sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nota de Amador Ribeiro Neto sobre poesia paraibana?

BREVE NOTA SOBRE A POESIA PARAIBANA CONTEMPORÂNEA

Amador Ribeiro Neto

Pela diversidade formal e temática, a poesia paraibana contemporânea vai muito bem, obrigado. E esta é uma poesia litorânea, centrada, principalmente, na capital, João Pessoa.
Não que no interior não haja poesia: há e muita, mas ou é poesia popular (do tipo cordel, que não nos interessa nesta antologia) ou perde-se em formas e fôrmas anacrônicas. Ao menos esta é a impressão que tal poesia tem me causado. Ainda não consegui distinguir um poeta interiorano paraibano que ombreasse com os que aqui vão selecionados – todos moradores da capital, ainda que vários nascidos no interior.
E não poderia ser diferente: João Pessoa vive, respira, transpira, agita, move-se ao motor da poesia. São inúmeros os eventos, que mobilizam um bom público, ao redor da produção paraibana contemporânea.
Não me refiro apenas aos saraus não, mas aos debates, depoimentos, apresentações musicais e breves dramatizações que sempre ilustram estas reuniões que podem se dar tanto em bares, restaurantes como em casas de poetas.
Dois poetas, aqui representados, têm tido um papel especial na agitação cultural da cidade: Antonio Mariano e Linaldo Guedes. O primeiro, com a série “Tome poesia” que agora, ampliando o leque de abrangência, intitula-se “Tome poesia, tome prosa”. Linaldo Guedes comandou durante bom tempo o “LiterArte”, que tinha na música e no teatro os campos mais destacados para a poesia. Susy Lopes, há anos dirige e encena poemas num dos barzinhos mais badalados da cidade. Como ela é atriz, tudo que toca vira teatro. E com ótimos resultados.
Como o leitor verá, a mostra da poesia paraibana contemporânea aqui reunida é um painel de temas e linguagens os mais variados. Há poesia condensada, nominal, parcimoniosa, contida, quase monossilábica. E há a poesia discursiva, derramada, dando asas à oralidade desbragada.
Há um bocado de poesia erótica, sensual, libertina. Este ramo da lírica floresce firme e forte entre nossos poetas. Há a poesia que tematiza, direta ou obliquamente, a realidade sertaneja, tão impregnada no cotidiano de quem vive na praia mas nasceu, ou tem familiares e amigos no sertão e no cariri.
Há a poesia de cunho filosófico, brincando com os delicados e perigosos limites entre poesia e filosofia. Mas saindo-se muito bem desta luta de espadas. E há a metapoesia, centrada no ofício de fazer pensar a própria linguagem poética, como se o mundo fosse invadido pela arte e o espelhamento vida-arte fosse a melhor metáfora para dar conta da vida e da obra.
Há a poesia de intertextualidades literárias, apropriando-se do viés mais (ou menos) conhecido de poetas mais (ou menos) conhecidos. Neste ludismo impera o deleite do dialogismo sacado a quatro paredes (ou mais).
Há a poesia-coisa, marcadamente devedora das várias performances da Poesia Concreta. A folha de papel, objeto que se oferece à dança visual dos versos interrompidos e das palavras-valise justapostas.
Há a poesia de objeto perdido. O desejo configura-se como tema e forma a serem buscados, mesmo sem um eu-lírico definido ou que dê pistas de busca. Assim, o desejo fica adiado. Lê-se esta poesia como um viajante que rastreia uma estrada desconhecida. Mas há também a poesia de cunho jornalístico, direta, franca, quase ríspida de tão transparente. Uma poesia que joga com as molduras da informação clara e da ambiguidade necessária.
Há a poesia que dialoga artistas e códigos de outras artes: cinema, música, teatro, etc. E há a poesia de voz feminina, que embora tenha uma única representante nesta antologia, o faz de forma tão marcante quanto singular. Uma mulher que vê o mundo e o sente como poeta, acima de tudo. Mas uma poeta de saias e olhares sedutoramente irresistíveis. Para questões pessoais, interpessoais e sociais.
Enfim, a poesia paraibana contemporânea não deve nada a ninguém. E, repito, vai muito bem, obrigado. Boa leitura a todos. É isso.

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