sexta-feira, 4 de maio de 2012

Varal das sombras
Archidy Picado Filho

1

Quando aquele entrou na lavanderia, Marinésio sentiu que não era cliente comum.
A menos que curtisse um luto profundo – o que quase poucos curtiam mais sequer pendurando um pano preto na blusa – ou a menos que fosse obcecado pela cor negra, ninguém vestiria uma camisa de manga comprida preta àquela hora ensolarada da manhã. Muito menos estaria com a cabeça coberta por um chapéu preto, vestindo calças pretas e portando luvas também pretas. Sem falar nos sapatos pretos brilhantes e nos óculos escuros, de lentes tão negras e opacas que, além de não deixarem ver os olhos daquele homem estranho – se é que tinha olhos e se é que era um homem – não refletiam o luminoso ambiente da lavanderia.
Se as aparências enganavam mesmo, Marinésio se enganaria se pensasse que fosse algum negro. Por dentro, todavia, a escuridão do nada e sua vontade era substância tenebrosa agindo no centro de seu secreto não ser.
- Bom dia – desejou ao cliente, que não lhe deu atenção, jogando sobre o balcão um saco preto de roupas sujas.
Já que o estranho era de pouca conversa, tratou logo de fazer o que tinha que fazer, e então abriu o saco a contar quantas peças de roupa ele havia trazido.
Um a um, contou seis lençóis tão negros como uma nublada noite sem lua, e então os guardou novamente dentro do saco.
- Lavagem a seco ou...? – Marinésio ia perguntar, e o estranho, interrompendo-o, lhe disse que queria os lençóis lavados com água e que deveria usar o produto que ele lhe daria, ao invés de sabões comuns.
- Como se chama isso?- perguntou Marinésiio rolando entre as palmas das mãos o vidro transparente gelado que recebera do estranho, que continha um líquido tão escuro quanto quase tudo nele.
E aí Marinésio ouviu sua voz grave novamente a lhe dizer que aquilo não era nada especial: apenas um desinfetante aromático que fabricava e que gostava de usar exclusivamente na lavagem de seus lençóis.
- Tudo bem – disse sorrindo, imaginando qual tipo de homem se cobre para dormir a noite apenas com lençóis pretos. – O cliente é quem manda.
Enquanto preenchia os dados do cliente – que lhe dissera nada mais que o nome – Marinésio percebeu que aquele dia seria todo diferente de todos os outros dias que já vivera, ou que ainda viveria.
Depois de assinar o recibo das roupas junto com o estranho e entregá-lo, o homem foi embora deixando atrás de si uma brisa gélida imperceptível, prometendo voltar no dia seguinte pra buscar os lençóis.
Depois de sentir súbito calafrio – a morte soprando em seu ouvido de repente, como lhe dissera fazer ela sua avó, antes de levar sua vítima para o Vale das Sombras – deu uma olhada na cópia do recibo que dera ao homem.
Já que ele não lhe dissera o nome, quis saber por sua assinatura.
- “Sr. Mort” – leu, e então, depois de sofrer outro calafrio, resolveu que, a despeito do montante de roupas para lavar de outros clientes, lavaria aqueles lençóis primeiro, pois poderiam demorar a secar e não queria que seu novo cliente ficasse insatisfeito, embora ele tivesse lhe dado impressão de que sempre estava aborrecido com algo.
Mas, diante do montante de roupas e lençóis e fronhas com que Marinésio lidava diariamente, teria novamente que ir pedir ao vizinho para pendurar em seu varal aqueles lençóis negros – embora ele não fosse muito simpático e se aborrecesse com seus pedidos constantes para usar o varal.
Até a noite, imaginou que os lençóis estariam secos, e então tratou de encaminhá-los logo à máquina de lavar.

