segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Luis Mifô no ônibus

Contraindicação


Poesia não cura dor de dente.
Já perdi os meus caninos
enquanto escrevia um soneto.

Não ensine a vossas crianças
que o poema pode ser cura.
Poema não é cura.

Poema é sempre mazela, fadiga
enfermidade que revela outras
enfermidades não diagnosticadas.

Meu filho não supõe que fiquei careca
enquanto lia Maiakovski.
Porque o poema é isto:
revelação de moléstias
ultrassonografia de versos
tomografia com raios de metáfora.

Lorca, Rimbaud, Baudelaire,
Castro Alves, Drummond, Leminski,
Eliot causou-me esta taquicardia na língua.

Por que o poema é isto:
um insuportável desarranjo intestinal
um aterrorizante derrame ocular
um trauma cerebral irreversível
quando estamos sendo acometidos
pela saúde do mundo.

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