segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poema de João Cabral de Melo Neto

Tecendo a Manhã



1

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.



2

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.


Ontem celebrou-se 91 anos de nascimento do  mestre João Cabral de Melo Neto.
O bom dia deste blog é uma homenagem ao poeta.

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