Por uma comuna de leitores e leitoras!
Por Lau Siqueira
A vida nos ensina que não é esperando as melhores condições que iremos protagonizar grandes acontecimentos. Algumas das ações mais brilhantes da história da humanidade aconteceram em situações de grande adversidade. A precariedade, não raras vezes, revelou grandes gênios, nos trouxe curas e alegrias repartidas. Mas, cá pra nós, o Brasil é um país um tanto esquisito. As desgraças e os fracassos acabam despertando maior atenção que os caminhos bem traçados. Em um texto anterior, falo da Biblioteca Comunitária Antônio Soares de Lima na comunidade Tito Silva, em João Pessoa. A imprensa da Paraíba, no entanto, entende que é mais importante noticiar um assassinato nesta comunidade que um fato tão espetacular como a criação de uma biblioteca. Um fato tão grandioso como este, não mereceu a menor atenção nem da imprensa nem da nata qualhada da intelectualidade local. A imprensa se alimenta do estapafúrdio e despreza os sinais de evolução, principalmente nas áreas mais vulneráveis socialmente. Não é diferente em outras cidades e não há inocência nisso. Afinal, a imprensa dita burguesa se alimenta das diferenças, dos abismos sociais. Um povo com livro na mão assusta mais a burguesia que um povo com armas na mão.
Sempre me pergunto se devemos desanimar ou seguir em frente. Claro que devemos seguir em frente! Primeiro porque não saberíamos agir de forma diferente. Falo aqui de um grupo muito pequeno e muito seleto da nossa sociedade, que acredita que as ações de incentivo à leitura, independentemente da sua dimensão, fazem a diferença na vida de uma cidade, de um estado e de um país. Portanto, se queremos um país leitor, vamos começar pelo nosso local de trabalho, pelo nosso bairro, pela nossa cidade. Certamente que estaremos espalhando boas sementes para o futuro. Certamente que estaremos dando um passo importante para que os investimentos em Educação não se resumam apenas nas garantias constitucionais. Os livros existem. Muitos deles trancafiados em salas fechadas, como se tivessem cometido o crime de despertar consciências e questionar as raízes da ignorância e as sementes da sabedoria.
Posso citar aqui algumas dezenas de pequenas histórias, pequenas omissões. Posso citar também grandes omissões. Coisas que se relacionam com a inanição. Por exemplo, de alguém que possui os instrumentos, sabe como se toca, mas prefere o comodismo do desperdício precioso de tempo. Aliás, o tempo é o que de mais precioso podemos desperdiçar. Mas, não vamos mais perder nosso tempo tão raro com estas aflições. Precisamos fazer boas alianças para inventar novos caminhos. Precisamos caminhar com o que está posto. Nesse contexto, podemos considerar que uma biblioteca comunitária é mais importante que uma Bienal do Livro e mais importante que uma grande e suntuosa biblioteca, porque dá acesso direto aos que mais precisam desse canal de conhecimento. Logicamente que falo aqui de boa literatura e não de desova de livros didáticos com exercícios preenchidos que deveriam, na verdade, ser reciclados para um melhor aproveitamento. Como diz Roland Barthes, a Literatura (maiúscula) possui muitos saberes. Um bom livro, por exemplo, como Robinson Cruzoé, de Daniel Defoe, apresentará ao jovem, além de uma leitura agradável, de uma boa literatura, lições de geografia, antropologia e história. Tudo num discurso bem construído e de fácil compreensão. Isso não pode ser esquecido nas ações de leitura porque formamos bons leitores a partir de textos sedutores. Logicamente, temos que ser cirúrgicos na escolha de um ponto de partida para uma ação de formação de leitores e leitoras.
Somos um país de contrastes. Não é diferente no mundo do livro. Como já dissemos aqui e em outros espaços, o MEC é o terceiro maior comprador de livros do mundo. O mercado do livro no Brasil é servil e excludente, como qualquer mercado de batatas. A única lógica que o movimenta é a do enriquecimento de um segmento cada vez mais concentrado e internacionalizado. Mas, nesta análise, o importante é que os livros já existem. Muitas vezes empilhados em salas escuras, cheios de pó e acumulando ácaro. Esses livros precisam ir para o “ bom prejuízo”. Precisamos fazer com que se percam nas mãos de uma juventude que, sobretudo, tem sede de conhecimento e pouco estímulo para alcançá-lo. Por isso, quando nos omitimos em relação ao que existe de real em termos de ações de leitura, estamos entregando o ouro para o sistema. Estamos abdicando da necessária luta armada da palavra.
