quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O milagre




Não queria ser pai. Nunca quis. Achava o mundo feio demais para colocar crianças nele. Achava que nunca teria tempo para cuidar de uma criança. Ser pai, como meu pai foi pra mim. Fazer dever de casa, levar à escola, incentivar a ler, enfim, coisas que pais fazem com seus filhos ou filhas. Sempre gostei de crianças, mas nunca, em toda minha vida, desejei ter um filho. Sempre preferi curtir os filhos dos outros. Ter o bônus, sem o ônus. Sabem?  Mais ou menos como os avós. Ser avô é melhor do que ser pai. Sempre ouço essa frase. Um dia, em um dia comum, como qualquer outro, Minha esposa disparou por telefone:
- Você vai ser pai.
Não sabia se chorava ou ria. Um turbilhão de sentimentos me invadiu. É complicado explicar essas coisas. Aliás, certas coisas não se explicam. Quando cheguei em casa, olhei para sua barriga, aparentemente igual.Entretanto, beijei-a como nunca tinha beijado nada na vida. Meus lábios tocaram o infinito. Tocaram o amor em seu mais alto grau, o amor em sua plenitude. Viajei até minha infância através de meus lábios. Lembrei dos tempos em que a imaginação não dava a mínima para a razão. Um tempo de sonho e festa. A partir daquele momento, passei a acreditar em milagres. Mudei de ideia, pois tocava, com meus lábios, um milagre. Ainda não sei se Beatriz é meu milagre. Meu e de Michele, aliás. Talvez eu seja o milagre dela. Há coisas que não se explicam. Milagres é um exemplo interessante. Só sei, que hoje, ela brinca com meus sonhos, com meu presente, com meu passado, com meu futuro. Ela me conta histórias, me faz dormir como se eu fosse a criança e ela o adulto. Sempre confundo os papeis. Viajamos no tempo, sem nos dar conta de quantos anos avançamos ou regredimos. Sei que essas viagens não são impunes. Elas nos deixam marcas. Eu, fico mais criança. Beatriz, mais adulta. Fico pensando se isso é bom. Não sei, realmente, não sei. Há coisas que são belas porque não têm explicação.

6 comentários:

  1. Magnífico, poeta! Vou guardar no computador, nos meus recortes e no meu coração. Parabéns! Paulo Emmanuel.

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    1. Obrigado, Paulo. Você é um leitor atento e cuidadoso. Fico honrado pelas palavras.abraço

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  2. Muito lindo esse texto, Jairo, é de uma sensibilidade que afaga o coração da gente, dá uma leveza na alma. Bjo pra vocês.

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  3. Obrigado pelas gentis palavras, Mabel. Beatriz me fez coisas que antes eu não via.
    grande beijo!

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  4. Jairo, meu caro, você acaba de enunciar a teoria da paternidade como fato estético! E isso me deixa interessado em ser pai.

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