Clarice entre vistas
Poucos conhecem o lado da Clarice Lispector entrevistadora, digo como repórter, pois nos seus contos e romances, essa escritora nos questiona(va) com afinco, levando-nos a percorrer o cerne dos nossos segredos. Clarice se questionava, para nos questionar. Mas, falo dela como jornalista que começou a exercer esse ofício em 1940, na Agência Nacional, publicando as primeiras entrevistas na revista Vamos Ler! E no jornal A Noite.. Alguns fatos interessantes durante essa trajetória é que uma vez ela perdeu uma entrevista feita com o Roberto Marinho, por não entender a própria letra! E certa feita, negou-se a fazer uma conversação dessas com o Pelé, pela simples razão de não querer.
O que mais encantava na autora de “A hora da estrela” eram suas perguntas, por demais capciosas, existências as quais nem sempre os entrevistados conseguiam responder. Às vezes ela fornecia informações pessoais, como forma de incentivo, para que o receptor ficasse desinibido para responder. Todavia, quando Clarice estava no papel de entrevistada, tinha fama de ser lacônica, de falar pouco, inclusive da sua obra, dava respostas do tipo: “Isso é segredo”. “Desculpe,mas eu não vou responder”. “Não sei”. Depois confessou que tinha medo de que suas palavras fossem deturpadas. Para quem quiser conhecer uma Clarice apuradamente auto-interrogativa sugiro o livro “Um sopro de vida”, na minha opinião, um dos melhores! Foi o último que ela escreveu antes de morrer, em 9 de dezembro de 1977, aos 57 anos, vítima de um câncer de ovário. No livro, ela cria um “alter ego” nomeado como Ângela Pralinni que estabelece um diálogo com o “Autor”.
Agora vou iniciar uma espécie de curta entrevista com perguntas minhas e respostas da Clarice Lispector com base em livros, textos seus:
- Clarice, amigos existem?
- “Leo, ocorreu um incêndio no meu apartamento, em conseqüência de um cochilo meu, enquanto fumava, o colchão pegou fogo e só me salvei, porque o meu filho, Pedro Gurgel, viu e apagou o fogo. Bem... passei quase três meses no hospital e recebi várias visitas de estranhos. Eu não sou simpática e o que dei aos outros para que viessem fazer companhia? Acredito que se tenha amigo, é que são raros”.
- Como você encara o sucesso?
- “A mim quase que faz mal: encarei o sucesso como invasão”
- Por que?
- “ Porque opinivam no que eu deveria escrever e quando isso acontecia – deixava de escrever, me acham mística, me imaginam demais...”
- Você se considera uma pessoa livre?
- “ Só seria livre se vivesse sem passado, futuro, ou presente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário