Por Tiago Germano
Escritores enfrentam uma via crúcis para ver seus livros publicados e fazê-los circular entre os leitores mais próximos, aqui mesmo no Estado.
Em um contexto em que o governo federal mira nos leitores de outros países para elevar a estima da literatura nacional, investindo pesado na promoção do Brasil em eventos como a Feira do Livro de Guadalajara, que começou ontem no México, dentro do próprio território brasileiro, mais especificamente na Paraíba, a situação é bem diferente: escritores enfrentam uma via crúcis para ver seus livros publicados e fazê-los circular entre os leitores mais próximos, aqui mesmo no Estado.
O JORNAL DA PARAÍBA conversou com escritores, editores e livreiros sobre o problema. Em comum, descobriu o interesse por leitores e pela produção e venda de livros de qualidade. Por trás da aparente concordância, entretanto, emergiram as contradições: enquanto, nas livrarias, os autores do Estado se veem confinados em pequenas estantes aos fundos das lojas, editoras investem pouco na publicação de novos títulos e os escritores autofinanciam seus livros, distribuindo gratuitamente as obras.
"É um tiro no pé do próprio escritor e do mercado", dispara Carlos Roberto Oliveira, da Forma Editorial. "Isso cria um vício que estamos enfrentando com muita dificuldade", completa o publicitário que ano passado fundou a editora e, em seu catálogo, já conta com oito autores que foram publicados, como frisa o editor, sem gastar "um centavo por isso".
"Temos a proposta de lançar nossos livros no mercado local e nacional, trabalhando com o fator qualidade do ponto de vista do conteúdo e do produto em si. Não somos escritórios de edição nem gráfica: pagamos direitos autorais e, dentro da nossa possibilidade, fazemos um trabalho de mídia em cima do livro", informa Oliveira.
Nem sempre é assim. Na maioria dos casos, os escritores queixam-se não apenas da qualidade do material impresso, mas também do pouco interesse das editoras por divulgar a obra. "O esquisito, no meio editorial brasileiro, é que as editoras não agem como uma fábrica de sabão, por exemplo, que lança o produto no mercado com grande cobertura de mídia", aponta o escritor W. J. Solha.
"Lembro-me de que o editor da Ática, ao lançar meu romance A Verdadeira Estória de Jesus, ao saber que eu não tinha contatos pessoais com a grande imprensa, sugeriu-me vender o livro pelos malotes do Banco do Brasil", diz Solha, que é funcionário aposentado do banco.
Após os perrengues com as editoras, Solha decidiu pagar pelos próprios livros e divulgá-los sozinho: suas últimas obras (saídas todas pelo selo da Editora Ideia) chegam pelo correio, de graça, aos leitores que lhe solicitam o envio pela internet. "Tive experiências infames com noites ou tardes de autógrafos. Não sei mandar recados para que as pessoas saiam de casa, depois de um dia de trabalho, a fim de comprar um livro que não estão a fim de ler e, às vezes, até sem poder fazer gastos fora do planejado", justifica o paulista radicado na Paraíba.
Segundo o também escritor Jairo César, distribuição é a grande queixa dos literatos. "A maioria das editoras ou gráficas paraibanas não distribui. É também o caso dos prêmios, pelo menos, alguns deles. Recebemos o livro e mais nada. Entretanto, muitas vezes o livro é distribuído e mal exposto na livraria. Ninguém sai de casa dizendo que vai comprar livro de autor desconhecido. Mas, se o livro é bem feito, de repente, o leitor é seduzido pela capa. Pega o livro, folheia e, muitas vezes, compra. Pra mim, distribuição é importante, mas se não houver boa exposição, o livro não vai vender. É importante uma ação 'casada' distribuição/exposição".
Eduardo Augusto, coordenador do setor de livros da Livraria Leitura de João Pessoa, reconhece que os livros publicados por editoras da Paraíba não têm o mesmo espaço nas prateleiras que livros publicados por editoras de maior potencial de mercado, como Cia. das Letras ou Record.
"Não podemos substituir das prateleiras um livro que vende 50 exemplares por dia por outro que não vende nada. A gente trabalha com resultados. Não posso prejudicar meu resultado em prol de uma exigência", diz ele, referindo-se à solicitação que já ouviu de muitos escritores de que seus livros frequentassem as principais gôndolas da loja.
Para o funcionário, a própria organização dos lançamentos paraibanos em uma prateleira específica é uma mostra de "provincianismo": "Acho meio provinciano um poeta ou um romancista querer que sua obra seja colocada em uma estante de autores paraibanos e não na de poesia ou ficção brasileira", opina Eduardo Augusto.
Apesar disso, segundo ele, a livraria promove com regularidade sessões de autógrafos com autores paraibanos e, nestas ocasiões, oferece uma maior visibilidade aos seus títulos nas prateleiras.
Outro entrave para a distribuição de livros do Estado nas livrarias, de acordo com o editor Carlos Oliveira, é o percentual de 50% cobrado a partir do valor de capa: "É uma comissão que só as grandes editoras podem pagar, pois trabalham com maiores tiragens, o que barateia o preço final do livro. Para uma editora pequena, é um preço injusto".
Em meio a uma dinâmica editorial nem sempre favorável, os escritores da Paraíba continuam fazendo a única coisa que, até o momento, depende apenas só deles: escrevendo. "A Paraíba tem grandes autores. Fazemos uma das melhores literaturas do Brasil. Digo sem medo", afirma Cézar. "Infelizmente, o mercado editorial é um negócio. Eles publicam o que tem potencial de venda. E, muitas vezes, isso não é sinônimo de qualidade literária".
fonte: http://www.jornaldaparaiba.com.br/noticia/96436_paraiba-fora-das-estantes
fonte: http://www.jornaldaparaiba.com.br/noticia/96436_paraiba-fora-das-estantes
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