quarta-feira, 7 de novembro de 2012

José Inácio Vieira de Melo no ônibus

AVE


Uma prece desponta na poeira:
neste defumador, bruma das almas,
nessa cruz da paixão. É sexta-feira –
falam no vinho em consoante flama.

Num cântico, tanger toda essa gente,
adentrar as cancelas dos currais,
e a prece, assimilada na tangente,
erguendo templos, constrói capitais.

O chocalho dos deuses chama a ave:
hora das trancas, bulício de chaves,
e o menino deseja o leite santo.

Reconhece-se nessa procissão
denso crivar da fome em profusão:
longa é a fila aos peitos dessa santa.

 

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