2

- Dá licença? – perguntou Marinésio, depois de ter posto as roupas na máquina e atravessar o quintal do vizinho olhando seu varal vazio.
- Diz aí, Marinésio! – disse um cara chamado Jorge quando saiu de dentro de casa segurando sua garrafa de uísque, bêbado, como quase sempre, depois das muitas horas de farra que tinha passado com seus convidados.
- Posso usar seu varal outra vez?
- Você sabe que o quintal é seu – disse Jorge dando uma cuspida, e depois riu com sarcasmo.
Jorge nunca dissera “a casa é sua”; nunca convidara Marinésio para entrar, mas isso não importava. Porque, mesmo se convidado, ele não arriscaria se meter dentro daquela casa dos diabos.
Não era de querer saber das intimidades dos outros, mas, mesmo assim, já soubera por outras pessoas vizinhas sobre causos de abuso de drogas e violência envolvendo Jorge e todos os que frequentavam sua casa. E então cuidava de só ir lá para pedir o favor de usar o varal – já que não havia outra casa, outro quintal e outro varal disponível na redondeza a dar apoio aos compromissos de entrega da lanvanderia.
- Antes de anoitecer eu recolho os lençóis – disse, prometendo lavar algumas peças de roupa de Jorge, em retribuição ao favor que lhe fazia novamente – embora Jorge nunca tivesse lhe dado nenhuma roupa pra lavar.
Não porque Marinésio tivesse se recusado alguma vez a lavar as roupas do vizinho, mas porque Jorge preferia ficar sujo na maior parte do tempo. Tudo bem pra ele, que não sentia o próprio cheiro, da mesma forma que não percebia seu próprio mau caráter – embora não entendesse como Jorge ainda conseguia transar com tantas garotas bonitas com toda aquela sua aversão à limpeza.
- Tudo bem – disse Jorge enjoado, oferecendo a mão ao vizinho para um cumprimento. – Depois mando uma cuecas cagadas pra você lavar.
Marinésio sorriu sem graça e olhou para a mão de Jorge antes de decidir se retribuiria o cumprimento ou não, imaginando por onde havia andado aquela mão.
Então, disse:
- Desculpe não apertar sua mão, Jorge, mas peguei em muitas roupas sujas e minhas mãos estão...
- Tudo bem – disse Jorge aborrecido, pondo a mão suja de volta no bolso.
- Obrigado, então. E até mais tarde – disse Marinésio saindo, acenando.
Quando ele finalmente se foi, Jorge entrou emborcando o uísque goela à dentro, voltando para a festa que há dois dias e meio ele e um grupo de malucos curtiam sem trégua, movidos pela euforia do álcool misturado à cocaína, que consumiam há muitas horas.
- Quem quer cerveja? – perguntou Bruna vinda da cozinha; uma garota tão gostosa, mas tão gostosa, que fizera outro convidado de Jorge, Glauber, desistir de ser vegetariano.
De langerri preta, Bruna tinha a boca e os peitos roliços de estimular fome de canibal. A xoxota, coberta apenas pelo fino tecido rendado da calcinha, deixara à mostra a tatuagem da caveira, riscada pouco abaixo do umbigo até quase perto do púbis, onde um pircing prateado tinha sido transpassado.
- Quero você! – disse Glauber, e então avançou para morder os lábios carnudos de Bruna e degustar novamente a sensação esquisita de olhar bem dentro de seus olhos verdes; agora, verde-amarelados pelos excessos das drogas consumidas com avidez e pela falta de sono.
- Se nela você encostar eu te mato! – ameaçou Gustavo, o cara que trazia as drogas, e depois tapou uma das narinas e inspirou forte, depois de ter cafungado mais uma das fileiras de pó esticadas sobre o vidro da mesa da sala de estar, onde ele pôs um revólver que trazia na cintura.
- Guarda isso! – pediu Itamar apontando para o revólver, sentado num sofá num canto, chapado, dando nova tragada num baseado.
- Fica em paz com tua maconha, irmão! – disse Gustavo, apontando de repente a arma para Itamar. – E não meta o nariz onde não é chamado.
- Não quero essa droga de pó, cara. Essa merda ainda vai acabar te matando.
- E esse meu trabuco aqui vai acabar te matando, se você não parar de dar em cima da minha cachorra! – berrou Gustavo, apontando o revólver pra Itamar.
- Vam’pará com isso! – interveio Jorge, baixando o braço e o revólver de Gustavo que, relutante, guardou a arma na cintura.
E então todos ouviram o grito de Margareth dentro do quarto, onde tentava descansar depois de ter sofrido uma convulsão.

3

Marinésio levou um susto quando ouviu o grito de Margareth na casa de Jorge.
Quis ir lá pra ver o que acontecera, mas então lembrou que gritos e sorrisos espalhafatosos eram comuns na casa do vizinho durante suas festas frequentes.
Além disso, não via o que poderia fazer para ajudar aqueles malucos. Porque, se estivessem em grande enrascada, somente a Polícia ou o SAMU poderiam socorrê-los.
Enfim, senão ele, se a coisa toda na casa de Jorge se prolongasse outra vez à noite, outros vizinhos dariam queixa da bagunça.
*
Antes de por o último lençol na máquina de lavar, Marinésio percebeu que nunca tinha visto textura de tecido como aquela.
Os lençóis pareciam ser feitos inexplicavelmente de uma espécie de água escura; parecia também ser feito de um plástico negro untado de óleo, mas nenhuma dessas imagens lhe satisfazia a descrever o que tinha nas mãos.
Além disso, eles não lhe pareciam estar sujos.
Na verdade, a imagem mais absurda que lhe viera à mente a representar os lençóis fora pensar que eram sombras. Porque, ao mesmo tempo, tanto ao pegar neles como quando os olhava era como se existissem e não existissem.
E eles eram estranhamente frios; tanto quanto deveriam ser as sombras.
Para que atendesse o compromisso com seu cliente, entretanto, Marinésio teria que deixar de pensar bobagens e ir cuidar de suas tarefas.
E então destampou o recipiente com o “desinfetante aromático” escuro que lhe dera o homem.
Estranhamente, o líquido não tinha cheiro de nada – e aí Marinésio o despejou dentro da máquina de lavar, junto com todas aquelas sombras.

4

Na casa de Jorge, da mesma forma que quase trancara para sempre sua vida pela terceira vez, Margareth tinha fechado a porta do quarto por dentro, e então a turma teve que arrombá-la.
Quando finalmente conseguiram entrar, a garota estava toda encolhida, quase nua, num canto da cama, enquanto, noutro canto, uma barata lhe fitava, estática, balançando as anteninhas.
- Puta que pariu, minha irmã! – gritou Gustavo de arma em punho, dando um tiro certeiro no inseto. – Puta que pariu! Como é que tu dá um grito desses por causa de uma porra de uma barata, caralho!
- Odeio barata! – Margareth gemeu entre tremores.
- E eu odeio você! – disse Gustavo cuspindo.
- Vá tomar no...!
- E eu vou tomar mesmo – interrompeu-lhe Gustavo. – Cadê o uísque, porra? – urrou, e saiu bufando do quarto sem saber que, na casa ao lado, Marinésio estava pensando em chamar a Polícia.
- Você tá louco, mermão? – Gemeu Jorge entre dentes, segurando Gustavo pela manga da camisa. – Cumé que tu reclama do grito dela e dá um tiro desse aqui dentro de casa, porra?
- Alguém tinha que matar aquela barata, caralho!
- Não sei por que ainda chamo você pra minha casa.
- Porque nós nos amamos! – disse Gustavo irônico, soltando um beijinho pra Jorge e mostrando-lhe um pequeno saco de pó.
- Vamos parar com essa conversa e voltar pra farra que ainda temos uma noite inteira pela frente! – sugeriu. – Aumenta o som.
- Margareth está quase tendo uma overdose! – lembrou Glauber.
- Mas a barata fez ela acordar!
- Isso é sério, Gustavo! – disse Bruna, entrando na sala de repente, acompanhada por Itamar e um de seus baseados.
– Acho melhor a gente dar um tempo dessa farra. Não duvido que a Polícia chegue logo aqui. Depois desse tiro que você deu, cara...! – ele disse.
- Aproveite sua maconha e acalme-se. Se a polícia vier, não poderá entrar sem um mandato de busca e, pra justificar o tiro, direi que não foi um tiro; que o barulho veio de uma dessas – disse Gustavo retirando do bolso uma bomba-bujão, entre outras que guardara do estoque do último São João para que pudesse dar uns tirinhos de vez em quando na cara de alguém, ou mesmo nas sombras, quando estava estressado.
– Vamos relaxar e dar mais uma cafungada – convidou ele, como se as duas coisas fosse possível juntas, espalhando um pouco de coca sobre o vidro da mesa.
E então a festa continuou.

