sexta-feira, 29 de março de 2013

Curtas


Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura

Reunindo autores de diversos países de língua portuguesa, O Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon tem Inscrições abertas até o dia 17 de junho. A iniciativa pretende eleger o melhor romance em língua portuguesa publicado nos últimos dois anos, no período entre junho de 2011 e 31 de maio de 2013. Para mais informações, acesse www.jornadasliterarias.upf.br.

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Bibliotecas alagoanas renovam seu acervo

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) recebeu dez mil livros do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNPB). O material, que veio do acervo da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), é resultado de trabalhos contemplados pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e está sendo distribuído em todos os estados. O acervo é composto por revistas e livros de cultura e várias áreas do conhecimento, que chegará às bibliotecas públicas e comunitárias que ainda não foram contemplados com os programas da FBN. Saiba mais no site da Secretaria de Cultura do Estado: www.cultura.al.gov.br 


Literatura das mulheres negras é tema de oficin gratuita

A sede do Afoxé Filhas de Gandhy foi palco da oficina Literatura Feminina Negra, entre os dias 25 e 26 de março, de 17 às 21h. Ministrada pela poetisa Jocelia Fonseca, a iniciativa é voltada para mulheres de todas as cores e idades, com acesso gratuito. As aulas fizeram parte das atividades do Projeto Vozes de Mulher, realizado pelo Afoxé Filhas de Gandhy em parceria com os grupos Amuleto e Lilás, com patrocínio da Secretaria de Política para Mulheres da Bahia. Mais informações, pelos telefones: (71) 8634-4972 / (71) 9181-6134.

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Concurso literário resgata obra de Josué Montello

Com o objetivo de divulgar a obra romanesca de Josué Montello e estimular o desenvolvimento da capacidade de expressão escrita dos jovens maranhenses, a Casa de Cultura Josué Montello lança o seu II Concurso Literário, sob o tema “Leitura da Obra Romanesca Montelliana”. Voltada ao público estudantil, a iniciativa terá inscrições abertas de 01 a 30 de abril, nas secretarias das escolas que irão participar. A modalidade de Redação é destinada a estudantes de Ensino Médio das escolas da rede pública e particular de São Luís. Saiba mais no site da Secretaria de Cultura do Estado: www.cultura.ma.gov.br



quinta-feira, 28 de março de 2013

Mifô no ônibus

Golpe de Estado

Hoje, cativo e sem perspectiva de soltura,
o poeta escreve com pedaços de telha
a sua autobiografia.
A parede é pouca e portanto é preciso
economizar sentenças. Eis porque
o poeta escreve em versos curtos:

Quem diria num pacato janeiro de chuva
meu coração ditador seria deposto.
Bem feito!, dou-lhe uns esporros.
Coração de esquerda que se preze
não pode vacilar no seu posto
nem cochilar os coturnos no seio
da pátria.

Do contrário, surge das cortinas
desfraldadas da madrugada
uma extrema-direita irresistível
com seus olhos castanhos sutilmente vesgos
tramando celulites à mostra
num decote generoso
de batom caqui e esmalte vermelho
para cravar um McDonald’s
bem no meio da sua Cuba.


do blog http://luisfernandomifo.blogspot.com.br/

quarta-feira, 27 de março de 2013

LIVRO -BRINQUEDO: UMA CATEGORIA EM ASCENSÃO


            Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB
           
            O livro-brinquedo é um suporte que atrai a atenção das crianças pelo seu formato diferenciado, características ornamentais e apelos sensoriais.
            (Ana Paula Paiva e Amanda Carla M. Carvalho. Livro-brinquedo, muito prazer).
           
            Renata Junqueira de Souza e Berta Lúcia Tagliari Feba organizaram o livro “Leitura literária na escola: reflexões e propostas na perspectiva do letramento” (Ed. Mercado das Letras, 2012), incluindo  textos de especialistas na área da literatura para crianças e destaque para as criações recentes que valorizam as histórias em quadrinhos, os livros de imagens, as narrativas curtas e os livros-brinquedo.
           
            O 1º. capítulo é dedicado a essa crescente modalidade infantil – o livro-brinquedo. Com o título “Livro-brinquedo, muito prazer”, as professoras Ana Paula e Amanda Carla analisam aspectos pertinentes a esta nova vertente  literária que alia as palavras às cores, formas, dobraduras, movimentos, jogos, surpresas.
            
                As autoras afirmam que o livro-brinquedo, enquanto denominação específica, ainda é pouco conhecido. No Brasil, o termo passou a figurar nas capas de livros infantis como chamada entre os anos de 2009 e 2010. Foi por esse período que passou a integrar a categoria “livro-brinquedo” na seleção da FNLIJ. Lembramos, no entanto,  que a escritora Ísis Valéria ( anos 1980) já produzia livros de panos para crianças enquadrados nessa categoria. Se pensarmos em tempos mais antigos, vamos encontrar os álbuns ilustrados que encantavam as crianças.  Não tínhamos os recursos modernos da  ilustração, os  ricos projetos editoriais,  mas era um deleite olhar esses álbuns.  
            
               O livro-brinquedo é um livro “pop-up”, isto é, um livro que salta para fora do livro, que cria janelas inesperadas. Os franceses denominam de “livre jeu” a esta modalidade literária que apresenta características bem lúdicas. A novidade do projeto gráfico e a diagramação despertam o interesse sensorial das crianças e aguça sua curiosidade.
           
