segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Entre livros e maçãs: uma reflexão sobre a relação das livrarias com o autor paraibano



Em tempos de redes sociais, as relações humanas têm cada vez mais se pautado pela reciprocidade. “segue-me que eu te sigo” ou  “curte meu status que eu curto o teu” é a filosofia da boa vizinhança do momento. Traduzindo  estes termos para o mundo real e carnal, isso quer dizer que nos tempos hodiernos, quem mais interage é mais popular, tem mais amigos e, por conseqüência, é mais influente. Infelizmente, no mundo literário há figuras que não suportam ser plateia.  Não aceitam ser coadjuvantes, nunca, ou seja, só querem ser “seguidos”. Entretanto, não é de pessoas que quero falar, mas sim de livrarias.

É público e notório que mesmo com a crescente produção de livros digitais, as edições em papel na Paraíba só têm crescido. É impressionante o número de livros lançados na província nos últimos tempos. Também não vou entrar no mérito qualitativo dos livros, pois a reflexão aqui é outra. A questão é para onde vai toda esta produção? Digo sem medo, fica na casa do próprio autor, que, para se ver livre dos vários exemplares encalhados, doa-os ou vende-os por um preço abaixo do custo. E as livrarias? Bem, quando elas, em sua minoria, se dispõem a receber livros de autores “da terra” cobram os olhos da cara para não expor os livros.

Acho que há certa sordidez nesta relação. O espaço reservado aos escritores paraibanos é sempre o pior possível. Parece que livros de produção local, como maçãs podres, contaminam os demais produtos do salão de vendas.

Contra tudo isso, eis que (re) surge a tradicional Livraria do Luiz. O empreendimento que já tem quarenta anos de vida no mercado do livro ganhou sangue novo e, segundo Carlos Roberto de Oliveira, novo sócio da marca, terá o diferencial de privilegiar o autor local ou radicado no Estado e suas obras, dando-lhes  um espaço de destaque. Característica, aliás, iniciada por Luiz há quatro décadas.

A reinauguração do espaço será no dia 1 de março. Mesas para leitura, café, espaço infantil e um ambiente acolhedor, bem diferente da frieza das livrarias dos shoppings são algumas das marcas da nova/velha livraria.

Não quero ser bairrista, separatista ou qualquer coisa do tipo. Só acho que a literatura produzida por aqui, se não é melhor do que a produzida no resto do país, no mínimo a ombreia. Daí, o fato de ser absurdo o tratamento dispensado aos livros de nossos escritores.

Para concluir, digo que vou seguir a @livraria do Luiz, vou curtir seu status, indicar para amigos e vou, principalmente, comprar livros, retribuindo, assim, a deferência.

15 comentários:

  1. Cheguei aqui achando que ia encontrar cabeças e vísceras por toda parte, ó.

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    1. vc sabe que este não é meu estilo, Denser.
      abraço

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    2. Por isso vim correndo, uai, pensei que cê tava tendo seu dia de fúria tardio.

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    3. kkkk! Sofro de pressão alta e depressão, frutos do stress. Por recomendação médica, preciso evitar os excessos, amigo.

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  2. Jairo sabe o quanto evito ser bairrista e politicamente correto. A relação de tapas entre os autores paraibanos e os livreiros não é exclusividade da Paraíba. Amigos meus que vivem em São Paulo têm mais facilidade em conseguir ler um novo autor paraibano que em ler um novo autor paulistano. É que o artista tem dificuldades em ser reconhecido em sua própria terra.

    Além disso, lembremos que as livrarias não são frias: o modo de ser delas é que não se adequa à nossa cultura. Vejamos o caso da Nobel, no Tambiá (que, segundo diz Beto, é fiteiro novo). Tem espaço para as crianças, poltronas para a leitura, atendentes treinados, mas a literatura disponibilizada não é a que atende às necessidades locais, e com isso a própria disposição dos livros não a torna uma livraria agradável, mas um lugar padronizado, produzido em série.

    No caso da Livraria do Luiz, do Sebo Cultural e de outras livrarias locais, o que vemos é o oposto: uma livraria que atende às necessidades locais e que é agradável, mas que peca pelo pouco espaço para leitura e conforto, pelos profissionais não tão treinados assim e com um espaço precário para as crianças.

    O que falta, então, é pequenos e grandes livreiros começarem a aprender uns com os outros.

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    1. félix,

      1 - sebo cultural, segundo dizem, é o maior da américa latina. E pra mim, tem espaço de sobra. Com realção ao atendimento, até hoje, sempre fui muito bem atendido tanto no sebo, como no luiz.

      2- Concordo quando vc fala que ninguém é reconhecido em sua terra natal, até porque, o lance do reconhecimento é meio complicado. Bach passou 200 anos para ser conhecido. Mas pelo que tenho falado com algumas pessoas, em outros estados a coisa está mais organizada do que por aqui. Entretanto, sua sugestão é bem interessante.
      abraço

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    2. Jairo, quando falo de atendimento, não estou falando e simpatia ou antipatia, mas de um treinamento em que o vendedor "bateu o olho" no possível cliente, por exemplo, e já faz um mapa mental de todos os possíveis livros que podem ser vendidos a ele. Disso eu sinto falta aqui.

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    3. Sim, e em relação ao espaço: onde há crianças CORRENDO em livrarias grande, há estantes e pouco espaço para correr em outras livrarias. Digamos que o espaço é um ponto sim a favor ou contra uma livraria.

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    4. Entendi, agora. Mas fazer mapa mental dos clientes é uma missão um tanto quanto difícil, não acha?

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    5. Não é difícil, com o treinamento adequado.

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  3. dando uma passadinha pra ver as novidades e dizer que linkei o Escritos no meu blog, poeta.

    ah! sábado estarei em JP pra ver o show do Frejat. se puder aparecer por lá...

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  4. Se a livraria do Luiz virar palanque eleitoral de novo creio ser melhor ficar como a gente tá msm...
    :(

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  5. Gostei do que li aqui. Lamento que livrarias de shopping tratam a coisa mais como vitrine do "vendável" e nesse ponto, apesar de espaços pra mais ou pra menos, todas tem um pouco dessa falta de respeito com o leitor, apesar da Siciliano ter melhorado um pouquinho. A Nobel parece mais uma casa chang com brinquedos e artigos e "por acaso", livros. Falta muito para melhorar o acervo. Torço para que a tradição da Livraria do Luiz nos traga esse equilíbrio: espaço, respeito, novidade.

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  6. Estamos todos na torcida, André.
    Eu, particularmente, boto fé.
    abraço

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