É tudo tão simples. A prática nos mostrou, principalmente nos últimos tempos, que pequenos gestos podem se transformar em grandes ações. Foi assim que começou, por exemplo, o sarau Poesia no Hospício. Uma ação realizada todas as quintas-feiras com pacientes e impacientes no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira. Foi assim que nasceu a Biblioteca Comunitária Antônio Soares de Lima. Não são exatamente ações para enaltecer o ego de escritores. São ações militantes para estabelecer laços de igualdade entre pessoas que atravessam períodos de vulnerabilidade, com a possibilidade de boas descobertas. Ou seja: para uma ação de leitura, basta começar. Se alguém espera salas com ar-condicionado, bibliotecárias ou bibliotecários cpmprometidos, computadores de última geração, oficineiros afiados e eventos de porte para chamar a atenção da mídia, pode sambar no desespero porque o nosso carnaval não é esse. Assim como as bibliotecas comunitárias são mais importantes que os grandes empreendimentos, a circulação do livro é mais importante que as bibliotecas comunitárias. Não podemos esquecer, todavia, que a tradição oral da literatura é o que há de mais consistente em termos históricos. Afinal, Gregório de Matos Guerra, por exemplo, construiu uma obra para a posteridade, sem nunca ter publicado um livro em vida. Os exemplos são muitos. A oralidade está enraizada na história do povo. Infelizmente, vivemos horizontes reduzidos por conta dos preconceitos intelectuais e do baixo teor de compromisso com a literatura e com as ações de leitura nas universidades, onde receber um diploma se tornou mais importante que receber conhecimentos.
Em última análise, precisamos nos perguntar: o que estamos esperando? Os livros existem. O analfabetismo ainda é uma mancha em nossa história. Este é um fato, mas nada é estático. Tudo está em movimento. Tudo muda constantemente. O poeta Mário Quintana já dizia: “o pior analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê.” Estamos falando de ações em rede que, certamente, irão desencadear numa anárquica e produtiva semeadura para um novo tempo onde poderemos, num perídio não maior que uma ou duas décadas, nos transformarmos em comunidades bem referenciadas no mundo. Tudo por conta da partilha de conhecimentos. Algo que nos levará a descobrir o povo enquanto sujeito da própria história. Assim, um livro não deveria nunca ser uma propriedade privada. Principalmente aqueles que são comprados com recursos públicos que, cá pra nós, é a maioria da produção editorial brasileira. Um país que é um dos maiores produtores de livros do mundo deverá também ser um país de muitos leitores. As condições objetivas para que isso aconteça dependem de uma vontade coletiva que, sabemos, já existe. Precisamos, pois, estar juntos e agir em rede.
Sempre me pergunto se devemos desanimar ou seguir em frente. Claro que devemos seguir em frente! Primeiro porque não saberíamos agir de forma diferente. Falo aqui de um grupo muito pequeno e muito seleto da nossa sociedade, que acredita que as ações de incentivo à leitura, independentemente da sua dimensão, fazem a diferença na vida de uma cidade, de um estado e de um país. Portanto, se queremos um país leitor, vamos começar pelo nosso local de trabalho, pelo nosso bairro, pela nossa cidade. Certamente que estaremos espalhando boas sementes para o futuro. Certamente que estaremos dando um passo importante para que os investimentos em Educação não se resumam apenas nas garantias constitucionais. Os livros existem. Muitos deles trancafiados em salas fechadas, como se tivessem cometido o crime de despertar consciências e questionar as raízes da ignorância e as sementes da sabedoria.
Posso citar aqui algumas dezenas de pequenas histórias, pequenas omissões. Posso citar também grandes omissões. Coisas que se relacionam com a inanição. Por exemplo, de alguém que possui os instrumentos, sabe como se toca, mas prefere o comodismo do desperdício precioso de tempo. Aliás, o tempo é o que de mais precioso podemos desperdiçar. Mas, não vamos mais perder nosso tempo tão raro com estas aflições. Precisamos fazer boas alianças para inventar novos caminhos. Precisamos caminhar com o que está posto. Nesse contexto, podemos considerar que uma biblioteca comunitária é mais importante que uma Bienal do Livro e mais importante que uma grande e suntuosa biblioteca, porque dá acesso direto aos que mais precisam desse canal de conhecimento. Logicamente que falo aqui de boa literatura e não de desova de livros didáticos com exercícios preenchidos que deveriam, na verdade, ser reciclados para um melhor aproveitamento. Como diz Roland Barthes, a Literatura (maiúscula) possui muitos saberes. Um bom livro, por exemplo, como Robinson Cruzoé, de Daniel Defoe, apresentará ao jovem, além de uma leitura agradável, de uma boa literatura, lições de geografia, antropologia e história. Tudo num discurso bem construído e de fácil compreensão. Isso não pode ser esquecido nas ações de leitura porque formamos bons leitores a partir de textos sedutores. Logicamente, temos que ser cirúrgicos na escolha de um ponto de partida para uma ação de formação de leitores e leitoras.