           Podemos identificar o livro-brinquedo pela presença de algumas características e destacamos: a) transgressão de padrão do livro tradicional; b) ludicidade; c) possibilidade de manuseio e montagem; d) estímulo ao jogo; e) surpresa visual.
            
               Em 2012, dois livros nos chamaram a atenção por reunir essas características e pelo instigante convite à interação com o leitor. São eles: “Cadê o capitão Sardinha?” (Ed. Globo) e “Kokeskis” (Ed. Salamandra).
           
          “Cadê o capitão Sardinha” foi escrito e ilustrado por Maté e dá oportunidade ao pequeno leitor de brincar de esconde-esconde. Maté é escritora e ilustradora francesa, radicada no Brasil e autora de vários livros que receberam o  selo Altamente Recomendável da FNLIJ.

   A história se passa em um antigo casarão que mais parece um barco. Os personagens Tita, Beto e o gato Miado se divertem procurando o vovô Sardinha pelos cômodos da casa. Onde se escondeu o vovô Sardinha? Não sabemos. Ele gosta de   lugares inusitados – dentro da geladeira?   No baú de tampa de couro? Tudo é possível.  
           
            No jogo de esconde-esconde, abas cobrem ilustrações que quando desveladas reservam surpresas. A criança manuseia o livro e parece que não vai encontrar o capitão Sardinha. Mais uma vez, vem a pergunta:  Onde está escondido esse velhinho peralta? Surpresas e mais surpresas aguardam o ansioso leitor.
            
                 Além do lúdico que passeia nas páginas desse livro, o pequeno leitor se delicia, no primeiro contato, com a sugestiva capa – um turbante de pirata e um tampão preto no olho do pirata. E surge  a dúvida: será que o capitão Sardinha é um pirata?
           
               “Kokeskis”, que em japonês significa boneca, é um livro com formato distinto – dentro de uma boneca/caixa aparece o livro “O segredo de Mitsuko”, conto de inspiração japonesa, recontado por Brigitte Delpech e ilustrado por Corinne Demuyunck; um móbile com desenho colorido  de uma boneca japonesa para pendurar no carrinho de bebê ou em outro local escolhido pela criança; um caderno de desenhos com quatro lindas kokeshis para a criança pintar. (Os desenhos são em preto e branco); várias folhas de papel colorido para origami. Acompanhando as folhas coloridas de origami vem um livrinho contendo todas as explicações necessárias para a confecção de origamis, um trabalho artesanal de origem japonesa.      
          
                “O segredo de Mitsuko”, conto tradicional no Japão, traz uma bonita história de amor que envolve uma moça tecedeira de quimonos de seda para noivas e o filho de um rico vendedor de chás. Mitsuko, a jovem tecelã, apaixonou-se pelo jovem Jiro-san, mas  entre eles havia uma grande  distância social. Jiro-san era rico, filho de um pai poderoso e Mitsuko era uma pobre moça que morava com o avô, bordava  quimonos de noivas, fazia pipas para crianças e trabalhos em origami. Um dia Jiro-san adoeceu e  Mitsuko, com a ajuda do avô,  produziu sete lindas “kokeskis” e  ofereceu ao   rapaz com a finalidade de curá-lo.  Ao ver os lindos presentes, vindos daquela que tinha mãos de fada, Jiro-san recuperou a saúde. O resto da história  não precisamos recontá-la. 
            
            Esses dois livros se enquadram na categoria “livro-brinquedo” e possibilitam  manuseio e montagem (confecção de origamis), fogem do padrão tradicional (livro em formato de boneca) – “Kokeskis”  e propicia o jogo do esconde-esconde – “Cadê o capitão Sardinha? “

           

terça-feira, 26 de março de 2013

A arte de ganhar a vida




Dificuldades dos artistas independentes ou autônomos em viverem exclusivamente daquilo que mais gostam de fazer: a arte.  A matéria de Renata Escarião  foi publicada no dia 17 de março de 2013. Confira a matéria na íntegra  aqui

segunda-feira, 25 de março de 2013

Divulgada lista dos escritores brasileiros que vão representar o país na Feira do Livro de Frankfurt




A Fundação Biblioteca Nacional divulgou a lista de escritores escolhidos para representar a literatura brasileira na Feira de Frankfurt, reconhecida como um importante evento do mercado literário internacional. A seleção foi realizada por uma curadoria compartilhada  entre o crítico literário Manuel da Costa Pinto, Antônio Martinelli (SESC SP) e Antonieta Cunha (diretora de Livro, Leitura e Literatura da Fundação Biblioteca Nacional), e conta com autores de diversas regiões do país.Saiba mais no site do MinC:  www.cultura.gov.br



sexta-feira, 22 de março de 2013

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia mundial da poesia

Hoje é dia de Lau Siqueira, meu dia, dia mundial da poesia e dia de Bach.

ALHOS COM BAGULHOS

a tristeza é um pássaro 
pousado no ombro 
do espantalho 

matando a sede no orvalho
e recolhendo a fome 
da semente

toda tristeza passa
e os pássaros que não param
diante do espantalho

devoram tudo menos

o toque com palhas do mesmo
espantalho no bico do pássaro
recolhendo um canto

que antes de ser triste
me parece belo


Lau

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Êxodo

A brisa lava a noite
Com o cheiro leve da cana.
Tenho espasmos de passado
E a doce impressão
De exílio.


poema que fiz para minha cidade, Sapé.

