por Rinaldo de Fernandes
O recente Seria uma sombria noite secreta (Ed. Record), de Raimundo Carrero, é um romance do lumpemproletário. Poucos livros retrataram com tamanha sensibilidade, a partir da subjetividade das personagens, o lúmpen brasileiro, nordestino.
Alvarenga, o mendigo protagonista, faz sorrir e sentir – por ser, menino, Pato Torto, por usar sapatos enormes, desproporcionais, e por estampar roupa recolhida no lixão pela mãe miserável. Alvarenga é passional e patético. Alvarenga é sombrio, o Recife do personagem é escuro. O narrador, sutil, anota: "...as poucas árvores do Recife se transformam em espectros, em garras escuras, sem folhas e sem frutos".
Alvarenga é aviltado, mas extremamente afetuoso. Ama a prostituta Raquel, e esta o ama à sua maneira. Embolam-se numa ternura imperiosa, inextricável. Raquel é a senha de sua felicidade – que entretanto lhe escapa a cada sopro da corneta.
O romance de Raimundo Carrero pinta de melancolia a realidade, investindo em interioridades torturadas, dilaceradas, em vidas decididamente decadentes.
É a primeira vez que vejo na minha vida a palavra "lumpemproletário", interessante!
ResponderExcluirAbraços!
É o velho Marx, minha amiga.
ResponderExcluirO barbudo alemão é sempre atual.