segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Por onde andam os jovens nomes que fazem a literatura na Paraíba?


Por Tiago Germano

Jornal da Paraíba 

Passada a quarta edição do Agosto das Letras, evento que, até anteontem, promoveu um diálogo entre autores locais e escritores de fora do Estado, a questão ainda ecoa na estreiteza das ruas ao redor do Ponto de Cem Réis: após a Geração de 59, os grupos Sanhauá e Caravela, os focos já heterogêneos de poetas, contistas, cronistas e romancistas que gravitaram em torno de suplementos literários (os extintos e os ainda editados), que nomes têm renovado a literatura paraibana com o entusiasmo de sua juventude?
O JORNAL DA PARAÍBA foi à cata da resposta e achou um número considerável de círculos literários que vêm atuando na esfera estadual e estendendo sua influência, através da internet e das mídias digitais, os domínios da prosa e do verso que praticam com regularidade, coletivamente.
“Não somos uma geração e não formamos um movimento, pelo menos por enquanto. Sobretudo, porque não temos uma só identidade literária, uma estética própria. O que temos é a vontade de descentralizar a literatura paraibana, antes focada em João Pessoa, e interiorizá-la, conduzindo também para cidades como Campina Grande, Boqueirão, Santa Rita, Sapé ou Cajazeiras”, afirma Bruno Gaudêncio, jovem que, além de escritor, jornalista e historiador, é um dos membros articuladores de um corpo de palavras que está se erguendo através da ação de muitos braços, como o Clube do Conto, o Núcleo Caixa Baixa, o Núcleo Blecaute e a Associação Boqueirãozense de Escritores.
“Quase todos os círculos tiveram como ponto de partida a necessidade de trocarmos experiências sobre a escrita. As reuniões são quase sempre informais e todos são espécies de ‘oficineiros’ e ‘oficinados’”, conta Roberto Menezes, representante do Clube do Conto que, segundo André Ricardo Aguiar, um de seus membros mais antigos, “é uma entidade anarco-organizada, sediada num ponto indefinido preciso, com contos que falam e contistas que ouvem mudos”.
De acordo com Roberto Menezes, as ‘regras do jogo’ não são assim tão flexíveis, nem tão rigorosas: “Nos reunimos semanalmente, aos sábados, no piso superior do Shopping Sul, em João Pessoa. As reuniões são marcadas para as 17h, mas podem começar ou não neste horário. Para participar basta levar um conto, ou um ouvido. Temos 50 membros, mas já houve dias de ninguém aparecer, ou de ir um só membro. O certo é que conto nós sempre temos, ainda que os de Joedson (Adriano, conheça no box abaixo) sejam em sonetos”, explica.
DIÁLOGO APRENDIZ
Integrante do Núcleo Caixa Baixa (que reúne também participantes do Clube do Conto), Bruno Gaudêncio comenta que os coletivos foram criados com a intenção de buscar um espaço entre as camadas de exercício literário da Paraíba e inspirados em figuras já consolidadas na literatura local, como Ronaldo Monte (que foi também um dos fundadores do Clube do Conto), Linaldo Guedes e Rinaldo de Fernandes, todos convidados  do Agosto das Letras.
“É importante frisar que não queremos romper com esta tradição literária, muito pelo contrário”, ressalta Bruno Gaudêncio. “Queremos aprender com ela, e também ter a humildade de quem está começando e se permitindo a errar”, diz o autor de Cântico Voraz do Precipício, livro de contos lançado no início do mês, em Campina Grande.
Além de lançamentos de livros, palestras e recitais, os agrupamentos literários têm promovido desde eventos de dimensões mais íntimas, como recitais, varais e saraus, até mobilizações que já estão adquirindo repercussão e relevância no calendário cultural do Estado, como a Feira Literária de Boqueirão (Flibo), uma iniciativa da Abes que já coleciona duas edições e levou para o município da Borborema vultos  como os de Ariano Suassuna, Bráulio Tavares, Jessier Quirino e Ronaldo Cunha Lima.
Outra iniciativa é a Revista Blecaute, que foi a mola propulsora para a fundação do núcleo de mesmo nome. A publicação eletrônica, que lança seu 9º volume no próximo mês e veio à luz em novembro de 2008, está hospedada no site da Universidade Federal de Campina Grande (sites.uepb.com.br/revistablecaute) e é produzida por três escritores residentes na cidade: Jãn Macêdo, João Matias de Oliveira e o próprio Bruno Gaudêncio. “Acho um trunfo termos uma publicação associada a uma instituição num Estado que ainda carece de políticas de fomento à cultura”, opina Gaudêncio.
Se a identidade de cada um dos escritores fica comprometida com a identidade dos grupos, Roberto Menezes responde: “A identidade de cada um está muito patente em cada um dos círculos. Nos influenciamos para melhorar.Até o momento está sendo edificante”.


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