terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Vinícius de Moraes no ônibus de Natal


Poema de Natal

Para isso fomos feitos: 
Para lembrar e ser lembrados, 
Para chorar e fazer chorar, 
Para enterrar os nossos mortos - 
Por isso temos braços longos para os adeuses, 
Mãos para colher o que foi dado, 
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida; 
Uma tarde sempre a esquecer, 
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos - 
Por isso precisamos velar, 
Falar baixo, pisar leve, ver 
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer: 
Uma canção sôbre um berço, 
Um verso, talvez, de amor, 
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça 
E que por ela os nossos corações 
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos: 
Para a esperança no milagre, 
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte - 
De repente, nunca mais esperaremos... 
Hoje a noite é jovem; da morte apenas 
Nascemos, imensamente.

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