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Dia Mundial da Poesia celebra-se a 21 de março, foi criado na XXX Conferência Geral da UNESCO em 16 de Novembro de 1999.[1] O propósito deste dia é promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia através do mundo. fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Poesia

quarta-feira, 20 de março de 2013

BRUNO GAUDÊNCIO LANÇA O SEU “ACASO CAOS”



No próximo dia 22 de Março (sexta-feira), às 19h30 minutos, no auditório da Secretaria de Cultura de Campina Grande, localizado ao lado do Terminal de Integração (Antigo Museu Assis Chateaubriand), o escritor campinense Bruno Gaudêncio lança o seu segundo livro de poemas, intitulado acaso caos (Editora Ideia, 93 páginas, 15 reais). O livro é composto por 43 poemas produzidos entre os anos de 2010 e 2012. Boa parte deles publicados em amostras, coletâneas, blogs, sites e revistas culturais do Brasil e do exterior.  

O livro é dividido em duas partes: ruídos do efêmero e elementos do acaso, e representa segundo Bruno Gaudêncio uma tentativa de maturidade poética em relação seu livro de poemas anterior: O Ofício de Engordar as Sombras, publicado em 2009.“Acredito que acaso caos é uma coletânea de poemas mais consistente, mais preocupada com a linguagem e o fazer poético”. O poeta campinense ainda afirmou que realizou algumas homenagens nas páginas do seu livro, dedicando poemas há amigos, a exemplo de José Inácio Vieira de Melo, Fidélia Cassandra e Mirtes Waleska, bem como a cidade de Campina Grande, onde nasceu e reside.

Acaso caos tem capa e ilustrações do artista plástico campinense Flaw Mendes, que se utilizou da técnica da “chamuscagem”, que consiste em impregnar no papel a memória das chamas, ou seja, marcar com fuligem e cinzas o suporte.  A obra foi prefaciada pelo poeta, músico e tradutor paraibano radicado em São Paulo Luis Avelima. Além disso, a produção poética conta com texto da orelha composto pelo poeta carioca Sérgio Bernardo e posfácio elaborado pelo poeta e crítico literário paraibano Weslley Barbosa.

Durante o lançamento do livro haverá apresentações musicais e teatrais de artistas amigos do autor. Felipe Dayvson, jovem músico campinense, realizará com seu violão uma incursão entre o erudito e o popular na música brasileira. Já os atores campinensesCris Leandro, Marcos Moraes e Samantha Pimentel realizarão uma espécie de “poesia encenada”, com a leitura e a declamação de alguns poemas contidos no novo livro de Bruno Gaudêncio.

Além de Campina Grande, a previsão é que o livro acaso caos seja lançado também em diversas cidades paraibanas, a exemplo de João Pessoa, Sousa, Sapé, Guarabira e Boqueirão, durante todo o ano de 2013.

O evento de lançamento em Campina Grande será gratuito. É uma promoção doNúcleo Literário Blecaute, de Campina Grande, formado pelos escritores Bruno Gaudêncio, João Matias de Oliveira, Janaílson Macêdo e Flaw Mendes, responsáveis pela Revista Blecaute. O grupo vem se destacando dentro do cenário literário paraibano contemporâneo, com publicações e eventos realizados.


O POETA
 
Bruno Gaudêncio, 27 anos, é escritor, jornalista e historiador, natural de Campina Grande, Paraíba. Iniciou a carreira publicando em 2009 a coletânea de poemas O Ofício de Engordar as Sombras (Sal da Terra). Dois anos depois, em 2011, estreou na ficção, com a coletânea de contos Cântico Voraz do Precipício (Editora Via Litterarum).  
Nos últimos cinco anos Bruno Gaudêncio publicou poemas em diversas revistas e sites culturais, com destaque para a Correio das Artes (Paraíba), Verbo 21 (Bahia), Diversos Afins (Bahia), Palavrarte (Rio de Janeiro), Bar do Escritor (Distrito Federal), Revista Macondo (São Paulo), Revista Literatas (Moçambique), Orizont Literar Contemporan (Romênia) e Samizdat (Portugal).
O autor é mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e graduado em Jornalismo e História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Atualmente é coeditor da Revista Blecaute, de Literatura e Artes, Membro do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Paraíba, Professor de História da Rede Pública Estadual de Educação da Paraíba e Consultor de projetos de Memória Institucional, em Campina Grande.  
Ano passado, graças a sua atuação literária e ligação com a memória e a história de Campina Grande, foi escolhido pelo site Grande Campina como sendo uma das cem personalidades mais importantes de Campina Grande em 2012.