*

Duas horas depois, alguém batia palmas lá fora.
- Ô de casa! – disse Marinésio de volta; e mesmo que ninguém tivesse aparecido de dentro da casa para recepcioná-lo ele foi entrando no quintal de Jorge, trazendo consigo num carrinho de mão os seis lençóis negros molhados.
Pouco a pouco, foi pendurando os lençóis no varal e depois ficou olhando para aquelas sombras frias que tremulavam ao sabor da brisa morna naquela hora.
“Espero que eles sequem daqui pra noite”, pensou, e depois voltou para a lavanderia imaginando que bizarrices, que orgias estariam rolando em silêncio Jorge e seus convidados trancados na casa.

5

Finalmente anoitecera.
Dentro da casa de Jorge, depois de ter rolado muita calcinha preta janela a fora, o som parara automaticamente e Margareth voltara a dormir, já quase morta, depois que vomitara o que não tinha mais para por pra fora e se cansara de lutar contra os anseios de seu coração.
E embora agora seu coração estivesse batendo devagar-quase-parando, ele batera rápido, muito rápido e com muita força dentro do peito arfante de Margareth sob o estímulo do pó e do uísque, que ela consumira sem parar durante dois dias seguidos.
No afã da farra, Bruna tinha tomado um pico de heroína, presente de uma amiga francesa de Gustavo, droga rara no pedaço que Gustavo apresentara aos amigos, sem compartilhar com eles a única dose que aplicara em Bruna a fazê-la ficar naquele estado de irreversível letargia.
Gustavo tivera um ataque cardíaco de tanto cheirar cocaína e, agora, depois de ter sido socorrido por Itamar e Jorge, estava deitado ao lado de Margareth, já quase tão morto quanto ela.
Itamar, depois de ter socorrido Gustavo – mesmo que, sob o efeito da maconha, não soubesse o que fazia direito – consumira seu último baseado e, depois de ter sofrido violenta queda de pressão, babava inconsciente sobre o sofá, de onde não saíra sequer para urinar ou defecar.
Glauber tomara tudo que continha álcool na casa, inclusive vidros de perfumes e desodorantes; cheirara todas as carreiras disponíveis de pó e tinha sido esquecido dormindo no banheiro, onde estivera por algumas horas apalpando as paredes sem saber quem era, para onde iria ou se devia ir a meter enfim a cara no vaso sanitário, onde tinha tentado vomitar até desmaiar.
Jorge ainda era o único a ainda conservar sombra de consciência em seu quengo dolorido, embora estivesse muito embriagado e sonolento, deitado no chão do terraço de onde viu Marinésio chegando a buscar os lençóis pretos estendidos no varal.
- Tudo bem, Jorge? – perguntou Marinésio aproximando-se do vizinho deitado no chão, que lhe pareceu ter respondido “tudo bem” com um gemido, um grunhido, um movimento do braço, um aceno da mão...
- Vou ver se os lençóis já secaram – disse, e então foi ao varal a constatar que não acontecera o que ele sentia que não aconteceria.
- Ainda estão úmidos, veja só! – observou. – E mesmo com todo aquele sol da tarde...! Mas a noite será quente e, até amanhã, eles estarão secos. Venho buscar quando amanhecer. Tudo bem pra você? – perguntou ele aproximando-se de Jorge, que lhe respondeu “tudo bem” com outro grunhido, virando-se para um lado e adormecendo.
E então Marinésio foi para casa.

