sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Poema de Luis Fernando Mifô

Friburgópolis



Que coisa é essa pela qual lutamos?

- Ganha sentido, perde sentido -

Que mesmo no milésimo de segundo

que antecede o salto, a corda, o tiro,

relutamos?



Que coisa é essa pela qual corremos

quando desce o barranco e a enxurrada?

Corremos como se houvesse um pote

de ouro no fim da estrada

Corremos




Covardia imensa é lutar por algo tão frágil

Uma pisada em falso

Café quente e água gelada

Qualquer pequena bobagem

e ela nos falta, nos deixa não mão,

no chão




Que coisa é essa pela qual resistimos

às ferragens do carro, aos escombros?

Pela qual batemos em retirada

a qualquer boato de barragem estourada?

Pela qual choramos vendo Friburgópolis

no noticiário da tarde?



Que coisa é essa pela qual imploramos

diante do cano frio do revólver?

Pela qual trabalhamos todo santo dia

e folgamos nos dias santos?
E levamos as mãos ao peito

quando o ataque é no miocárdio?

E ficamos atônitos quando o ataque

é bélico e indiscriminado?

E levantamos as mãos

na hora do assalto,

como se protegê-la fosse

um gesto automático?




Que coisa é essa pela qual gritamos?

Pela qual atravessamos a rua

olhando para os lados?

- Ganha sentido, perde sentido –

Que mesmo sem saber do seu real propósito,

nos multiplicamos, nos multiplicamos,

no multiplicamos?



Afinal, que coisa é essa que só se descobre

por que veio quando ela se vai?

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