sábado, 20 de novembro de 2010

Quando a poesia ganha música

Entrevista concedida por Marina Andrade ao jornal da Quadra do DF

JQ: Você se destaca pelo interesse em musicar poetas. Como isso surgiu?

Marina - Sempre gostei de música instrumental, de poesia e
tenho facilidade para compor. Então, musicar poemas nasceu da
curiosidade de vê-los e senti-los cantados. A minha percepção era
e é a de que a música estava lá, só esperando ser revelada nos poemas.
Lembro-me que os primeiros que musiquei foram de Carlos
Drummond de Andrade. Depois, vieram Manuel Bandeira, Fernando
Pessoa, Cecília Meireles e, por último, Augusto dos Anjos.
Marina Andrade é uma artista de Brasília. É cantora, compositora,
violonista. Mas foi musicando poesias que encontrou uma maneira
especial de mostrar seu talento. Um dos poetas escolhidos, o paraibano
Augusto dos Anjos, ganhou um cd, batizado Versos íntimos,
só com seus poemas transformados em samba, jazz, pop. Esse trabalho
se transformou no Tributo a Augusto dos Anjos que Marina
levou à Livraria Cultura nos dias 12, 13 e 14 de novembro, com
exibição de documentários, sarau e um pocket show dela, acompanhada
por banda e pelo poeta Jairo Cézar. Ela fala ao Jornal da
Quadra sobre essa experiência.
ganha música

JQ: Desses poetas o que você mais gosta é Augusto dos Anjos?

Marina – Augusto dos Anjos é muito atual. Ele falava
difícil, usou termos da biologia, temos científicos para
falar de coisas cotidianas da vida, como a própria morte.
Mas, apesar de toda aparente dificuldade de entender o
que ele dizia, diz ainda, eu consegui extrair musicalidade
e docilidade da sua poesia. Por trás do jeito esquisito,
sombrio eu vejo ironia, sarcasmo, verdades, revelações
sobre o ser humano e verdadeira apologia a vida. Gosto
do jeito dele. Acho que fomos amigos ou tivemos alguma
relação em outra vida.

JQ: Você diz que teve dificuldade em musicá-lo.

Marina - Sim, a admiração e o espanto que tive ao conhecê-
lo chegaram ao ponto de me deixar com medo de
musicá-lo. Achava que não conseguiria. Foram várias
tentativas, a partir de 2006. Na época, fui convidada para
cantar no T-bone e estava cansada do meu repertório.
Então, decidi levar uma coisa diferente e comecei a buscar
a música que eu sabia que existia em Versos íntimos e
ela nasceu. No dia seguinte, musiquei Budismo moderno
e as outras músicas foram chegando.
JQ: Você teve alguma grande surpresa com esse trabalho?

Marina - A música tem a capacidade de atrair e estimular
as pessoas a outros olhares. O interessante pra mim tem
sido isso, quem gostava do Augusto continua gostando e
acha legal a roupagem musical e, quem não gostava, nem
todos, óbvio, passa a ter algum interesse no que ele fala.
JQ: Pretende continuar com Augusto dos Anjos?

Marina - Sim, quero musicar mais alguns poemas dele.
Na verdade, comecei a musicar A árvore da serra. É um
poema lindo, bem diferente dos outros musicados. Li que
quando ele estava no leito de morte, falou para sua esposa:
“Essa centelha jamais se apagará”. Esta centelha era o
próprio Augusto dos Anjos, como me explicou meu amigo
Jairo Cezar, poeta paraibano e profundo conhecedor da
obra deste grande poeta. Se depender de mim esta centelha
não se apagará mesmo.
JQ: Fale um pouco do projeto Tributo a Augusto dos Anjos.

Marina – Foi uma delícia fazer o projeto que teve também
exibição de documentários sobre o poeta e um sarau. No
show fui acompanhada pelo violonista e guitarrista Edson
Arcanjo e banda. Também houve intervenções da poetisa
Gelly Fritta e do poeta paraibano Jairo Cézar, estudioso
da obra anjosiana. Em 2007, Jairo me levou à Paraíba para
mostrar esse trabalho. Retornei lá em abril de 2010 para as
comemorações dos 126 anos de nascimento do poeta e, desde
então, matutei a ideia de fazer algo por aqui. Daí, surgiu o
Tributo que agora, para minha alegria, deve seguir viajando
pelo Brasil, já que estamos recebendo convites para isso.

FONTE: http://www.notibras.com.br/novo/imgSite/11.pdf

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