sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Resenha: O menino do dedo verde

por Marcelo Abreu



Antes de começar esta resenha, gostaria de expor uma frustração minha: Como eu gostaria de ter lido esse livro na infância! Acho que teria sido mais mágico e mais memorável.

Infelizmente, o fiz depois de adulto, pois jamais, em anos e anos de vida escolar, encontrei qualquer referência a esta obra de Maurice Druon em outros livros, especialmente os didáticos, que sempre trazem trechos de livros consagrados.

A primeira vez que ouvi falar de O Menino do dedo verde foi quando eu cursava a 8ª série do 1º Grau (atual 9º Ano do Ensino Fundamental). Ele foi recomendado com grande empolgação pelo nosso professor de Língua Portuguesa, o carrasco James, em um de seus poucos momentos de ternura. Sempre cínico e muito exigente com seus alunos, James tornou-se outra pessoa ao mencionar o livro e não deixei de notar essa mudança.

É claro que o procurei pelas livrarias da minha cidade, exaustivamente. Mas não o encontrei, para a minha frustração. Dificilmente encontrávamos bons livros em Manaus. A venda de títulos, até o começo dos anos 90, era focada em livros didáticos e leituras extraclasses obrigatórias adotadas pelas escolas e, aparentemente, O menino do dedo verde parecia não gozar de muito prestígio entre os docentes da época. Uma pena.

Não o encontrando também nas bibliotecas da vida, foi só depois de adulto, lidando com as facilidades do comércio via internet é que consegui ter o livro em mãos. E neste ano, para ser mais específico.

Em seu livro, Maurice Druon narra a história de um garoto chamado Tistu, nascido em berço esplêndido e que vive com seus pais em uma grande mansão, numa cidade fictícia chamada Mirapólvora, famosa por sua indústria bélica, comandada pelo pai do garoto, que sonha ver o filho único seguindo a mesma carreira. Porém, ao entrar na escola da cidade, Tistu acaba revelando-se um fiasco de estudante, por não conseguir adaptar-se às metodologias de ensino aplicadas no local, que lhe parecem constantemente monótonas e inúteis, levando-o ao sono involuntário durante as aulas. E com isso, acaba sendo expulso do local.

Alarmados, e cientes de que a formação intelectual de seu herdeiro não deve ser negligenciada, os pais de Tistu resolvem promover sua instrução de outra maneira, fazendo com que ele aprenda com os próprios olhos, levando-o assim aos locais que eles consideram apropriados ao conhecimento do menino, como o jardim da casa, os campos, os arredores da cidade, a fábrica de canhões, o hospital, considerando assim a vida como a melhor escola que existe.

Mesmo sendo um proeminente intelectual e acadêmico, autor de alguns romances históricos, Druon criou um livro infanto-juvenil perfeito, impregnado de ternura, sensibilidade e poesia que nos fala a respeito da busca de nossas verdadeiras vocações e convicções na figura de um garoto que, no decorrer da história, descobre ter um poder incomum: o ‘dedo verde’, onde tudo o que toca, floresce e frutifica, como se fosse mágica.

Recomendo com entusiasmo a leitura deste livro aos mais jovens. Não deixe que os mesmos vivenciem a mesma frustração que tive até poder finalmente tê-lo em mãos. O menino do dedo verde também é um livro para se ter sempre ao lado, para que, mesmo adultos, possamos relê-lo ao longo dos anos sempre que tivermos uma chance ou quando nos sentirmos desestimulados diante de nossas vidas, pois acredito que a missão desse livro é trazer de volta ao nosso convívio o encantamento pelas coisas novas e a paixão por um mundo mais belo e isento de conflitos. Maurice Druon criou uma obra cujo significado o leitor mais sensível será capaz de introjetar em si, descobrindo-se assim também um possuidor de um polegar verde capaz de revolucionar sua própria existência e o mundo ao seu redor.

Um livro lindo, que através da inocência dos olhos de uma criança, revela a beleza de uma vida feita de bondade, apontando, assim, soluções simples para grandes problemas que os adultos são incapazes de resolver.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário