segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Canto da Necessidade – I


Por Agamenon Sarinho

Relendo “Rapunzel e outros poemas da infância”, do poeta Jairo Cézar ( ex- professor de inglês da Codisma), deparo-me com uma opinião do mestre Sérgio de Castro Pinto que chamou-me atenção: “Neste Rapunzel, Jairo Cézar corrobora com outro poeta, Fernando Mendes Viana, segundo o qual ‘a poesia é a infância adormecida’”. O que chamou a atenção foi a referência a Fernando Mendes Viana e, num estalo, veio-me à mente uma poesia que marcou-me por muito tempo e influenciou-me muito nas tentativas de poetar. “Canto da necessidade” de Fernando, publicado em “Canto Melhor” (Fernando Sarmento Barata, Editora Paz e Terra Ltda, Rio de Janeiro, 1969) marcou profundamente aquele candidato a guerrilheiro, que movia-me, no início dos anos 70. Muito depois – já em pleno vigor da orgia neoliberalizante – tive a ousadia de fazer uma paródia ao contagiante poema de Fernando Mendes Viana. Depois conto esta história.
A lembrança de Fernando fez-me voltar a ler “Canto melhor” e reacender minha paixão pela “arte participante” – como dizíamos na época. Por isto, depois de um intervalo de três meses de fastio, resolvi retomar minha coluna e, propondo escrever sobre esta polêmica questão: o valor – para além da forma – do compromisso histórico da poesia.
Como uma coisa puxa outra, após conversa com uma diretora da União Nacional dos Estudantes – a Maria – que falava-me da Bienal da UNE, proximamente , em Olinda, lembrei do CPC da União Nacional dos Estudantes – ousada tentativa no início dos anos sessenta do século passado, de utilizar as variadas formas de expressão artística como meio de se aproximar do povo.
Com o compromisso auto-crítico de repor os meses de “greve” da coluna, adianto que desdobrarei o tema acima, expondo sobre “poesia participante”, seguindo os passos do autor Manoel Sarmento Barata e em seguida farei uma peregrinação sobre a experiência do CPC da UNE, num esforço de tentar trazer para nosso ambiente universitário o gosto pela produção artística – e, se possível, comprometida com nossa realidade e o futuro.
Concluo, dizendo algumas palavras sobre Fernando Mendes Viana. Nasceu no Rio de Janeiro em 1933, era poeta e tradutor. Traduziu Quevedo e os clássicos espanhóis em geral, também algumas obras de Victor Hugo (sobre Hugo, quero em breve apresentar-lhes um comentário sobre um livro pouco conhecida e talvez difícil de ser associado à sua produção literária: “Claude Gueux”). As obras mais conhecidas de Fernando: A Chave e a Pedra (Rio de Janeiro: São José, 1960), Proclamação do Barro (Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964). O Silfo-Hipogrifo (Rio de Janeiro: José Olympio/ MEC) obteve o Prêmio Literário do INL de 1972 na categoria de inéditos; Embarcado em Seco (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/MEC, 1978); Marinheiro no Tempo: antologia(Brasília: Thesaurus, 1986) – Prêmio Literário Nacional do INL na categoria obra publicada); Ah, Último Paraíso (Zaragoza, 1998);Antologia Pessoal (Brasília: Thesaurus, 2001); A Rosa Anfractuosa (Brasília: Thesaurus, 2004). Faleceu num domingo – um bom dia para um poeta morrer – da 10/09/2006, em Brasília.

fonte: http://www.portalcodisma.com.br/?p=19033

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