O ILUSTRADOR
 
Flaw Mendes é artista plástico, ilustrador e poeta. Natural de Campina Grande é formado em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Especialista em Artes Visuais – pelo SENAC-PB. Estudou desenho e pintura na Escola de Arte Visuais Arimarques Gonçalves, onde posteriormente trabalhou ensinando a alunos novatos. Atualmente é editor visual da Revista Literária Blecaute, de Literatura e Artes.
 
 
com Bruno Gaudêncio

Escritor, Jornalista e Historiador
Telefones: (83) 8844 9131  e (83) 9669 5987

terça-feira, 19 de março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

'Há razões para ignorar a literatura infantil', diz escritor espanhol

Aryane Cararo, de O Estado de S. Paulo
BOGOTÁ - A literatura infantil é uma literatura de segunda classe? A pergunta por si só já soa polêmica, mas a resposta do escritor espanhol Gonzalo Moure pôs fogo nesta discussão nesta quinta-feira, 7, durante o 2.º Congresso Iberoamericano de Língua e Literatura Infantojuvenil (Cilelij), realizado pela Fundação SM na Colômbia até sábado, 9. “Há, de fato, razões para ignorá-la ou marginalizá-la. Eles têm razão para não nos enxergar, pelas nossas próprias limitações. Somos como pássaros dentro de gaiolas.” E as grades são a concepção de que um livro infantil tem de servir para educar, para formar, para prevenir. Elas fizeram com que a literatura infantojuvenil, segundo ele, não progredisse nos últimos dez anos.
 - Carlos Briñez/Divulgação

Carlos Briñez/Divulgação
Para Moure, há dois tipos de escritores hoje: os que escrevem com mais vontade de ensinar e os que querem fazer literatura. Ainda assim, entre esses dois há muita intenção moralizante, quando não função pedagógica. O que está acontecendo, segundo o escritor, é que não há uma preocupação em formar “pessoinhas”, mas, sim, de formá-las à nossa maneira. E, assim, “não estamos sendo sinceros com elas”, defende Moure.
“Na vida cotidiana, poucas vezes somos capazes de nos dirigir às crianças de forma horizontal sem tentar ensinar. A literatura infantil não é infantil nunca e a juvenil poucas vezes é juvenil. São os adultos, possuidores de valores humanos e humanísticos firmes, que escrevem para eles e este “para” é o pecado original da literatura infantojuvenil.” Isso se reflete em obras literárias de cunho pedagógico, com livros destinados à prevenção e que não abordam assuntos considerados tabus, como sexo e religião.
“O editor, disfarçadamente ou conscientemente, publica livros que tenham essa qualidade. E o escritor se submete a essa exigência.” É isso o que faz com que a literatura infantojuvenil seja vista ou classificada como um subgênero literário, explica ele. Segundo Moure, o mundo é ainda muito polarizado nos livros para crianças e jovens, o bem versus o mal está sempre presente nesse tipo de escrita. “Se ela não se desprender do maniqueísmo imperante, será sempre um subgênero.”
Outro problema apontado por ele é que, nas últimas três décadas, houve e ainda há uma tendência realista predominante na literatura infantojuvenil. “Isso não tem de ser a única oferta para as crianças. Sinto que nós, escritores, estamos estancados. Não progredimos na última década.” Para ele, os textos literários ficaram todos muito iguais, na forma de abordagem e nos assuntos. “Precisamos de algum ponto de ruptura”, continua. E este ponto passa, segundo ele, pela entrada de novos autores no circuito editorial. “Quero ver vozes novas que não repetem o que já foi escrito, o que minha geração já fez. Quero encontrar algo que me surpreenda, que escandalize. E isso não tem nada a ver com sexo.”
O que seria, então, a verdadeira literatura? “A verdadeira literatura não responde a nada nem a ninguém. Ela recria o mundo sem se importar se o resultado final é correto ou incorreto.” Moure deixa claro que não há receitas ou fórmulas, apenas acredita que a literatura infantojuvenil não deva ter nenhuma obrigação, como qualquer outro gênero literário. Ela tem de ter apenas qualidade e liberdade. Ele diz, por exemplo, que não pede nada da literatura, só que ela o agrade, que o emocione. “Devemos ensinar a perguntar e não ensinar o que já sabemos. A revolução na educação e na literatura vai se dar por aí.”
* A jornalista viajou a convite de Edições SM Brasil

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pesquisas mostram que quanto mais cedo se começa ler maiores são chances de se tornar um leitor assíduo


Foto: Marcella Briotto
Foto: livros



Pesquisas do mundo todo mostram que a criança que lê e tem contato com a literatura desde cedo, principalmente se for com o acompanhamento dos pais, é beneficiada em diversos sentidos: ela aprende melhor, pronuncia melhor as palavras e se comunica melhor de forma geral. "Por meio da leitura, a criança desenvolve a criatividade, a imaginação e adquire cultura, conhecimentos e valores", diz Márcia Tim, professora de literatura do Colégio Augusto Laranja, de São Paulo (SP). 



A leitura frequente ajuda a criar familiaridade com o mundo da escrita. A proximidade com o mundo da escrita, por sua vez, facilita a alfabetização e ajuda em todas as disciplinas, já que o principal suporte para o aprendizado na escola é o livro didático. Ler também é importante porque ajuda a fixar a grafia correta das palavras. 



