quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ANJO DE RUA: história pinçada de jornal

           Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB
           

            Em cima do meu telhado
            Pirulin, lulin, lulin,
            Um anjo todo molhado
            Soluça no seu flautim.
            (Mário Quintana. Canção da Garoa).

           “Anjo de Rua” (Recife: Editora Cepe, 2011), livro de Manoel Constantino com ilustrações do pintor Roberto Ploeg, conquistou em 2011 o 1º. lugar no concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil e foi finalista em 2012 do Prêmio Jabuti.         
            
                  Manoel Constantino é poeta, dramaturgo, jornalista e ator, nasceu em Alagoas, mas desde os quinze anos que mora em Recife. Roberto Ploeg nasceu na Holanda e veio para o Brasil estudar Teologia, apaixonou-se pelo Nordeste e se fixou em Olinda. É artista plástico e já participou de inúmeras exposições.

            A história deste livro teve uma longa gestação. O autor afirma que esboçou as primeiras ideias há cerca de 11 anos a partir de uma noticia veiculada no jornal - um menino de rua, após roubar uma bolsa no centro do Recife, foi jogado no rio por populares e morreu afogado. Essa noticia chocou o escritor que passou a ter contatos com os meninos de rua, conversando com eles e procurando saber como viviam o dia a dia. Assim, resolveu transformar a noticia em um livro juvenil.
            
            O protagonista é Rivaldo, um menino que mora na rua, conhecido por todos como Careca. No decorrer da narrativa, vamos encontrar vários outros meninos que circulam e perambulam pelas ruas, fugindo da polícia, dormindo em cima de caixas de papelão, pedindo esmolas e fazendo pequenos roubos. Essa é a realidade dos meninos de rua das grandes cidades do Brasil. Se não são “capitães da areia”, são capitães da miséria.  
            
                Rivaldo está com 14 anos, mas quando saiu de casa tinha apenas nove anos. Ele é o personagem-narrador da história e por seu intermédio vamos conhecer um pouco da vida dos meninos de rua. Rivaldo já teve casa, pai, mãe, irmãos e meio-irmãos, resolveu sair de casa depois de apanhar muito do pai e da mãe. Pouco frequentou a escola, só deu para aprender a contar até 30. Sua primeira noite na rua foi dolorida. Encontrou uma marquise de um prédio, forrou o chão de papelão e adormeceu. Acordou de madrugada com chutes no traseiro e uma voz de homem que dizia:
            
             “– SAI DAÍ, GABIRU! Tá pensando que aqui é suíte de hotel de luxo? Sai daí, antes que eu chame a polícia.” (2011: p. 23). 
           
           Para sobreviver, Rivaldo  começou a fazer cara de choro, fungar e pedir esmolas sempre com a mesma conversa: tinha perdido a mãe, era órfão, estava com muita fome e precisava de algum dinheiro para comer. Algumas vezes a coisa funcionava, ganhava um dinheirinho ou um sanduíche e enganava a fome.
         
           Um dia encontrou um amigo, um menino mais novo do que ele, porém muito experiente, chamava-se Chupeta e na companhia de Chupeta encontrou um lugar mais seguro para dormir – a garagem de um prédio. Na companhia de Chupeta, Careca dormia sentindo-se mais seguro. O vigia era um “cara legal”, permitia que meninos de rua dormissem na garagem.   
        
      A partir desse dia, estabeleceu-se uma amizade entre Careca e a turma de Chupeta –  Tonhão, Pirulito e Bel, uma menina cheia de trança, usava sempre um short vermelho, uma morena bem bonita. O coração de Careca bateu mais forte quando conheceu Bel, foi ficando meio babaca, só tinha pensamentos para a nova amiga.
   
          A ordem do chefe Tonhão era para que todos roubassem, isso constrangeu um pouco Careca, mas ordem de chefe era para ser obedecida,  não adiantava discutir e assim ele viveu a primeira aventura de roubo. Roubou uma bolsa, mas foi pego e apanhou muito.

            De Chupeta, Careca guarda boas lembranças – foi acolhido por ele  na garagem de um prédio, ganhou do amigo um papagaio bem colorido que voava e ia alto, navegando nas nuvens. Não gostava de relembrar do desaparecimento do amigo – foi lançado ao rio e tragado pelas águas do “cão sem plumas”.   

            Seria “Anjo de rua” um livro de denúncia social? Literatura engajada? Existe a crítica contra aqueles que poderiam minorar o sofrimento de crianças abandonadas que perambulam pelas ruas e nada fazem. Ressalte-se, porém, que o autor soube tratar deste tema com sutilezas literárias sem cair na denúncia vazia.

            Neste livro, destacam-se as ilustrações de Roberto Ploeg – as expressões sofridas dos meninos de tua, ao ar brejeiro de Bel. A paisagem pouco aparece, vem representada por um amontoado de casas, verdadeiros cortiços ou favelas, casas de porta de janelas, todas bem juntinhas.

            Foi valiosa a colaboração do artista plástico Roberto Ploeg que captou muito bem a triste realidade dos anjos de rua. A predominância dos tons ocres e marrons retrata bem o ambiente de extrema pobreza, apenas o vermelho do short de Bel e o colorido do papagaio dão um toque de alegria.

                       

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