terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Romance de Raimundo Carrero por Rinaldo de Fernandes

 

          por Rinaldo de Fernandes

O recente Seria uma sombria noite secreta (Ed. Record), de Raimundo Carrero, é um romance do lumpemproletário. Poucos livros retrataram com tamanha sensibilidade, a partir da subjetividade das personagens, o lúmpen brasileiro, nordestino.

Alvarenga, o mendigo protagonista, faz sorrir e sentir – por ser, menino, Pato Torto, por usar sapatos enormes, desproporcionais, e por estampar roupa recolhida no lixão pela mãe miserável. Alvarenga é passional e patético. Alvarenga é sombrio, o Recife do personagem é escuro. O narrador, sutil, anota: "...as poucas árvores do Recife se transformam em espectros, em garras escuras, sem folhas e sem frutos".

Alvarenga é aviltado, mas extremamente afetuoso. Ama a prostituta Raquel, e esta o ama à sua maneira. Embolam-se numa ternura imperiosa, inextricável. Raquel é a senha de sua felicidade – que entretanto lhe escapa a cada sopro da corneta.

O romance de Raimundo Carrero pinta de melancolia a realidade, investindo em interioridades torturadas, dilaceradas, em vidas decididamente decadentes.

2 comentários:

  1. É a primeira vez que vejo na minha vida a palavra "lumpemproletário", interessante!

    Abraços!

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  2. É o velho Marx, minha amiga.
    O barbudo alemão é sempre atual.

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