Quem é acostumado à leitura desde bebezinho se torna muito mais preparado para os estudos, para o trabalho e para a vida. Isso quer dizer que o contato com os livros pode mudar o futuro dos seus filhos. Parece exagero? Nos Estados Unidos, por exemplo, a Fundação Nacional de Leitura Infantil (National Children's Reading Foundation) garante que, para a criança de 0 a 5 anos, cada ano ouvindo historinhas e folheando livros equivale a 50 mil dólares a mais na sua futura renda. 




quinta-feira, 14 de março de 2013

curtas no ônibus







Como os amigos mais próximos já sabem, estou me dedicando mais à literatura infantil. O carinho que tenho recebido com o Rapunzel e outros poemas da infância é indescritível. Crianças, crianças grandes e, sobretudo, os pais dos pequenos têm me contado histórias incríveis sobre o contato com o livro. O trabalho de incentivo à leitura nas escolas de educação básica também tem me arremessado para essa área. Pois bem, virei sócio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura infantil e juvenil. Minha página já está disponível no link http://www.aeilij.org.br/home/detalhe_associado.asp?id=1041 

Espero vocês por lá!

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Quem está de livro novo é o poeta campinense Bruno Gaudêncio. O livro Acaso Caos saiu pela Ideia Editora. Em breve, lançamento em João Pessoa e Sapé.

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O papo de sábado, evento que vinha acontecendo na Livraria do Luiz vai dar um tempo. O projeto será reformulado e voltará com tudo, logo, logo.

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Ronaldo Monte vai ser substituído por André Aguiar e Roberto Menezes em coluna fixa no jornal  Contraponto. O velho Rona vai deixar saudade, mas acredito que André e Beto vão dar conta do recado.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Prêmio de Literatura dará R$ 150 mil ao melhor romance em língua portuguesa



Premiação será divulgada em 27 de agosto, na 15ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo

O Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura tem inscrições abertas até o dia 17 de junho. O concurso vai eleger o melhor romance em língua portuguesa publicado entre junho de 2011 e 31 de maio de 2013.
A premiação é de R$ 150 mil, e o vencedor será anunciado em 27 de agosto, na 15ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS). Cada candidato pode inscrever apenas um romance.
É necessário enviar seis exemplares da obra, acompanhados de breve currículo do autor e da ficha devidamente preenchida. Além de escritores brasileiros, o Prêmio tradicionalmente recebe livros de autores de outros países, como Moçambique e Portugal.
Mais informações podem ser obtidas no site das Jornadas Literárias da Universidade de Passo Fundo.
fonte:folha uol

terça-feira, 12 de março de 2013

Antonio Cisneros no ônibus

OCUPADO EM GUARDAR CABRAS

Ocupado en guardar cabras
en pagar agua y luz
perdi tu rostro
y este mio, no puedo distinguir
um álqamo temblón de uma malagua,
ni sombra cuál me da
y el dardo cuál.
Ocupado y veloz
no e tus negócios
ni en los mios, Señor,
navego hacia la mar
que es el morir.
Ocupado y veloz como algún taxi
cuando cae la lluvia
y anochece.





OCUPADO EM GUARDAR CABRAS
Ocupado em guardar cabras,
em pagar água e luz
perdi teu rosto
e este meu, não posso distinguir
um álamo que trema de uma água-viva,
nem qual me dá sombra
e dardo qual.
Ocupado e veloz,
não em teus negócio

nem nos meus, Senhor,
navego para o mar
que é o morrer.
Ocupado e veloz como um táxi
quando cai a chuva
e anoitece.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Little Free Library…



Little Free Library Lawerence Kansas. white with red interior
I first saw these on Facebook in the form of utilizing unused phone booths in England. Not long after that, probably because they had now been brought to my attention, I came across another photo of a Little Library in Lawerence, Kansas. –>

This little gem of an idea will not let me go.
I love the whole concept of it… not to mention the cuteness factor. How could anyone not want to read a book from a little house? Okay, my grandkiddos who refused to read this summer ~Weasy, a straight A student, has read 10% of a book in the last three months.~ may be able to resist. However, I know I could never pass by one without a peek inside.
Now I find out there is a Little Free Library Organization complete with website. Click on the link for a trip over there and you will find the mission statement ~ they have goals and they are noble and good. ~ a gallery section filled with creative little buildings plus a map link to find Little Free Libraries around the world. This is where I found we have a need in my area.
If I had been aware of this idea while teaching I would have never had a classroom without one. But that was then and this is now… And as I think about creating one of my own I have run into a road block… I’d have to release some of my books from my white knuckle grip. I’m going to have to get better at sharing.
National Library Week put your face in a book billboard

