terça-feira, 4 de outubro de 2011

Valberto Cardoso no ônibus

 A invenção do dia

Desconheço aquela paisagem
Que cobria os meus olhos, os meus pés, os meus dedos,
Sirenes do dia

Desconheço o brejo e suas fábricas
As crianças que brincavam comigo,
Que atravessavam a história do beijo

Não desejei perseguir as ruas por onde construí estes descaminhos
Onde ficou o nosso hóspede no momento em que o porão se desfazia
Emparedado à sombra da renúncia?

Assim foi a casa, a cozinha, o quintal
E a fração do almoço,
Como proclamar o diário da boca
E assim a obrigação de dobrar lençóis...
O sol - maior que os quartos - e a terra nos vestiam de intervalos

Entre os inventários, a ruína
O rito das traças, a melodia devorada
Fora da sala o incompleto palácio

E a oração da tarde
A percorrer a ingênua cidade

O anúncio da hora prévia
E exata da verdade

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