quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Poema de José Nêumanne Pinto

Longe da Borborema


Longe da Borborema,
o pássaro preso,
fora da gaiola,
canta a mesma dor
do escritor
perseguido pelos touros
nas ruas de Pamplona.
Quem a gaiola não prende
não sabe que é livre,
senão dentro das grades
de desconhecer o além dali.
O pássaro se desespera
na solidão da liberdade
e se atira à grade,
sangue pingando
de cada pena.



De que valem asas,
se a cidade pesa
mais que o ar,
no lado interno do peito?
A vida, fora,
é presa da amplidão
dos horizontes,
que não abrigam
os abismos insondáveis
da gaiola.
De que serve o bico,
senão para cantar
a dor da traição
da cidade adúltera,
que por se ancha,
até no nome,
jamais pertencerá
a um homem só?

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