quinta-feira, 7 de março de 2013

Especialistas pregam diversidade em congresso de literatura infantojuvenil

Aryane Cararo, de O Estado de S. Paulo
Andruetto ganhou o último 'Nobel' de Literatura Infantojuvenil - Aryane Cararo/Estadão
Aryane Cararo/Estadão
Andruetto ganhou o último 'Nobel' de Literatura Infantojuvenil
BOGOTÁ - A resistência ao funcionalismo e utilitarismo na literatura infantojuvenil e as tendências da ilustração na América Latina, e sua tentativa de fugir do estereótipo de uma estética visual colorida e exótica, foram alguns dos temas discutidos nesta quarta-feira, 6, na abertura do 2.º Congresso Iberoamericano de Língua e Literatura Infantojuvenil, que vai até o dia 9 na Colômbia. O evento, que é realizado pela Fundação SM, reúne cerca de 600 escritores, ilustradores, pesquisadores, editores e educadores e pretende debater os caminhos da língua, leitura e literatura entre as crianças.
Talvez a primeira pergunta a ser feita, neste sentido, seja o que é preciso para ter uma boa literatura infantojuvenil. “Quanto mais diversidade e profundidade tentamos, um melhor leitor teremos”, disse a escritora argentina Maria Teresa Andruetto, prêmio Hans Christian Andersen 2012, o “pequeno Nobel” da Literatura. Ela criticou duramente o utilitarismo, o tecnicismo e a funcionalidade da literatura infantojuvenil, bem como as demandas do mercado editorial que tornam a oferta de livros homogênea e restrita a certos assuntos. “A intensidade da literatura nos permite diferenciá-la de todas as outras funções utilitárias e é o que lhe dá capacidade de ficar entre nós, de resistir ao tempo.”
A diversidade não é um problema quando se trata da produção entre os ilustradores latino-americanos, muito embora paire ainda o preconceito de que aqui só se faz uma arte colorida e exótica. “A diversidade é nossa real identidade, ou seja, nos caracterizamos por ter uma identidade que não é identidade segundo o pensamento europeu”, disse o crítico literário venezuelano Fanuel H. Díaz, que estuda a ilustração dos livros infantojuvenis há 14 anos. Segundo ele, nos últimos dez anos “a imagem tem cada vez mais um inegável protagonismo” e há muita diversidade na produção, mas algumas características podem ser apontadas como tendências entre os ilustradores latinos: a estética europeizada, especialmente nos contos de fadas, e aquela baseada do mundo dos desenhos animados da televisão. “Olhamos ainda mais para fora do que para dentro. Há uma certa vergonha, até porque a estética popular é apontada como pobre. Sentimos que nossa estética não é tão valiosa frente a que se impõe no mercado.”
Díaz também aponta outras caraterísticas cada vez mais presentes, como a das figuras delicadas, com fundo incolor e imagens monocromáticas, a exemplo dos trabalhos de Alba Marina Rivera (nascida na Rússia, mas criada em Cuba) e do colombiano Alekos; o aspecto tridimensional; a tipografia como parte da ilustração; o uso do papel recortado até como técnica para criar volume; a metáfora visual, com influências do surrealismo, como alguns trabalhos do brasileiro André Neves; e uma certa convivência de discursos, como a colagem associada à fotografia. “Há também uma tendência ao mangá, ao desenho com características do grafite e às estéticas periféricas, como a indígena, a afro-descendente, a popular e a marginal.”
Entre os ilustradores latinos que têm apresentado trabalhos diferentes, ele cita os brasileiros Angela Lago, pelo bom manejo com as cores, Ciça Fittipaldi, com influência na cultura primitiva indígena e negra, e Roger Mello, um “artista da pós-modernidade”, além da chilena Paloma Valdivia (autora de É Assim, pela Edições SM), com sua mistura de influências indígena e catalã; da já citada Alba Marina Rivera; da argentina Isol (que ilustrou Pantufa de Cachorrinho, pela Autêntica) e seu experimentalismo; da venezuelana Menena Cottin (ilustradora de O Livro Negro das Cores, pela Pallas, também apontado por Díaz como um bom exemplo de livro digital) com seu abstracionismo geométrico; e do mexicano Fabricio Vanden Broeck.
A ilustração também foi alvo de mesa-redonda da qual participou o brasiliense Roger Mello, que discutia a literatura infantojuvenil e o universo emocional das crianças e jovens. O dia teve ainda palestra da antropóloga francesa Michèle Petit, que falou sobre as novas composições familiares e o individualismo crescente, bem como sobre a importância de apresentar os livros e a literatura às crianças, pois permitem explorar os segredos de seus corações. “É preciso apresentar o mundo às crianças pelos livros e ensinar a amá-lo, porque um dia serão elas que vão cuidar dele.”
* A jornalista viajou a convite das Edições SM Brasil

Uma América em cada esquina


Por Lau Siqueira

Na segunda-feira de carnaval eu e o poeta Vamberto Spinelli Jr. participamos de uma mesa do IV Encontro de Literatura Contemporânea promovido pela Revista Blecaute. A mediação foi do poeta e historiador Bruno Gaudêncio. Discutimos os cem anos de solidão dos escritores brasileiros em relação a literatura contemporânea feita nos países americanos de língua espanhola. Desconhecemos os “hermanos” e parece que em troca eles nos ignoram. Mesmo no tempo das velocidades e das redes sociais, mesmo com a irmandade das línguas portuguesa e espanhola “nos miramos com temor”.

Pouco conhecemos do poeta Roberto Sosa (1930), de Honduras. Menos ainda de Luis Alfaro Vega, da Costa Rica. Mas, isso não é tudo. Afora a edição da Cosac&Naif e 7Letras, com tradução do poeta brasileiro Carlito Azevedo e do argentino Anibal Cristobo, também poeta, pouco sabemos de Antonio Cisneros (foto), um dos grandes nomes da poesia da América Latina. Aqui e ali um de nós encontra virtualmente um ou outro poeta de língua espanhola. O uruguaio Martín Palacio Gamboa ou o chileno Leo Lobos entre eles. É como se estivéssemos escondidos uns dos outros. Como se houvesse uma intransponível cerca de linguagens farpadas.

