Não queria ser pai. Nunca quis.
Achava o mundo feio demais para colocar crianças nele. Achava que nunca teria
tempo para cuidar de uma criança. Ser pai, como meu pai foi pra mim. Fazer
dever de casa, levar à escola, incentivar a ler, enfim, coisas que pais fazem
com seus filhos ou filhas. Sempre gostei de crianças, mas nunca, em toda minha
vida, desejei ter um filho. Sempre preferi curtir os filhos dos outros. Ter o
bônus, sem o ônus. Sabem? Mais ou menos
como os avós. Ser avô é melhor do que ser pai. Sempre ouço essa frase. Um dia, em
um dia comum, como qualquer outro, Minha esposa disparou por telefone:
- Você vai ser pai.
Não sabia se chorava ou ria. Um
turbilhão de sentimentos me invadiu. É complicado explicar essas coisas. Aliás,
certas coisas não se explicam. Quando cheguei em casa, olhei para sua barriga,
aparentemente igual.Entretanto, beijei-a como nunca tinha beijado nada na vida.
Meus lábios tocaram o infinito. Tocaram o amor em seu mais alto grau, o amor em
sua plenitude. Viajei até minha infância através de meus lábios. Lembrei dos
tempos em que a imaginação não dava a mínima para a razão. Um tempo de sonho e
festa. A partir daquele momento, passei a acreditar em milagres. Mudei de
ideia, pois tocava, com meus lábios, um milagre. Ainda não sei se Beatriz é meu
milagre. Meu e de Michele, aliás. Talvez eu seja o milagre dela. Há coisas que
não se explicam. Milagres é um exemplo interessante. Só sei, que hoje, ela
brinca com meus sonhos, com meu presente, com meu passado, com meu futuro. Ela
me conta histórias, me faz dormir como se eu fosse a criança e ela o adulto.
Sempre confundo os papeis. Viajamos no tempo, sem nos dar conta de quantos anos
avançamos ou regredimos. Sei que essas viagens não são impunes. Elas nos deixam
marcas. Eu, fico mais criança. Beatriz, mais adulta. Fico pensando se isso é
bom. Não sei, realmente, não sei. Há coisas que são belas porque não têm
explicação.
Magnífico, poeta! Vou guardar no computador, nos meus recortes e no meu coração. Parabéns! Paulo Emmanuel.
ResponderExcluirObrigado, Paulo. Você é um leitor atento e cuidadoso. Fico honrado pelas palavras.abraço
ExcluirMuito lindo esse texto, Jairo, é de uma sensibilidade que afaga o coração da gente, dá uma leveza na alma. Bjo pra vocês.
ResponderExcluirObrigado pelas gentis palavras, Mabel. Beatriz me fez coisas que antes eu não via.
ResponderExcluirgrande beijo!
Jairo, meu caro, você acaba de enunciar a teoria da paternidade como fato estético! E isso me deixa interessado em ser pai.
ResponderExcluirFico feliz, meu lord.
Excluirgrato pela leitura.