*

Quando a grande sombra chamada noite se estabelecera sobre aquele lado do mundo, depois que alguns ouviram as doze badaladas do sino do relógio da igreja anunciando meia noite, Jorge despertou de repente no terraço sentindo mais frio do que de costume.
Não lembrava muita coisa de quando Marinésio fora lá a ver como estavam os lençóis, mas jurava tê-lo ouvido dizer que a noite seria quente.
Momentos antes, transtornado pelo excessivo consumo de uísque e de cocaína, Jorge parecia arder em febre e, agora, sentia como se não vivesse abaixo do Equador, mas como se acordado num dos gelados pólos da Terra.
Tremeu.
Tentando inutilmente estacionar a visão rotativa que agora tinha do mundo, Jorge se levantou ao sentir que uma fumaça escura passara sobre ele e entrara pela casa como um tapete voador, rastejando depois a polegadas do chão em direção a um quarto.
Jorge largou a garrafa quando viu o lençol negro entrando no quarto onde estavam Margareth e Gustavo, seguido por outro lençol que ele agora percebera um a sombra do outro.
Jorge sentiu no ambiente como se alguém tivesse ligado de repente no máximo um ar-condicionado inexistente.
Que era aquilo, afinal? Uma alucinação?
Só podia ser tendo em vista também o micro-ponto de LSD que Jorge consumira ontem, e então, convicto disso, ele se levantou cambaleando e, apoiando-se na parede, foi até o quarto para ver como estavam Gustavo e Margareth.
Foi quando viu os corpos dos dois já completamente envolvidos por dois daqueles lençóis negros que houvera trazido Marinésio sabia o diabo de onde, enquanto os outros entravam pela porta e pela janela a envolver Itamar e Bruna – tendo sido também os corpos de Glauber e Jorge logo envolvidos por outros dois.
E então, ainda um tanto acordado e alucinado dentro daquela sombra, diferente dos outros, que não acordariam mais, mergulhado na mais profunda escuridão, Jorge experimentava sensação de que, aos poucos, seu eu evaporava e que, por mais que se esforçasse, não se lembraria mais como era o sol e o luminoso mundo onde vivera.
Mas talvez ele não se recordasse dele porque nunca tivesse prestado atenção nele, nunca o tivesse vivido realmente.
E então, depois de tantos anos perdidos, chegara finalmente à noite de Jorge descobrir quem era.
Porque, como todos, ele não passava de um inseto, mais especificamente uma lagarta. E a lagarta que tinha sido Jorge estava agora trancada na escuridão de seu casulo a ser transformada em coisa alguma que alguém pudesse ter pensado poder existir.

6

Quando amanheceu, Marinésio bateu palmas por um minuto no portão da casa vizinha, olhando os lençóis negros tremulando no varal, agora, estranhamente reluzentes sob o brilho do sol matinal daquele novo dia.
Como na maioria das vezes, parecia não haver ninguém naquela casa, e então ele tratou de entrar no quintal a ver como estavam os lençóis.
E eles estavam secos, afinal, e Marinésio os retirou do varal e os dobrou um a um, pondo-os um sobre o outro no carrinho de mão que trouxera.
E já ia embora quando deu uma paradinha diante da casa vazia, fechada para sempre em si mesma a olhá-la silenciosa, imaginando Marinésio quem poderia ter morando nela um dia.
Porque, agora, depois de uma noite bem dormida, estranhamente ele não se lembrava de quem morara ali, tendo impressão de que a casa nunca houvera abrigado ninguém.
De súbito, viu um reflexo do sol passando sobre o tecido negro do primeiro lençol dobrado sobre os outros no carro de mão.
 “Aquele produto é bom mesmo! Deixa literalmente as roupas brilhando!” – pensou, e depois se apressou a voltar para a lavanderia.
Porque, de repente, exatamente quando alguém veio lhe dizer que um tal Sr. Mort já o aguardava àquela hora da manhã, a sombra de uma extensa escura nuvem de chuva se estabeleceu sobre a cidade.
E então durante seis dias não parou de chover.

*

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