quinta-feira, 7 de março de 2013

Uma América em cada esquina


Por Lau Siqueira

Na segunda-feira de carnaval eu e o poeta Vamberto Spinelli Jr. participamos de uma mesa do IV Encontro de Literatura Contemporânea promovido pela Revista Blecaute. A mediação foi do poeta e historiador Bruno Gaudêncio. Discutimos os cem anos de solidão dos escritores brasileiros em relação a literatura contemporânea feita nos países americanos de língua espanhola. Desconhecemos os “hermanos” e parece que em troca eles nos ignoram. Mesmo no tempo das velocidades e das redes sociais, mesmo com a irmandade das línguas portuguesa e espanhola “nos miramos com temor”.

Pouco conhecemos do poeta Roberto Sosa (1930), de Honduras. Menos ainda de Luis Alfaro Vega, da Costa Rica. Mas, isso não é tudo. Afora a edição da Cosac&Naif e 7Letras, com tradução do poeta brasileiro Carlito Azevedo e do argentino Anibal Cristobo, também poeta, pouco sabemos de Antonio Cisneros (foto), um dos grandes nomes da poesia da América Latina. Aqui e ali um de nós encontra virtualmente um ou outro poeta de língua espanhola. O uruguaio Martín Palacio Gamboa ou o chileno Leo Lobos entre eles. É como se estivéssemos escondidos uns dos outros. Como se houvesse uma intransponível cerca de linguagens farpadas.

Todavia não é apenas da América Latina que estamos esquecidos. Estamos esquecidos da Paraíba. Poucas pessoas que lidam com literatura no Estado conhecem a obra magnífica de José Antônio Assunção, um dos maiores poetas deste país. Poucos de nós sabemos de Fransued do Vale ou poetas já falecidos como o campinense Jakson Agra, dono de uma poética reveladora das agonias existenciais da nossa geração. Mesmo com as facilidades do Google a maioria sequer sente curiosidade de conhecer a literatura de uma América que se revela em cada esquina. Uma troca que certamente seria maravilhosa para nosotros y para nuestros hermanos.

Resta-nos refletir e buscar estratégias para o enfrentamento da nossa condição de povo vitimizado por um sistema de informações que se consolida na consagração da banalidade. Somos impelidos a consumir uma literatura e uma cultura fast-food. Uma massaroca globalizada e absolutamente sem rosto. Assim, ao invés de Jomard Muniz de Brito, por exemplo, temos uma ampla oferta de Augusto Cury e Paulo Coelho. A ditadura midiática nos empurra contra a parede, sufocando nossa identidade e nos afastando do que afina nossos instrumentos para a compreensão da realidade. Sim, precisamos conhecer a literatura contemporânea dos subúrbios e salões de Buenos Aires, de Bogotá, Quito ou Manágua. Mas, também precisamos de olhos para o que se faz em Boqueirão, Nova Palmeira, Sapé, João Pessoa ou Campina Grande. Sob pena de extraviarmos os melhores dias da nossa história.

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