Todavia não é apenas da América Latina que estamos esquecidos. Estamos esquecidos da Paraíba. Poucas pessoas que lidam com literatura no Estado conhecem a obra magnífica de José Antônio Assunção, um dos maiores poetas deste país. Poucos de nós sabemos de Fransued do Vale ou poetas já falecidos como o campinense Jakson Agra, dono de uma poética reveladora das agonias existenciais da nossa geração. Mesmo com as facilidades do Google a maioria sequer sente curiosidade de conhecer a literatura de uma América que se revela em cada esquina. Uma troca que certamente seria maravilhosa para nosotros y para nuestros hermanos.

Resta-nos refletir e buscar estratégias para o enfrentamento da nossa condição de povo vitimizado por um sistema de informações que se consolida na consagração da banalidade. Somos impelidos a consumir uma literatura e uma cultura fast-food. Uma massaroca globalizada e absolutamente sem rosto. Assim, ao invés de Jomard Muniz de Brito, por exemplo, temos uma ampla oferta de Augusto Cury e Paulo Coelho. A ditadura midiática nos empurra contra a parede, sufocando nossa identidade e nos afastando do que afina nossos instrumentos para a compreensão da realidade. Sim, precisamos conhecer a literatura contemporânea dos subúrbios e salões de Buenos Aires, de Bogotá, Quito ou Manágua. Mas, também precisamos de olhos para o que se faz em Boqueirão, Nova Palmeira, Sapé, João Pessoa ou Campina Grande. Sob pena de extraviarmos os melhores dias da nossa história.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Futuro da Fundação Casa de Rui Barbosa é posto em xeque

FLORA SÜSSEKIND

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Declarações recentes do ex-presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa reavivam temores sobre o futuro da instituição, que quase foi extinta no governo Collor (1990-92). Pesquisadora da fundação faz balanço dos méritos da Casa Rui e das dificuldades enfrentadas para mantê-la como polo ativo de produção de conhecimento.
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Uma relação de intimidade mesmo relativa com a vida cultural brasileira moderna e contemporânea já evidenciaria o potencial crítico de que, nela, se revestiu, em momentos significativos, a adoção de perspectiva póstuma.
Seria desse lugar narrativo irônico-tumular que Machado de Assis redefiniria como forma livre, dialógica, ziguezagueante, a prosa de ficção oitocentista em "Memorias Póstumas de Brás Cubas". Seria, igualmente, um diálogo (em constante refiguração) entre o presente e a força das coisas mortas, a presença ativa dessas mortes, que orientaria boa parte da poesia de Drummond.

Seria, também, como um misto de cerimonia fúnebre e de lugar impositivo, violento, de rememoração que se apresentaria uma das mais incisivas realizações contemporâneas, no campo das artes visuais, a exposição "111", de Nuno Ramos, sobre a invasão da Casa de Detenção de São Paulo pela PM em 1992 e a morte de 111 presidiários que dela resultaria.

Seria possível multiplicar a serie mortuária com os cemitérios de João Cabral, os usos do autorretrato como vampiro por Torquato Neto, os esqueletos e ossadas de Ângelo Venosa, o enterro da classe média de Sebastião Nunes ou os epitáfios e autoepitáfios com que se divertiam Sebastião Uchoa Leite, Valêncio Xavier e José Paulo Paes. É deste ultimo, por sinal, um implicante epitáfio de Rui Barbosa, no qual ele funcionaria como antagonista retorico da poética elíptica de Paes.

Nas últimas semanas, não mais o patrono, mas a Fundação Casa de Rui Barbosa como um todo receberia atestado de óbito que, se em direção inversa à dessa série, e sem a sua força crítica, talvez possa ser exposto, por contraste, aqui. Com ênfase em algumas imagens-guia (cemitério, favela) empregadas, sucessivamente, por Emir Sader e Wanderley Guilherme dos Santos.

Não foi a primeira vez. No começo do governo de Fernando Collor de Melo (1990-92), a Casa Rui estava na lista das instituições extintas. A maior parte dos funcionários ouviu, aliás, a notícia da extinção pelo rádio, a caminho do trabalho. Organizou-se uma ocupação da instituição dia e noite, como forma de protesto, contando-se, nesse momento, com a adesão de artistas, músicos, intelectuais, frequentadores dos jardins, mães empurrando carrinhos de bebês, usuários da biblioteca e dos acervos. Houve até, salvo engano, um encantador de cobras que se dispôs a se apresentar, em solidariedade aos funcionários, no auditório da instituição.

Dessa extinção, a fundação escaparia. E ganharia força suficiente para, graças à interlocução do antropólogo Gilberto Velho (1945-2012) e com o apoio dos funcionários, fazer voltar à função de gestor Mário Machado, responsável por um novo concurso para pesquisadores e pela criação de um novo setor, o do estudo das políticas culturais no país, que vem sendo muito bem conduzido, desde então, pela historiadora Lia Calabre.

A segunda morte foi decretada recentemente por Emir Sader em declaração ao jornal "O Globo", no final do mês passado: "Aquilo é um cemitério. Estão há dez anos sem concurso. A última geração está lá sem fazer nada, esperando a aposentadoria". Lembre-se que Sader --que agora nega interesse no posto deixado vago por Wanderley Guilherme dos Santos em janeiro-- chegou a ser indicado para a presidência da fundação no começo do governo Dilma e, depois de uma sucessão de manifestações na imprensa, seria retirado do cargo antes mesmo de assumi-lo de fato.

