terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O sertão particular de Linaldo Guedes


Por Cecília Lima
Cecilialima.pb@dabr.com.br


Um homem e seu sertão interior. A poesia do paraibano Linaldo Guedes é impregnada não apenas das lembranças da sequidão do cenário onde nasceu em 1968 e viveu sua infância - a cidade de Cajazeiras. Há, além disso, a aridez de suas inquietações particulares e a sensibilidade de “matuto treinado”, que fala pouco e escuta muito. Essa é a essência do terceiro livro do autor, Metáforas para um duelo no Sertão, publicado pela editora Patuá de São Paulo e disponibilizado ao público neste início de ano.

Linaldo Guedes é poeta e jornalista. Já lançou dois livros de poemas: Os zumbis também escutam blues (Editora A União, 1998) e Intervalo Lírico (Forma Editorial, 2005), além de poemas publicados em antologias e diversos sites de literatura em todo o país e no exterior. O lançamento de Metáforas para um duelo no Sertão está previsto para o início de fevereiro em João Pessoa, em data ainda a ser confirmada. Depois, o poeta deverá lançar a obra em Campina Grande, Cajazeiras, Recife, São Paulo e Brasília. O livro já pode ser adquirido através do site www.editorapatua.com.br.

“A inspiração para fazer poesia vem     da observação do cotidiano, antes de tudo. Mas minha poesia tem muito de autobiografia. São minhas vivências, meus conflitos e inquietações, que fazem brotar poemas em meu Sertão lírico”, reflete Linaldo, que é também jornalista e atualmente faz parte da equipe do jornal O Norte como editor do caderno de Política. Desta tendência “autobiográfica” é que surgem poemas de temáticas tão diversas como o erotismo e a própria falta de inspiração para escrever.

Apesar de ter deixado Cajazeiras aos 11 anos para viver na capital, João Pessoa, o autor considera relevante para sua poesia o período em que morou no da Paraíba. “Sai de lá muito cedo, mas muita coisa ficou na memória. Lembranças de meus avós e primos, das tradições religiosas, das primeiras brincadeiras. E influências também da paisagem sertaneja, da vida mais lenta e da forma mais conservadora de ver o mundo. No livro há muitos poemas que remetem a esse universo”.

A presença do Sertão na poesia de Linaldo Guedes é abordada no prefácio do novo livro pelo também poeta Antônio Mariano, que em seu texto faz uma constatação: “Linaldo é um poeta determinado em não se esconder por trás das palavras”. O prefaciador faz mais observações sobre o estilo do poeta. “(Ele) cultua uma poesia simples, sem grandes laivos de invenções, malabarismos de linguagem. Em sua maioria, seus poemas são fluentes, impulsivos, predominantemente coloquiais”, avalia.

Metáforas para um duelo no Sertão traz também citações expressas de escritores que dialogam com a obra de Linaldo Guedes, a exemplo dos poetas Charles Baudelaire em “(A) caba (que é) marcado” e Federico Garcia Lorca em “Quimera”. A lista de “inspiradores” é grande, garante Linaldo. “Desde os 12 anos sou um consumidor voraz de livros, principalmente de poesias. É natural que muitos autores acabem ‘invadindo’ minha produção vez por outra. Tenho admiração pela poesia de Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Augusto dos Anjos, Augusto de Campos, João Cabral de Melo Neto… São muitos”.

Muitas das poesias que hoje integram Metáforas para um duelo no Sertão foram previamente postadas no blog que Linaldo mantém há anos: www.linaldoguedes.blog.uol.com.br. Para ele a internet é um veículo muito poderoso, mas sem ter o poder de alterar a forma de escrever, servindo apenas para divulgação. “Todos os meus poemas inéditos são publicados primeiro em meu blog, que funciona como uma espécie de laboratório. Depois decido se publico ou não em livro, geralmente com alterações. A interação é legal. Hoje, redes sociais como twitter e facebook esvaziaram um pouco a força desse tipo de canal”.

(Matéria transcrita da edição do jornal O Norte de domingo, dia 15 de janeiro de 2012)

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