambique, ninguém o pode reivindicar, é beirense, por isso faz uma leitura reaccionária, destrata as mesmices, abana as regras, as palavras, chama-nos ao texto como uma onda traiçoeira, arrasta um pescador para o fundo do mar.

4. “Os espíritos não vêm de nenhum lugar. São como a água: estão dentro de nós, “Nascemos e choramos. A nossa língua materna não é a palavra. O choro é o nosso primeiro idioma”, “Escreva na terra, filha. A terra é a página onde Deus lê”, “O goês dizia a verdade. Nos últimos meses ele e a esposa já não davam asas aos lençóis”, “sobre o balcão da estação de correios amanheceu um enigmático pedaço de papel”.

5. Quem pode dizer mais novidades sobre o que escreve um autor que escreve sempre novas coisas de forma diferente? É uma obra de ditados, máximas, frases não feitas, mas criadas em função da situação concreta da narrativa, o que é sempre um prazer de ler, até como válvula de escape aos clichés que nos assolam, pela esquerda e pela direita, sem resultados visíveis.

6. “A saudade é a única dor que me faz esquecer as outras dores”, “tenho saudade do moço, nunca dizia nada e, assim, tinha sempre razão”, “A estrada de areia é um rio seco: perdeu as margens e desagua no seu próprio leito”, “Você me desculpe, mano, mas o seu problema é que pensa tão devagar que as ideias só lhe chegam quando você está a dormir”.

7. A criatividade é tão sublime que, às vezes, pensamos, este tipo não tirou isto de algum sítio? Afinal, aprendendo pela sua própria narrativa, vê-se que tirou isso de todos e nenhuns sítios.

8. “Tinha presos aos lábios os detritos todos do planeta. Mas essa sujidade nocturna é que a ensinava: tudo, neste mundo, é humano. O rio tem ancas de mulher, a árvore tem dedos para acariciar o vento, o capim ondeia soprado por antigas vozes”.

9. A viagem pela história de Moçambique que o texto realiza confunde-se com uma viagem, pela magia das artes e letras, tão intensa, agradável, instrutiva, que o imaginário moçambicano fica mais rico; apesar de ele ir buscar a vivência na sua terra não é esta que enriquece a escrita dele, mas ele que faz de nós mais completos.

Fonte: http://revistaliteratas.blogspot.com/2011/05/o-outro-pe-da-sereia.html

Poema de Vanildo Brito



7
 A Raça-Mãe e suas geometrias

já sepultas estão. Porto sem caís,
o Planeta contempla as suas luas
sulcando o sulco amargo dos canais.

A Raça-Mãe rumina o seu degredo.
Aquém no tempo, naves ancoradas —
Syrtis Major, Calixto, Ganimedes —
ó memória nas rotas orbitada!

Agora a Raça-Mãe ante os humanos:
o milenar e repetido encontro.
Há um gosto de tempo e olhos bebendo
o céu violeta, os gelos e as montanhas.

Como cinza estrelar na imensa tarde
a morte em Marte seus desertos arde.


De A Construção dos Mitos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Maria Bethânia recita Eros e Psique de Fernando Pessoa

Carlos Aranha fala de “O ofício de engordar as sombras”

Essas Coisas
CARLOS ARANHA

Domingo, 22 de Maio de 2011 - 06h00
Do "Correio da Paraíba"

BRUNO LANÇA SEU "OFÍCIO"
(para engordar as sombras)

Quando recebi  - e deixei passar um período necessário  para a leitura atenta numa noite - “O ofício de engordar as sombras”, de Bruno Gaudêncio, já senti-me desafiado pelo título provocativo e pelo desenho de Jorge Elô na capa do livro editado pela Sal da Terra.

Até então tinha informações sobre as atividades de Bruno Gaudêncio como jornalista, historiador, criador da revista “Blecaute” e inquieto ativista cultural na Serra da Borborema (aliás, Campina Grande tem uma sólida história em seus “approachs”, “insights” e consolidações culturais na literatura, no teatro, no cinema, na música, nas artes plásticas).

Não o conhecia como poeta, a não ser em colaborações esparsas em blogs e publicações impressas. Assim, fui “instigado” (como dizem as tribos pós-tropicalistas e pós-quasetudo) pelo irresistível título “O ofício de engordar as sombras” a ler atentamente os 39 poemas do livro de Bruno Gaudêncio.

Faço questão de dizer que cultivo e respeito as línguas (portuguesa, francesa, inglesa, espanhola, etc.), mas não dou grande importância aos linguistas, principalmente os profissionais. Prefiro o diálogo com os críticos literários, pois são mais afeitos aos livres  conceitos sem que abdiquem das exigências gramaticais. Por isso, amo uma longa e produtiva conversa com Hildeberto Barbosa Filho sobre os roteiros, vias, percalços e êxitos da literatura. Entretanto, não sou crítico literário. Sou um poeta e um cronista da cultura, olhando para o novo com meu velho sentir e para o velho com meu novo refletir. Assim, li o belo trabalho de Bruno Gaudêncio sem conceitos previamente formados, pois sempre estive na linha do “Zen is when”.

Gostei da divisão conceitual de Bruno Gaudêncio em duas partes para seu livro: “Diário das sombras severas” e “As cores do invisível”.

O poema-título do livro é um perfeito toque para tudo o que o poeta derramará até 67 páginas: “desmentindo seu próprio segredo / a alma carrega sempre / o ofício de engordar as sombras, / de retornar as coisas / da infância tangível, / em um límpido silêncio / de água que flui / na nudez / pura da morte”. Logo a seguir, para despir uma de suas influências (Augusto dos Anjos), Bruno ousa - com vigor e êxito - concretizar um poema com o título “Versos íntimos”: “Eu / cheio de ossos e intenções / perturbo / com meus versos curtos / e dedos longos / o sentido das trevas que me pertencem”.

Bruno Gaudêncio pratica também a concisão para não tornar redudante uma imagem poética fortíssima: “Fiz sexo com as paredes / e minhas mãos gozaram / sangue...”

Termina o livro com o jeito de quem sabe colocar com profundidade a filosofia na poesia: “Fui um perfeito imperfeito. / Fui um perfeito imprestável. / Não amei, nem odiei ninguém. / No máximo, gostei de alguns, / e fui absolutamente indiferente / à maioria”.

Por não ser crítico literário, não ouso (ainda) dizer que Bruno Gaudêncio é um grande poeta. Mas, com minha intuição poética, pressinto que será reconhecido, em sua “long and winding road”, como um um importante poeta.
Recomendo a aquisição e a leitura de “O ofício de engordar as sombras”. O contato com o autor por email é gaudencio_bruno@yahoo.com.br  

DELE, SOLTAS PALAVRAS

@ Se não fosse poeta, gostaria de ser ‘fazendeiro’ como Nassar, ou ‘traficante de armas’, como Rimbaud.

@ Minha primeira vez foi algo dantesco. Foi com uma bela balzaquiana fã do Cortazar.

@ No momento, meu mestre espiritual é Paul Bowles.

@No final do arco-íris existe no máximo uma parada gay.

@Cartola substitui muito bem Chico Xavier e Chico Buarque.

@O que é colocar o membro ereto, sendo o membro ereto a obra análoga da carne?