Por Neide
Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB
As leis que regem a
linguagem, quando se cristalizam e fecham em intransigências radicais,
aniquilam a expressão e desmantelam o ritmo.
(José
Lins do Rego. Discurso de posse na ABL, 1957).
A
editora José Olympio, hoje pertencente ao grupo Record, tem uma história digna
de registro no cenário das letras brasileiras. O livreiro e editor José Olympio
foi o responsável pela edição e divulgação de muitos escritores nordestinos. Rachel
de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Luís Jardim, nos
anos 30 e 40 do século XX, integram o quadro de escritores da casa. Gilberto Freyre dizia que José Olympio reunia
em torno de si três dimensões – humana, cultural e editorial. Os anos se
passaram, o livreiro/editor já não pertence ao mundo dos vivos, a editora sofreu
revezes, mas o nome permanece bem vivo.
Atualmente,
a editora José Olympio pertence ao grupo da Record. Com o objetivo de divulgação escolar, os grandes
escritores da antiga casa são apresentados de forma bem didática nos livros que
trazem o título de ABC. Já tivemos o “ABC de Rachel de Queiroz”, “ABC de José
Cândido de Carvalho”, aparece agora “ABC de José Lins do Rego” (Rio de Janeiro:
José Olympio, 2012), texto de Bernardo Borges Buarque de Hollanda. O professor
Damião Ramos Cavalcanti, conterrâneo de José Lins do Rego, foi o primeiro a dar
a notícia sobre este livro que recebemos recentemente e passamos a tecer
algumas considerações.
O
ABC é um poema típico da literatura de cordel nordestina, composto de estrofes
que se iniciam sucessivamente pelas letras do alfabeto, de A a Z. “ABC de José
Lins do Rego” apresenta um resumo da vida e da obra do escritor paraibano com
discussões de alguns temas pertinentes à obra deste escritor. Nas palavras de
Bernardo Borges Buarque de Hollanda, é “uma porta de entrada para ajudar o
leitor iniciante”.
Bernardo
Borges Buarque de Hollanda fez pós-doutorado em Paris, no ano de 2009, na
Maison des Sciences de l´Homme e na Bibliothèque Nationalle de France e redigiu
parte deste livro em Paris, a outra parte foi feita no Brasil e contou com a
valiosa colaboração das filhas de José Lins do Rego e do poeta Thiago de Melo,
amigo fraternal de Zé Lins.
Como
ocorre com esta modalidade da poesia popular – ABC, vamos encontrar os verbetes
agrupados de acordo com as letras do alfabeto, assim destacamos: A – Açúcar: E
– Escola do Recife, F- Fogo Morto, G – Gilberto Freyre, J – José Olympio, M –
Memória e Imaginação, Estes são alguns exemplos deste rico e vasto material
sobre o escritor do “ciclo da cana-de-açúcar”. É sobre os verbetes citados que
deitamos nosso olhar.
A
– Açúcar. Para este verbete, o ensaísta Bernardo Buarque de Hollanda discorre
sobre a origem do escritor José Lins do Rego, sua vivência no Engenho Corredor,
a família, a ascensão e queda dos engenhos da várzea do rio Paraíba.
E
– Escola de Recife. A cidade de Recife é retratada, neste livro, a partir do
ano 1916, época em que José Lins do Rego foi estudar naquela cidade a fim de
concluir o ensino médio e se preparar para cursar a Faculdade de Direito. Bernardo
Buarque de Hollanda traça um panorama histórico/político do período que
compreende os anos da 1ª. Grande Guerra Mundial (1914/1918).
F- Fogo Morto. Este romance é considerado
pela crítica como a sua obra-prima. “O cenário de decomposição impregnaria boa
parte das lembranças de José Lins, associando em sua memória a ruína das
antigas unidades de produção de açúcar”. ( 2012,p.65). “Fogo Morto” representa
a desfiguração de toda uma paisagem social do Nordeste.
G
– Gilberto Freyre. A amizade de José Lins com Gilberto Freyre começou em 1923,
no Café Continental, em Recife. Este local era ponto de encontro entre os
políticos, jornalistas, escritores. Nas palavras do escritor paraibano, a
amizade com o sociólogo pernambucano modificou inteiramente sua vida: “Para
mim, teve começo naquela tarde de nosso encontro a minha existência literária.
E a minha aprendizagem com o mestre da minha idade se iniciava sem que eu
sentisse as lições.” (2012, p.79. Extraído do livro Gordos e Magros).
J
– José Olympio. Mais do que um editor, José Olympio foi o responsável pela
publicação de livros de autores nordestinos, entre eles José Lins do Rego. E
vem uma informação interessante no que se refere à denominação “ciclo da
cana-de-açúcar”. O nome de ciclo para os romances canavieiros de José Lins foi uma sugestão da mulher de
José Olympio, Vera Pacheco Jordão Pereira, uma estratégia que induzia para
compra conjunta dos livros.
M
– Memória e Imaginação. Por sugestão de Gilberto Freyre, José Lins se tornou
leitor de Marcel Proust. O escritor francês se apropriou da memória de maneira
inovadora e descreveu suas recordações nos sete romances de teor memorialista –
“Em busca do tempo perdido”. O livro “Menino de Engenho” e os outros romances
canavieiros de Zé Lins apresentam várias características proustianas.
É a sugestão que deixamos para os leitores. Vamos reler os livros de Zé Lins, tendo como
companhia o “ABC de José Lins do Rego”.
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