terça-feira, 13 de novembro de 2012

POESIA NA SALA DE AULA: A HUMANIZAÇÃO DO MISTÉRIO


Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB

Os pássaros são sábios.
Não discutem: cantam.
Cantar é  o jeito mais puro de entender
a vida
( Daniel Lima. Poemas)

Vivemos em um mundo de apressados e a poesia desponta como o momento da descontração, da calma, do fazer pensar. O texto poético apresenta o ambíguo, o sugerido, a multiplicidade de imagens e algumas vezes o sem sentido, mas são esses fatores que dão beleza e tornam o poema mais instigante.
O poema, elaborado esteticamente, é obra de arte que se caracteriza pela plurissignificação de linguagem, pela originalidade. Marcado por uma linguagem conotativa, possibilita vários níveis de leitura, diferentes modos de ler.
Alguns professores afirmam que as crianças não gostam de poesia e lançamos uma pergunta: será que as crianças não gostam de poesia ou a culpa é dos adultos? Para responder a essa pergunta, recorremos ao poeta Carlos Drummond de Andrade (1986:55) que, no artigo “A educação do ser poético”, reconhece o lado menineiro da poesia, depois abandonado pelo adulto e questiona:
Por que motivo as crianças de modo geral são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Será que a poesia é um estado de infância relacionado com a necessidade de jogo, a ausência do conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos do viver – estado de pureza da mente, em suma? Acho que é um pouco de tudo isso, e mais do que isso, pois já encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou absorvem a poesia.
Drummond admite que as crianças gostam de poesia, e podemos comprovar essa assertiva quando observamos nas escolas, entre os alunos menores, o interesse e o desejo de participar de atividades poéticas, recitar quadrinhas, parlendas, escrever poemas e sobre tudo decorar pequenos poemas com rimas. A rima e o ritmo poético são elementos que atraem as crianças. O jogo com as palavras, as brincadeiras rimadas, adivinhações, as cantigas de roda, tudo é motivo de satisfação para a criança.
Para compreender melhor o mistério que se chama poesia, remetemos a um texto do poeta Elias José – “A importância da poesia” que apresenta seis funções inerentes à poesia: cognitiva, social, política, ideológica, catártica, estética, pragmática ou didática.
A função cognitiva é a do conhecimento, compreende o processo mental da percepção. As funções sociais, políticas e ideológicas devem retratar, de modo implícito, os dramas sociais. Quando explícita, perde o seu valor estético. A função catártica nos leva ao mais íntimo do nosso ser, é o momento da empatia com o texto, da projeção do eu lírico. O lúdico poético se faz presente através dos estratos ópticos, fônicos, do brincar com as palavras. Devemos ter muito cuidado com a função pragmática ou didática para que o poema não se torne panfletário nem tampouco seja utilizado apenas com fins didáticos.
O leitor/professor poderá refletir sobre cada uma dessas funções e certamente irá concluir que a poesia é também uma forma de humanização, deve ser cultivada em casa, na escola, na biblioteca.
   Em 2012, recebemos vários livros de poesia que apresentam características elencadas por Elias José e citamos: “Alfabeto com afeto”, de Dilan Camargo, uma publicação da Edelbra. Neste livro, o lúdico é a tônica mais constante. ‘Poetrix”, de José de Castro, editora Dimensão. Poetrix é uma modalidade poética, criada pelo poeta Goulart Gomes. São poemas curtinhos como haicais que levam o leitor à reflexão. Aqui desponta a função cognitiva. ‘Brinquedos cantados”, de Mônica  Simas e Vera Lúcia Dias, publicado pela editora Callis, é o resgate de cantigas de roda que embalaram muitas crianças do século XX nas ruas das cidades do interior do Brasil. O livro vem acompanhado de um CD, contém  partituras  de cada canção. Novamente estamos diante do lúdico poético
Por fim, vale lembrar, mais uma vez, o poeta Carlos Drummond de Andrade:
“O que eu pediria à escola,  se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o  fundo mágico, lúdico , intuitivo e criativo que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.
NOTAS: As observações de Carlos Drummond de Andrade foram colhidas no texto  “Arte e Educação” 3 (15): 16out,1974.
O texto de Elias José se encontra no catálogo Infantil e Juvenil da  Editora Paulus. 2001,p.9


















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