terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os maravilhosos contos de Grimm


Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB

            É certo que com a passagem do tempo os contos sempre se renovam, mas é por isso mesmo que suas raízes devem ser muito antigas [...]. A base épica da poesia popular assemelha-se ao verde que se espalha por toda a natureza em múltiplas graduações, que satisfaz e aclama, sem nunca cansar.
            (Jacob e Wilhelm Grimm. Prefácio à edição original – “Contos maravilhosos infantis e domésticos”).

             Natal é tempo de presente.  Para crianças que gostam de ler e para adultos que guardam a infância do lado esquerdo do  peito vai esta sugestão: “Contos maravilhosos infantis e domésticos” (Tomo I e II. Cosac Naify, 2012).
            Os autores desses contos são os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. A edição da Cosac Naify é especialíssima e não vai nenhum exagero no superlativo. Oitenta e seis contos estão presentes no Tomo I e setenta no Tomo II. J. Borges, conhecido xilógrafo pernambucano, foi o responsável pelas ilustrações. Os contos foram traduzidos por Christine Röhrig, que tem uma longa experiência na tradução de livros alemães. Marcus Mazzari fez a apresentação. Há de se destacar, ainda, o prefácio à edição original de Jacob e Wilhelm que foi incluído no Tomo I e traz as datas de 1810 e 1814.
             Discorrer sobre os cento e cinquenta e seis textos seria tarefa para um livro, assim preferimos trazer alguns detalhes dos contos dos irmãos Grimm com o objetivo de mostrar a importância que esses contos desempenham no cenário das letras.
            “Os contos maravilhosos infantis e domésticos” foram recolhidos da tradição oral alemã. Os irmãos Grimm se valeram também de uma camponesa da aldeia de Zwehrn, perto de Kassel, dotada de uma memória prodigiosa. Essa senhora contou velhas lendas aos pesquisadores que foram acrescentadas ao material já coletado.
            No prefácio à edição original, Jacob e Wilhelm Grimm reconhecem que muitas das histórias do livro deitam suas raízes em antigos poemas heroicos. “A bela adormecida” apresenta estreita ligação com “Brunhilde” dos nórdicos; “A lenda da pena dourada”, remete à lenda do rei Mark em Tristão.
 Quando publicaram os contos, era intenção dos Grimm  que tivessem um caráter educativo e fossem direcionados às crianças, mas encontraram certa resistência por parte de alguns educadores – foi levantada a objeção de que havia nos contos uma ou outra passagem constrangedora, imprópria e indecorosa para crianças. Ninguém se livra de velha censura! Os irmãos Grimm se defenderam da crítica injusta com exemplos retirados da natureza: “As flores e as folhas deixam-se crescer com determinadas cores e formas; a chuva e o orvalho caem como uma boa ação sobre tudo que se encontra na terra, quem não quiser expor suas plantas por achar que elas são sensíveis é bom regá-las na sala de estar.” Com essa lição, eles deram o recado aos educadores retrógrados.
            Os Grimm conheceram dezessete edições dos “Contos maravilhosos infantis e domésticos”. Mediante a intervenção, principalmente de Wilhelm Grimm, os contos das edições posteriores à de 1812 foram sendo atenuados no que se refere às passagens de cunho sexual mais explícito. Na edição de 1812, Rapunzel diz a fada que as suas roupas estão muito apertadas, referência ao estado de gravidez após ter recebido visitas secretas do príncipe. Na edição de 1819, Wilhelm Grimm substitui o indício de gravidez por uma tênue alusão, e Rapunzel explica  que está ficando cada vez mais difícil para ela puxar a fada para o aposento em que vive.  Felizmente a edição da Cosac Naify foi fiel à edição de 1812 e não houve nenhum tipo de censura. 
            Os contos mais conhecidos do público brasileiro se encontram no Tomo I e citamos, entre outros, “O lobo e os sete cabritinhos”, “Rapunzel”, “João e Maria”, “A gata borralheira”, “O alfaiate valente”, “O gato de botas”. “A bela adormecida”, “Barba Azul”.
            O crítico Marcus Mazzari observa que são incontáveis os narradores e poetas alemães que incorporaram às suas obras referências e alusões aos contos maravilhosos e cita Goethe, Thomas Mann, Günter Grass.  Para o crítico brasileiro, a presença dos Grimm se faz mais forte na obra épica de Günter Grass. No romance, “O tambor de lata”, Grass encontrou, no “Pequeno Polegar”, uma inspiração decisiva, fato confessado pelo próprio autor no livro publicado em 2010 – “Palavras de Grimm – Uma declaração de amor”.
            Não poderia deixar de citar escritores brasileiros que beberam água da fonte dos irmãos Grimm. Na literatura de cordel e na literatura infantil os exemplos são muitos. O cordelista Manoel Monteiro confessa que leu muito os contos de Grimm para escrever alguns folhetos.  Ricardo Azevedo e Ana Maria Machado fizeram releituras dos contos de Grimm, até os poetas foram contaminados pelo vírus desses contos maravilhosos. O poeta paraibano Jairo César se inspirou na história de Rapunzel para escrever o livro de poesias – “Rapunzel e outros poemas da infância”.
            Eliane Brum, colunista da revista Época, aconselha: se você viu um bom filme, diga: “Vejam”, se leu um bom livro, diga: “Leiam”. É o que fazemos: Leiam “Contos maravilhosos infantis e domésticos”             

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