Por Neide Medeiros Santos –
Crítica literária – FNLIJ/PB
Os pássaros são sábios.
Não discutem: cantam.
Cantar é
o jeito mais puro de entender
a vida
(
Daniel Lima. Poemas)
Vivemos
em um mundo de apressados e a poesia desponta como o momento da descontração,
da calma, do fazer pensar. O texto poético apresenta o ambíguo, o sugerido, a
multiplicidade de imagens e algumas vezes o sem sentido, mas são esses fatores
que dão beleza e tornam o poema mais instigante.
O
poema, elaborado esteticamente, é obra de arte que se caracteriza pela
plurissignificação de linguagem, pela originalidade. Marcado por uma linguagem
conotativa, possibilita vários níveis de leitura, diferentes modos de ler.
Alguns
professores afirmam que as crianças não gostam de poesia e lançamos uma
pergunta: será que as crianças não gostam de poesia ou a culpa é dos adultos? Para
responder a essa pergunta, recorremos ao poeta Carlos Drummond de Andrade
(1986:55) que, no artigo “A educação do ser poético”, reconhece o lado
menineiro da poesia, depois abandonado pelo adulto e questiona:
Por que motivo as crianças de modo geral
são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Será que a poesia é um estado de
infância relacionado com a necessidade de jogo, a ausência do conhecimento
livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos do viver – estado de
pureza da mente, em suma? Acho que é um pouco de tudo isso, e mais do que isso,
pois já encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo
afora conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos
que compõem ou absorvem a poesia.
Drummond
admite que as crianças gostam de poesia, e podemos comprovar essa assertiva
quando observamos nas escolas, entre os alunos menores, o interesse e o desejo
de participar de atividades poéticas, recitar quadrinhas, parlendas, escrever
poemas e sobre tudo decorar pequenos poemas com rimas. A rima e o ritmo poético
são elementos que atraem as crianças. O jogo com as palavras, as brincadeiras
rimadas, adivinhações, as cantigas de roda, tudo é motivo de satisfação para a
criança.
Para
compreender melhor o mistério que se chama poesia, remetemos a um texto do
poeta Elias José – “A importância da poesia” que apresenta seis funções
inerentes à poesia: cognitiva, social, política, ideológica, catártica,
estética, pragmática ou didática.
A
função cognitiva é a do conhecimento, compreende o processo mental da
percepção. As funções sociais, políticas e ideológicas devem retratar, de modo
implícito, os dramas sociais. Quando explícita, perde o seu valor estético. A
função catártica nos leva ao mais íntimo do nosso ser, é o momento da empatia
com o texto, da projeção do eu lírico. O lúdico poético se faz presente através
dos estratos ópticos, fônicos, do brincar com as palavras. Devemos ter muito
cuidado com a função pragmática ou didática para que o poema não se torne
panfletário nem tampouco seja utilizado apenas com fins didáticos.
O
leitor/professor poderá refletir sobre cada uma dessas funções e certamente irá
concluir que a poesia é também uma forma de humanização, deve ser cultivada em
casa, na escola, na biblioteca.
Em
2012, recebemos vários livros de poesia que apresentam características
elencadas por Elias José e citamos: “Alfabeto com afeto”, de Dilan Camargo, uma
publicação da Edelbra. Neste livro, o lúdico é a tônica mais constante.
‘Poetrix”, de José de Castro, editora Dimensão. Poetrix é uma modalidade
poética, criada pelo poeta Goulart Gomes. São poemas curtinhos como haicais que
levam o leitor à reflexão. Aqui desponta a função cognitiva. ‘Brinquedos
cantados”, de Mônica Simas e Vera Lúcia
Dias, publicado pela editora Callis, é o resgate de cantigas de roda que
embalaram muitas crianças do século XX nas ruas das cidades do interior do
Brasil. O livro vem acompanhado de um CD, contém partituras
de cada canção. Novamente estamos diante do lúdico poético
Por
fim, vale lembrar, mais uma vez, o poeta Carlos Drummond de Andrade:
“O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era
considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e depois como veículo
de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico , intuitivo e criativo
que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.
NOTAS:
As observações de Carlos Drummond de Andrade foram colhidas no texto “Arte e Educação” 3 (15): 16out,1974.
O
texto de Elias José se encontra no catálogo Infantil e Juvenil da Editora Paulus. 2001,p.9
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