Somos um país de contrastes. Não é diferente no mundo do livro. Como já dissemos aqui e em outros espaços, o MEC é o terceiro maior comprador de livros do mundo. O mercado do livro no Brasil é servil e excludente, como qualquer mercado de batatas. A única lógica que o movimenta é a do enriquecimento de um segmento cada vez mais concentrado e internacionalizado. Mas, nesta análise, o importante é que os livros já existem. Muitas vezes empilhados em salas escuras, cheios de pó e acumulando ácaro. Esses livros precisam ir para o “ bom prejuízo”. Precisamos fazer com que se percam nas mãos de uma juventude que, sobretudo, tem sede de conhecimento e pouco estímulo para alcançá-lo. Por isso, quando nos omitimos em relação ao que existe de real em termos de ações de leitura, estamos entregando o ouro para o sistema. Estamos abdicando da necessária luta armada da palavra.
É tudo tão simples. A prática nos mostrou, principalmente nos últimos tempos, que pequenos gestos podem se transformar em grandes ações. Foi assim que começou, por exemplo, o sarau Poesia no Hospício. Uma ação realizada todas as quintas-feiras com pacientes e impacientes no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira. Foi assim que nasceu a Biblioteca Comunitária Antônio Soares de Lima. Não são exatamente ações para enaltecer o ego de escritores. São ações militantes para estabelecer laços de igualdade entre pessoas que atravessam períodos de vulnerabilidade, com a possibilidade de boas descobertas. Ou seja: para uma ação de leitura, basta começar. Se alguém espera salas com ar-condicionado, bibliotecárias ou bibliotecários cpmprometidos, computadores de última geração, oficineiros afiados e eventos de porte para chamar a atenção da mídia, pode sambar no desespero porque o nosso carnaval não é esse. Assim como as bibliotecas comunitárias são mais importantes que os grandes empreendimentos, a circulação do livro é mais importante que as bibliotecas comunitárias. Não podemos esquecer, todavia, que a tradição oral da literatura é o que há de mais consistente em termos históricos. Afinal, Gregório de Matos Guerra, por exemplo, construiu uma obra para a posteridade, sem nunca ter publicado um livro em vida. Os exemplos são muitos. A oralidade está enraizada na história do povo. Infelizmente, vivemos horizontes reduzidos por conta dos preconceitos intelectuais e do baixo teor de compromisso com a literatura e com as ações de leitura nas universidades, onde receber um diploma se tornou mais importante que receber conhecimentos.
Em última análise, precisamos nos perguntar: o que estamos esperando? Os livros existem. O analfabetismo ainda é uma mancha em nossa história. Este é um fato, mas nada é estático. Tudo está em movimento. Tudo muda constantemente. O poeta Mário Quintana já dizia: “o pior analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê.” Estamos falando de ações em rede que, certamente, irão desencadear numa anárquica e produtiva semeadura para um novo tempo onde poderemos, num perídio não maior que uma ou duas décadas, nos transformarmos em comunidades bem referenciadas no mundo. Tudo por conta da partilha de conhecimentos. Algo que nos levará a descobrir o povo enquanto sujeito da própria história. Assim, um livro não deveria nunca ser uma propriedade privada. Principalmente aqueles que são comprados com recursos públicos que, cá pra nós, é a maioria da produção editorial brasileira. Um país que é um dos maiores produtores de livros do mundo deverá também ser um país de muitos leitores. As condições objetivas para que isso aconteça dependem de uma vontade coletiva que, sabemos, já existe. Precisamos, pois, estar juntos e agir em rede.
do blog : http://www.paraibaja.com.br/?p=colunistas_int&id=19&coluna=477
Nenhum comentário:
Postar um comentário