Há dois anos, revelando total desconhecimento do acervo documental, das bibliotecas e do trabalho realizado na Casa Rui, Sader sugerira a sua transformação num instituto de pesquisas aplicadas (de temática difusa e sem considerar o acervo disponível --e em expansão-- da própria FCRB). Sugestões que receberam críticas duras de todo o conjunto de pesquisadores em atividade então na instituição.
Editoria de Arte/Folhapress

EXERCÍCIO

Nas suas declarações pré-Carnaval, mais do que à FCRB, ou ao seu corpo de funcionários (que, sem concurso há dez anos, multiplicam-se por três, por quatro, e exercem muitas vezes funções que não são absolutamente as suas, do contrário a instituição já estaria fechada), a analogia negativa com um cemitério parece apontar, mais uma vez, para o próprio Sader e para um tipo de intervenção intelectual editorializada, de divulgação --constrangedoramente pouco afeita à pesquisa de fontes primárias e à prática regular da investigação conceitual e ao trabalho material lento, obstinado, paciente, de decifração de manuscritos, de listagem de abonações, de escuta dos vestígios, do outro, dos desacordos e variantes, conjugado à necessidade de refiguração sistemática do próprio método arquivístico ao longo do processo de pesquisa.

Se voltado para a compreensão, intervenção e transformação do presente, o exercício historiográfico --como já observou, belamente, Arlete Farge no seu estudo sobre a experiência do arquivo-- "é, antes de tudo, um encontro com a morte", uma tensão entre "o próximo (muito próximo) e o distante, o defunto", um cuidado reiterado de distinguir o novo no velho, as interferências entre tempos, ritmos, silêncios, delimitações, uma escrita em constante construção e revisão. Nesse sentido, a alusão ao cemitério não escandaliza pesquisadores de fato, afeitos a esse convívio, aos desmentidos e armadilhas que essa matéria velha, esses mortos lhes impõem. E aos exercícios de deslocamento e humildade que esse convívio, esse colocar-se no lugar do morto, necessariamente exigem.

Também parecendo colocar-se em perspectiva aérea, hierárquica ("Eu nunca saí da minha sala. Nunca fiz social"), o ex-presidente da instituição, Wanderley Guilherme dos Santos --em entrevista, já neste mês, também ao jornal "O Globo", que muitos funcionários hesitaram em considerar inteiramente fidedigna--, reiteraria em parte os comentários de Sader.

Não chega a reproduzir a analogia ao campo funéreo, optando, curiosamente, pela imagem da favela, como impressão inicial (negativa) provocada pelo Centro de Pesquisa. E evocando, desse modo, a desordem, a quantidade de papéis, livros, fichas, empilhados em cada mesa, em cada setor. Imagem de desordem e falta de assepsia e estranha repulsa pela geografia urbana das favelas, que entraria em contradição com outra observação, sobre o caráter acomodado, a execução rotineira de suas tarefas pelos funcionários.

"O problema é o conformismo que paira nos servidores", declararia na mesma entrevista. Talvez o que o tenha espantado tenha sido, ao contrário, não um conformismo, mas a capacidade de esses funcionários se manterem em suas funções mesmo nas condições mais adversas, de apresentarem projetos de edição, de seminários, de constituição de um instituto de estudos avançados (em convênio com instituições brasileiras e estrangeiras), ampliando para isso o programa de bolsas, extremamente eficaz, implementado ainda na gestão de Rachel Valença à frente do Centro de Pesquisa, e conduzido por Antônio Herculano Lopes.

TERRA ARRASADA

Foi importante, no entanto, na gestão de Wanderley Guilherme, não se optar por uma política de terra arrasada e ter sido dada continuidade a projetos iniciados na gestão anterior, de José Almino Alencar, como o da compra das casas vizinhas que ampliarão o espaço para os acervos ou como a luta por um concurso para reposição de vagas na fundação.

O que é de estranhar, quando se observa o edital, é o pedido de uma vaga apenas para pesquisador, quando setores que abrigavam 12 pesquisadores regulares contam hoje às vezes com apenas 4, o que dificulta macroprojetos ambiciosos como o do português medieval, o de revisão do pré-modernismo, ou a edição crítica de Drummond, para mencionar apenas três. A indicação de que não se priorizou, num centro de pesquisa, a contratação de pesquisadores não deixa de assustar. E lembrar a possibilidade de a extinção do período Collor estar sendo reavivada talvez surdamente.

Talvez valha a pena sublinhar, nesse sentido, a importância de existirem (também no campo das ciências humanas) centros de pesquisa dotados de relativa autonomia, como tem sido a Casa Rui.

Foi essa autonomia que permitiu à instituição a discussão de questões, gêneros, períodos, autores esquecidos, priorizando o âmbito da historiografia literária num momento em que esse campo estava quase morto nas faculdades de letras. E que proporcionou a variedade e a qualidade de trabalhos sobre o Império e a Primeira

República que vêm sendo realizados pelo setor de história, estudos de história da língua como os conduzidos atualmente por Ivana Bentes e Laura do Carmo, estudos críticos sobre o Supremo, sobre o direito dos refugiados, como os realizados pelo setor de direito, além das inserções entre a produção mais contemporânea e a perspectiva histórica, presentes em seminários, livros, apresentações e fóruns de debate diversos, que têm sido realizados ao longo das décadas de funcionamento da Fundação Casa de Rui Barbosa.

FLORA SÜSSEKIND, 57, é professora da Unirio e pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa