segunda-feira, 23 de maio de 2011

Carlos Aranha fala de “O ofício de engordar as sombras”

Essas Coisas
CARLOS ARANHA

Domingo, 22 de Maio de 2011 - 06h00
Do "Correio da Paraíba"

BRUNO LANÇA SEU "OFÍCIO"
(para engordar as sombras)

Quando recebi  - e deixei passar um período necessário  para a leitura atenta numa noite - “O ofício de engordar as sombras”, de Bruno Gaudêncio, já senti-me desafiado pelo título provocativo e pelo desenho de Jorge Elô na capa do livro editado pela Sal da Terra.

Até então tinha informações sobre as atividades de Bruno Gaudêncio como jornalista, historiador, criador da revista “Blecaute” e inquieto ativista cultural na Serra da Borborema (aliás, Campina Grande tem uma sólida história em seus “approachs”, “insights” e consolidações culturais na literatura, no teatro, no cinema, na música, nas artes plásticas).

Não o conhecia como poeta, a não ser em colaborações esparsas em blogs e publicações impressas. Assim, fui “instigado” (como dizem as tribos pós-tropicalistas e pós-quasetudo) pelo irresistível título “O ofício de engordar as sombras” a ler atentamente os 39 poemas do livro de Bruno Gaudêncio.

Faço questão de dizer que cultivo e respeito as línguas (portuguesa, francesa, inglesa, espanhola, etc.), mas não dou grande importância aos linguistas, principalmente os profissionais. Prefiro o diálogo com os críticos literários, pois são mais afeitos aos livres  conceitos sem que abdiquem das exigências gramaticais. Por isso, amo uma longa e produtiva conversa com Hildeberto Barbosa Filho sobre os roteiros, vias, percalços e êxitos da literatura. Entretanto, não sou crítico literário. Sou um poeta e um cronista da cultura, olhando para o novo com meu velho sentir e para o velho com meu novo refletir. Assim, li o belo trabalho de Bruno Gaudêncio sem conceitos previamente formados, pois sempre estive na linha do “Zen is when”.

Gostei da divisão conceitual de Bruno Gaudêncio em duas partes para seu livro: “Diário das sombras severas” e “As cores do invisível”.

O poema-título do livro é um perfeito toque para tudo o que o poeta derramará até 67 páginas: “desmentindo seu próprio segredo / a alma carrega sempre / o ofício de engordar as sombras, / de retornar as coisas / da infância tangível, / em um límpido silêncio / de água que flui / na nudez / pura da morte”. Logo a seguir, para despir uma de suas influências (Augusto dos Anjos), Bruno ousa - com vigor e êxito - concretizar um poema com o título “Versos íntimos”: “Eu / cheio de ossos e intenções / perturbo / com meus versos curtos / e dedos longos / o sentido das trevas que me pertencem”.

Bruno Gaudêncio pratica também a concisão para não tornar redudante uma imagem poética fortíssima: “Fiz sexo com as paredes / e minhas mãos gozaram / sangue...”

Termina o livro com o jeito de quem sabe colocar com profundidade a filosofia na poesia: “Fui um perfeito imperfeito. / Fui um perfeito imprestável. / Não amei, nem odiei ninguém. / No máximo, gostei de alguns, / e fui absolutamente indiferente / à maioria”.

Por não ser crítico literário, não ouso (ainda) dizer que Bruno Gaudêncio é um grande poeta. Mas, com minha intuição poética, pressinto que será reconhecido, em sua “long and winding road”, como um um importante poeta.
Recomendo a aquisição e a leitura de “O ofício de engordar as sombras”. O contato com o autor por email é gaudencio_bruno@yahoo.com.br  

DELE, SOLTAS PALAVRAS

@ Se não fosse poeta, gostaria de ser ‘fazendeiro’ como Nassar, ou ‘traficante de armas’, como Rimbaud.

@ Minha primeira vez foi algo dantesco. Foi com uma bela balzaquiana fã do Cortazar.

@ No momento, meu mestre espiritual é Paul Bowles.

@No final do arco-íris existe no máximo uma parada gay.

@Cartola substitui muito bem Chico Xavier e Chico Buarque.

@O que é colocar o membro ereto, sendo o membro ereto a obra análoga da carne?

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