terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Poema de Chico Pedrosa

Briga na Procissão


 
Quando Palmeira das Antas


Pertencia ao Capitão

Bento Justino da Cruz

Nunca faltou diversão:

Vaquejada, cantoria,

Procissão e romaria,

Sexta-feira da paixão.



Na quinta-feira maior,

Dona Maria das Dores

No salão paroquial

Reunia os moradores

E ao lado do Capitão

Fazia a seleção

De atrizes e atores



O papel de cada um

O Capitão que escolhia

A roupa e a maquilagem

Eram com Dona Maria

O resto era discutido,

Aprovado e resolvido

Na sala da sacristia.



Todo ano era um Jesus,

Um Caifaz e um Pilatos

Só não faltavam a cruz,

O verdugo e os maus-tratos

O Cristo daquele ano

Foi o Quincas Beija-Flor

Caifaz foi Cipriano,

Pilatos foi Nicanor.



Duas cordas paralelas

Separavam a multidão

Pra que pudesse entre elas

Caminhar a procissão

Cristo conduzindo a cruz

Foi não foi advertia

Pro centurião perverso

Que com força lhe batia.



Era pra bater maneiro

Mas ele não entendia

Devido a um grande pifão

Que bebeu naquele dia

Do vinho que o capelão

Guardava na sacristia.



Cristo dizia: ôh, rapaz,

vê se bate devagar!

Já estou todo encalombado,

assim não vou aguentar,

tá com a gota pra doer,

ou tu pára de bater

ou a gente vai brigar!



O pior é que o malvado

Fingia que não ouvia

E além de bater com força

Ainda se divertia,

Espiava pra Jesus

Fazia pouco e dizia:

Que Cristo frouxo é você,

que chora na procissão?

Jesus pelo que eu saiba

não era mole assim não.



Eu tô batendo com pena,

tu vai ver o que é bom

na subida da ladeira

da venda de Fenelon.

O couro vai ser dobrado

daqui até o mercado

a cuíca muda o som!



Naquele momento ouviu-se

Um grito na multidão

Era Quincas que com raiva

Sacudia a cruz no chão

E partia feito um maluco

Pra cima de Bastião

Se travaram no tabefe,

Ponta-pé e cabeçada.



Madalena levou queda,

Pilatos levou pancada

Deram um bofete em Caifaz

Que até hoje não faz

Nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,

O cacete foi pesado.



São Tomé levou um tranco

Que ficou desacordado

Deram um cocorote

Na careca de Timóti

Que até hoje é aluado.

Até mesmo São José,

Que não é de confusão

Na ânsia de defender

O filho de criação

Aproveitou a garapa

Pra dar um monte de tapa

Na cara do bom ladrão.



A briga só terminou

Quando o Doutor Delegado,

Interviu e separou:

Cada Santo pro seu lado!

E desde que o mundo se fez,

Foi essa a primeira vez

Que Cristo foi pro xadrez,

Mas não foi crucificado.
 
 
Chico Pedrosa  nasceu na cidade de Guarabira, interior da Paraíba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário