quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Suíte de Silêncios por Analice Pereira

Pequeno ensaio sobre o abandono (Analice Pereira*)



  

“... o que não se fala simplesmente não existe.” (Marília Arnaud)
 
 Numa primeira leitura, é possível lançar mão da ideia de que o mais novo romance de Marília Arnoud tem, em sua base narrativa, um tripé que constitui a arquitetura e dá sustentação a um enredo admiravelmente equilibrado, deixando o leitor impactado com a capacidade da narradora de compor, com palavras, a sua Suíte de silêncios.

Esse tripé, formado por pares aparentemente contraditórios, porém harmonizados – palavra/silêncio; memória/esquecimento; infância/velhice –, parece representar Mnemosyne (divindade do panteão grego responsável pela guarda das recordações, ou seja, a recordadora), pois, na impossibilidade de ser ouvida, é que Duína apresenta as suas ações recordativas: “Desde cedo aprendi que calar pode ser uma maneira de enfrentar realidades delicadas, nunca completamente compreensíveis. Desde cedo aprendi a pelejar com esses escuros que carrego comigo, porões entulhados de perguntas sem respostas, de sentimentos que ardem como feridas.” (p. 155).

No centro da questão que perpassa todo o enredo e que dá encaminhamento à preservação dessas recordações/lembranças, encontra-se um ensaio sobre o abandono. Trata-se da história da menina Duína que, mesmo na velhice, quando narra sua vida, ainda tem nove anos, momento em que começa a vivenciar alguns sucessivos abandonos, emoldurados por segredos de águas vivificantes de amor, represadas pela vigília daquilo que aparentemente não deseja, mas também não pode esquecer: “...– seriam minhas entranhas banhadas por um oceano? –, fazendo-me desabar num precipício de curtos-circuitos que me conduziam para longe, para um espaço onde eu me afogava – choveria dentro de mim? –, onde não havia nada nem ninguém, onde o tempo parava e o mundo inteiro deixava de existir.” (p. 175).

A sugestão de uma presença interlocutória arremata a intensidade desse abandono. A narradora fala diretamente para seu amor João Antônio. Por carta ou mentalmente? O que importa é que a solidão persiste mesmo na presença desse interlocutor. Escrevendo carta para o seu amor, Duína vez ou outra retoma a possibilidade de que ele está ouvindo-a/lendo-a: ‘“Mas nenhum me olha como você me olhava, vazios que estão de mim e do meu amor”. (p. 13) ou ainda: “Alguém – quem mesmo? – falou que o amor é tudo aquilo que não se tem. Pois você é minha mais permanente falta!”. (p. 97). E também por meio de interlocução mental, próximo ao recurso do monólogo, que se dá quando a personagem-narradora adulta volta a Pedra Santa, lugar onde supostamente vive João Antônio que passa a ser perseguido pelo olhar/mente da narradoraInteressante notar que perseguir as pessoas, sem que elas saibam que estão sendo observadas, é a brincadeira mais apreciada pela Duína menina.

Narrar é condição sine qua non de qualquer romance, sabemos disso, mas em Suíte dos silêncios, em especial, contar a sua história parece ser, para Duína, uma questão, além de essencial, crucial: pelo recurso da metalinguagem, enuncia-se a necessidade inevitável de se contar uma história, contação essa que representa a própria narração escrita, já que falar contrariaria a força motriz que dá sustentação ao enredo, o silêncio e a gama de lembranças que reclamam um destino. Lembremos como se inicia o romance: “Não contaria esta história se soubesse o que fazer com minhas lembranças, se fosse capaz de me livrar delas” (p. 9).

O romance de Marília Arnoud é do silêncio que se revela na voz narrativa e se materializa na própria incapacidade de falar da narradora, ou que ela imagina não ser capaz de falar. Questão de causalidade narrativa? Sim, pode ser. O silêncio provém dos segredos irreveláveis; provém também do choque do abandono, das cartas da mãe que nunca foram abertas, da ausência da música do pai, linguagem mais intensificada para a menina Duína. O vazio causado pela falta da mãe e das demais faltas vividas pela personagem é preenchido pela possibilidade da presença de música, como contraponto ao silêncio, como tentativa de escapatória daquele “nada” em que vai se constituindo a adolescência e a vida adulta da narradora. Mas essa possibilidade é frustrada: o desejo da menina Duína, estudante de violino, não se realiza na adulta musicista: “Que engano! Enquanto a música corria nas artérias do meu pai, livre e obstinada como a vida, em mim esteve sempre limitada a uma tentativa frustrada de aproximação da verdade, de purgação de feridas, de busca de afeto e equilíbrio, de aceitação de mim mesma – a música como uma possível resolução para meu desassossego, para a minha angústia incessante feita de equívocos, indefinições e esperas; a música como crença, pois sendo tão grande e tão indecifrável quanto Deus, fazia-se, porém, mais próxima e menos inefável nos reconhecíveis olhos desesperançados do meu pai”. (p. 144/145).

Tanto pela via da memória quanto pela via do silêncio os segredos se substancializam, na mente da narradora Duína: “Por que as pessoas estavam sempre esperando que lhes dissesse algo, sempre querendo saber coisas, logo de mim, que confiava tanto no silêncio? Por acaso não compreendiam que as palavras eram íntimas demais? Que as palavras pertenciam aos segredos?” (p. 89).

Segredos, abandonos, silêncios incorrem naquilo que falta à vida de Duína e que, formalmente, se apresenta em medida certa na voz narrativa: tecnicamente falando, nada sobra e nada falta nesse romance dos abandonos. O conteúdo se ajusta à forma de maneira admirável. Sua arquitetura narrativa se sustenta num enredo muito bem articulado por uma voz em primeira pessoa que ensaia seus sucessivos abandonos e não abandona o leitor a certos mimetismos.

Se o oposto da solidão e do abandono for a possibilidade de consumar o amor, independente de seus matizes, de suas maneiras, então pode-se dizer que, para além do abandono vivenciado por Duína à sua revelia, esta personagem também se deixa abandonar e se entrega a esse abandono como principal mandamento da forma romanesca que compõe. Noutras palavras, se se trata de um romance de falta, é pela própria falta (vazio) que se compõe uma trama melódica, por onde perpassam estruturas frasais extremamente líricas e imagéticas que ocupam os espaços dos silêncios para compor sua suíte, de ausência de música, de ausência de peles, de lembranças: “O esquecimento, meu amor, é um jogo, onde o único adversário é você mesmo.” (p. 24).

(*Professora de Língua Portuguesa e Literatura do IFPB)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Poema de Sérgio Janma


CREDO DA DÚVIDA

...
creio ser ateu...
tenho minhas crenças
e não as pratico
por duvidar
do que creio...

não sou crente,
sou du-vidente.

únicas certezas,
as minhas dúvidas são
en(m)-cruz-ilhadas
que me levam ao nada.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Produção literária e jornalística de Linaldo Guedes pode ser acessada em único site


A produção literária e jornalística de Linaldo Guedes vai poder ser acessada, agora, em um único site. Já está on line o www.linaldoguedes.com, site do poeta e jornalista paraibano que completa agora em fevereiro 22 anos de imprensa e tem três livros de poemas publicados, além de participação em dezenas de outras obras lançadas no país.

Criado pelo web design Kécyo Pimentel, o linaldoguedes.com reúne toda a produção intelectual e artística de Linaldo Guedes, além de fotos e vídeos com o poeta paraibano.

A idéia, segundo Linaldo, foi reunir em um mesmo local toda a sua produção. “Tenho muitos textos, poemas inéditos e matérias de uma forma geral espalhados por várias páginas do mundo virtual. O site tem o objetivo de colocar esta produção num só local, para facilitar o acesso do leitor”, afirma.

No site, o leitor encontrará matérias, entrevistas e artigos da carreira profissional de Linaldo Guedes, que desde 1991 vem atuando nos principais veículos de comunicação do estado, ocupando as mais diversas funções (de repórter a editor), tendo atuado também em órgãos públicos e sido diretor de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do Estado.

O site traz, também, a seção Fortuna Crítica, com textos sobre a obra literária de Linaldo Guedes e entrevistas com ele. Na seção Poemas, o leitor encontrará inéditos de Linaldo que ficaram fora de seus três livros e raridades, como parcerias com poetas contemporâneos e poemas da época do Poecodebar, o grupo de poesia coletiva paraibano que existiu no início dos anos 90 e agitou a literatura no estado. Em vídeos, o internauta vai poder acessar entrevistas feitas por Linaldo com nomes como Arnaldo Antunes, e matérias sobre a obra do poeta. Em fotos, a galeria de imagens dos eventos culturais de Linaldo.

Linaldo Guedes criou em 2004 o blogue Zumbi escutando blues, que será desativado após a transferência dos arquivos para o site. É autor de três livros de poemas – Metáforas para um duelo no sertão (Editora Patuá), Intervalo Lírico (Forma Editorial) e Os zumbis escutam blues (Textoarte/A União). Natural de Cajazeiras, está em João pessoa desde 1979 e atualmente é editor executivo do portal REPORTERPB (www.reporterpb.com.br).

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Luis Mifô no ônibus

Contraindicação


Poesia não cura dor de dente.
Já perdi os meus caninos
enquanto escrevia um soneto.

Não ensine a vossas crianças
que o poema pode ser cura.
Poema não é cura.

Poema é sempre mazela, fadiga
enfermidade que revela outras
enfermidades não diagnosticadas.

Meu filho não supõe que fiquei careca
enquanto lia Maiakovski.
Porque o poema é isto:
revelação de moléstias
ultrassonografia de versos
tomografia com raios de metáfora.

Lorca, Rimbaud, Baudelaire,
Castro Alves, Drummond, Leminski,
Eliot causou-me esta taquicardia na língua.

Por que o poema é isto:
um insuportável desarranjo intestinal
um aterrorizante derrame ocular
um trauma cerebral irreversível
quando estamos sendo acometidos
pela saúde do mundo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

PAPO DE SÁBADO com Walter Galvão


A primeira edição de 2013 do “Papo de Sábado”, uma iniciativa da Livraria do Luiz,  terá a participação do escritor e jornalista Walter Galvão. O evento acontece sempre no segundo sábado de cada mês, mas, excepcionalmente, esta edição será realizada no último sábado de janeiro. O “Papo de Sábado” é uma reunião de amantes da Literatura onde o principal objetivo é conversar, entre um café e outro, sobre a vida e a obra de algum autor convidado, assim como sobre a Literatura de um modo geral.

A participação é aberta a todos, e tem o formato informal de um bate-papo entre amigos. Até o presente momento, já participaram do papo os escritores Roberto Menezes, Janailson Macedo, Wander Shirukaya, André Ricardo Aguiar,Lau Siqueira, Sérgio de Castro Pinto e Jairo Cézar.

Serviço:

O quê: Papo de Sábado com Walter Galvão
Quando: 26 de janeiro
Onde: Livraria do Luiz – Galeria Augusto dos Anjos, centro de João Pessoa
Horas: 10h
Quanto: Gratuito
Contato: Jairo Cézar – fone: (83) 8895-2705 / 9135-5909

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Mudança na data da Flibo 2013



Com Mirtes Waleska


Com o intuito de envolver toda a comunidade, professores e alunos, ficou decidido que a Flibo acontecerá de 16 a 19 de Outubro, tendo como tema: "Era uma vez"... A importância da Literatura na Infância. Em março, faremos o lançamento oficial com a escolha de alguns nomes que estarão presentes em palestras, oficinas e minicursos; e começaremos a desenvolver projetos nas escolas municipais para que durante a Flibo, esses projetos sejam apresentados.


Desde já, todos estão convidados.
Aproveita que você já tem a Agenda de 2013 e marca logo a data pra não esquecer! ;)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

poema para Michele

Hoje é dia da minha rainha. Hoje, o ônibus vai sair só para ela.



Para Michele

Meus olhos cercam teu sorriso
palhaço é o coração.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ANJO DE RUA: história pinçada de jornal

           Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB
           

            Em cima do meu telhado
            Pirulin, lulin, lulin,
            Um anjo todo molhado
            Soluça no seu flautim.
            (Mário Quintana. Canção da Garoa).

           “Anjo de Rua” (Recife: Editora Cepe, 2011), livro de Manoel Constantino com ilustrações do pintor Roberto Ploeg, conquistou em 2011 o 1º. lugar no concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil e foi finalista em 2012 do Prêmio Jabuti.         
            
                  Manoel Constantino é poeta, dramaturgo, jornalista e ator, nasceu em Alagoas, mas desde os quinze anos que mora em Recife. Roberto Ploeg nasceu na Holanda e veio para o Brasil estudar Teologia, apaixonou-se pelo Nordeste e se fixou em Olinda. É artista plástico e já participou de inúmeras exposições.

            A história deste livro teve uma longa gestação. O autor afirma que esboçou as primeiras ideias há cerca de 11 anos a partir de uma noticia veiculada no jornal - um menino de rua, após roubar uma bolsa no centro do Recife, foi jogado no rio por populares e morreu afogado. Essa noticia chocou o escritor que passou a ter contatos com os meninos de rua, conversando com eles e procurando saber como viviam o dia a dia. Assim, resolveu transformar a noticia em um livro juvenil.
            
            O protagonista é Rivaldo, um menino que mora na rua, conhecido por todos como Careca. No decorrer da narrativa, vamos encontrar vários outros meninos que circulam e perambulam pelas ruas, fugindo da polícia, dormindo em cima de caixas de papelão, pedindo esmolas e fazendo pequenos roubos. Essa é a realidade dos meninos de rua das grandes cidades do Brasil. Se não são “capitães da areia”, são capitães da miséria.  
            
                Rivaldo está com 14 anos, mas quando saiu de casa tinha apenas nove anos. Ele é o personagem-narrador da história e por seu intermédio vamos conhecer um pouco da vida dos meninos de rua. Rivaldo já teve casa, pai, mãe, irmãos e meio-irmãos, resolveu sair de casa depois de apanhar muito do pai e da mãe. Pouco frequentou a escola, só deu para aprender a contar até 30. Sua primeira noite na rua foi dolorida. Encontrou uma marquise de um prédio, forrou o chão de papelão e adormeceu. Acordou de madrugada com chutes no traseiro e uma voz de homem que dizia:
            
             “– SAI DAÍ, GABIRU! Tá pensando que aqui é suíte de hotel de luxo? Sai daí, antes que eu chame a polícia.” (2011: p. 23). 
           
           Para sobreviver, Rivaldo  começou a fazer cara de choro, fungar e pedir esmolas sempre com a mesma conversa: tinha perdido a mãe, era órfão, estava com muita fome e precisava de algum dinheiro para comer. Algumas vezes a coisa funcionava, ganhava um dinheirinho ou um sanduíche e enganava a fome.
         
           Um dia encontrou um amigo, um menino mais novo do que ele, porém muito experiente, chamava-se Chupeta e na companhia de Chupeta encontrou um lugar mais seguro para dormir – a garagem de um prédio. Na companhia de Chupeta, Careca dormia sentindo-se mais seguro. O vigia era um “cara legal”, permitia que meninos de rua dormissem na garagem.   
        
      A partir desse dia, estabeleceu-se uma amizade entre Careca e a turma de Chupeta –  Tonhão, Pirulito e Bel, uma menina cheia de trança, usava sempre um short vermelho, uma morena bem bonita. O coração de Careca bateu mais forte quando conheceu Bel, foi ficando meio babaca, só tinha pensamentos para a nova amiga.
   
          A ordem do chefe Tonhão era para que todos roubassem, isso constrangeu um pouco Careca, mas ordem de chefe era para ser obedecida,  não adiantava discutir e assim ele viveu a primeira aventura de roubo. Roubou uma bolsa, mas foi pego e apanhou muito.

            De Chupeta, Careca guarda boas lembranças – foi acolhido por ele  na garagem de um prédio, ganhou do amigo um papagaio bem colorido que voava e ia alto, navegando nas nuvens. Não gostava de relembrar do desaparecimento do amigo – foi lançado ao rio e tragado pelas águas do “cão sem plumas”.   

            Seria “Anjo de rua” um livro de denúncia social? Literatura engajada? Existe a crítica contra aqueles que poderiam minorar o sofrimento de crianças abandonadas que perambulam pelas ruas e nada fazem. Ressalte-se, porém, que o autor soube tratar deste tema com sutilezas literárias sem cair na denúncia vazia.

            Neste livro, destacam-se as ilustrações de Roberto Ploeg – as expressões sofridas dos meninos de tua, ao ar brejeiro de Bel. A paisagem pouco aparece, vem representada por um amontoado de casas, verdadeiros cortiços ou favelas, casas de porta de janelas, todas bem juntinhas.

            Foi valiosa a colaboração do artista plástico Roberto Ploeg que captou muito bem a triste realidade dos anjos de rua. A predominância dos tons ocres e marrons retrata bem o ambiente de extrema pobreza, apenas o vermelho do short de Bel e o colorido do papagaio dão um toque de alegria.

                       

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Capas e ilustrações de livros são importantes atrativos na hora da escolha de uma obra

Romance nas prateleiras

Por Flávia Lopes

Não se pode julgar um livro pela capa. Mas ninguém falou que não se pode julgar a capa de um livro. Quem nunca avançou em uma estante por que gostou da ilustração?  A capa pisca e atrai o leitor. A escolha de um livro é um momento de sedução. Que atire o primeiro livro aquele que não acha que a capa é a primeira impressão. Nem sempre é a que fica, mas é um atrativo valioso para qualquer obra.

O escritor paraibano Jairo Menezes faz uma metáfora: a escolha de um livro é como uma paquera. "Quando você não conhece a pessoa, as características físicas é que são importantes. Só depois, você se apaixona pelas virtudes morais. Com o livro é a mesma coisa. Primeiro você se apaixona pela capa. Entretanto, só o que há dentro dele é que vai determinar o sucesso do namoro livro/leitor.".

Não é difícil encontrar leitores que tenham comprado um livro só pela capa. A fotógrada Ana Patrícia Almeida afirma que já caiu na armadilha da sedução. "Comprei o livro 'O incrível livro de hipnotismo de Molly Moon' por que a capa é bonita.". Hipnotizada, respondeu: "ela brilha". O mesmo aconteceu com a estudante de administração Bárbara Galvão que foi levada ao clássico "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, pela bela capa. "Comprei porque ele é edição antiga, de capa dura e ainda com marcador de página de fita, além das páginas amareladas. Mas amei o livro! A história é muito interessante!".

Outra leitora que não escapou das garras de uma bela capa foi a estudante de moda Rafaela Barros. "Comprei recentemente 'O Caso de Charles Dexter Ward', de H.P. Lovecraft. Eu já tinha ouvido falar do autor, mas nunca tinha lido nada dele. Vi esse livro e gostei muito da capa, comprei muito influenciada por ela. Achei super bonitinho o livro, o design dele, é um pocket. Parecia que eu precisava ter na minha estante. Muito doido.", conta.

Uma boa capa seduz um leitor instantaneamente. Convida-o ao toque que o leva a sentir mais alguns detalhes. Ao abrir o livro, as folhas exalam perfume de páginas. Mas o romance só começa na leitura. A paquera só continua se o conteúdo for do agrado, mas é inevitável uma bela capa escapar aos olhos.  O escritor Ronaldo Monte defende: “A capa pode e deve ser sedutora para levar o leitor para as orelhas e à contracapa em busca de maiores informações sobre o livro e o autor. Mas sem uma boa capa, com um título atraente, dificilmente o leitor se aproximará do livro. (...) Se o livro for ruim, não tem capa que dê jeito.”.

Roberto Menezes, escritor paraibano, afirma: a capa tem que ser o cartaz de um livro. E foi isso que ele fez em sua mais nova obra, “Palavras que devoram lágrimas (ou a felicidade cangaceira)”, lançada neste mês de dezembro. Sobre a emblemática boca ponteada em uma penumbra imprensa na capa, ele diz: “É uma pessoa que fala pra outra. E essa outra pessoa não pode falar, só escutar.” O livro conta a história de uma enfermeira que ponteia a boca de seu ex-marido, um vereador. Ela o amarra, ponteia a boca e seus olhos para ficarem abertos e digita na frente dele: “as palavras que devoram lágrimas.”. Roberto Menezes revelou que está satisfeito com a capa, pois a imagem representa a obra. O trabalho é do designer Raiser Júnior.

Durante algum tempo, arquivar capas de livros era um hobby para Roberto Menezes. “Eu posso dizer que pesquiso muito sobre capas de livros.”. Ele afirma que, apesar da Paraíba ter bons escritores, o mercado editorial não valoriza esteticamente as obras publicadas no estado. “Tem gente que faz livro que parece tese de doutorado. Eu acho que aqui na Paraíba os escritores não pensam muito na capa. Mais do que isso, nem pensam muito na qualidade dos livros. Saem muitos livros ruins aqui na Paraíba e isso se deve a não existir um mercado editorial no estado. Cada escritor faz o seu ou o estado paga.”.

Ilustrações

Não são só as capas que encantam leitores. As ilustrações dentro de um livro também são atrativos cativantes. Para a artista plástica Verushcka Guerra, as imagens falam mais que mil palavras. Com seu trabalho, ela já ilustrou diversos livros, inclusive a obra “Menina de Noite”, de Ronaldo Monte, lançado este ano na Bienal do livro, em São Paulo. Ela afirma: “A linguagem visual é tão comum em tantos espaços de nossa vida, seja em livros, seja em como queremos expressar quem somos em roupas, móveis e nossas expressões de identidade. Um livro ilustrado é simplesmente, para mim, parte de todas essas expressões.”.

Especializada em ilustrações de livros infantis, Verushcka conta que gosta de pesquisar a obra antes de iniciar seu trabalho. “A capa de um livro é sua identidade. Nela precisa estar exposta o foco principal do texto. Por isso tenho o hábito de conversar com os autores sobre o porquê de haver escrito aquele texto. 

Leio, pesquiso muito sobre os assuntos para estar ciente do contexto. Imprimo imagens e colo nas paredes para ficar totalmente imersa na história. De qualquer forma o que se vê é a minha linguagem visual da história, é a minha forma de contá-la.”. As imagens que produz são todas feitas em papel de aquarela ou cartão e com tinta acrílica. “Às vezes eu uso colagens de renda, sianinha e botões, como no livro "O dia que minha avó envelheceu” (da editora Cortez), pois tinha haver com o tema”, revela a artista. 

O escritor Ronaldo Monte comprova o aprofundamento do trabalho de Verushcka no livro “A Menina de Noite”. “Verushcka realmente conseguiu interpretar o espírito mágico do poema. Suas ilustrações valorizaram enormemente a leitura do poema. Não consigo mais pensar na “Menina de noite” como um texto independente das ilustrações.”.

Veruscka defende a ideia de que as boas ilustrações não ficam só para livros infantis. “Para mim elas acrescentam muita riqueza a qualquer tipo de texto. Considerado adulto, infanto-juvenil ou infantil.”. O designer João Faissal também compartilha da mesma opinião. Ele defende o uso livre da ilustração. “Hoje em dia já se mostrou que a ilustração não é algo somente infantil, pelo contrário, acho que a ilustração hoje em dia desperta a criança em cada adulto. E isso é encantador. Por isso você vê uma revista como a Piauí, toda ilustrada, com textos super complexos.”.

Imagem e imaginação

As ilustrações, porém, devem deixar espaço livre para o leitor poder imaginar. “Às vezes, a ilustração limita a imaginação do leitor. Quanto aos livros infantis, a ilustração deve servir para encantar, seduzir o pequeno leitor para que ele se apegue ao livro. Mesmo assim, acho que uma boa ilustração é aquela que dá margem à imaginação própria de cada criança”, argumenta Ronaldo.  

Em geral, a capa tem que passar a essência do livro. Porém, às vezes, o tiro sai pela culatra. Ronaldo Monte fala por experiência própria. “Nem todas as capas dos meus livros correspondem ao conteúdo deles. A capa do romance “Memória do fogo”, por exemplo, é muito feia e confusa, mesmo sendo de uma editora de porte como a Objetiva. Mandaram-me três sugestões para escolher uma. A que escolhi foi a que considerei melhor, mas, mesmo assim, é uma lástima.”. 

Mas os feios também podem ser amados. O encanto por um livro pode acontecer de qualquer jeito, seja pela atração física  de uma bela capa ou pelo interesse em determinado assunto. Onde quer que haja livros, acontece um romance. Enquanto a atração for física, visual e o deslumbre do leitor for apenas pela capa, a relação será só paixão. Mas à medida que o leitor vai conhecendo a obra, pode tornar-se amor. E o romance deixa de ser um gênero para ser uma história entre obra e leitor.



 Matéria publicada no Jornal Contraponto.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Bruno Gaudêncio aponta os lançamentos que se destacaram na literatura paraibana no ano de 2012

O ano de 2012 acabou. É hora de realizarmos uma avaliação do que melhor se produziu nas diversas áreas do conhecimento. Infelizmente ainda não instituíram uma espécie de Prêmio Jabuti no Estado da Paraíba, premiando os melhores livros de cada ano, segundo as suas categorias ou gêneros literários. Fiz uma lista básica dos que poderiam concorrer, de acordo com critérios pessoais e a partir de pesquisas que realizei em matérias da imprensa, doações que recebi e divulgações via redes sociais e blogs. As categorias escolhidas foram: poesia, romance, conto/crônicas, infantil/ juvenil e ensaio/pesquisa. Aos leitores que ainda não conhecem a literatura paraibana, esta é a oportunidade. Desejo a todos que fazem o Grande Campina um 2013 maravilhoso cheio de conquistas e realizações.

CATEGORIA POESIA 
André Ricardo Aguiar: A Idade das Chuvas (Editora Patuá).
Ed Porto: Quintessência (Editora Ideia)
Gustavo Limeira: Versorragia (Edições Funesc).
Hildeberto Barbosa Filho: Nem Morrer é Remédio (Editora Ideia). 
Linaldo Guedes: Metáforas de um duelo no Sertão (Editora Patuá).
W.J. Solha: O Marco do Mundo (Editora Ideia).

CATEGORIA ROMANCE
Archidy Picado Filho: Os Cães do Diabo (Editora Ideia).
Maria Valeria Rezende: Ouro dentro da cabeça (Editora Autêntica).
Marilia Arnaud: Suíte de Silêncios (Editora Rocco).
Paulo Vieira: O Vôo da Borboleta Negra (Edições Funesc).
Roberto Menezes: As Palavras que devoram Lágrimas (ou a Felicidade Cangaceira) (Edições Funesc).

CATEGORIA CONTO/CRÔNICAS
Astier Basílio: Varadouro Varadouro (Edições Funesc).
Ronaldo Monte: O Baú do Anão (Editora UFPB). 
Saulo Mendonça: Face Oblíqua (Edições Funesc).
Wellington Pereira: Catálogo Ilustrado da Vertigem Humana (Gráfica JB).

CATEGORIA INFANTIL E JUVENIL
Jackson Franco: Verdinha, a pequena Cana de Açúcar (Edições Funesc).
Jairo Cézar: Rapunzel e outros poemas de Infância (Forma Editorial).
José Camilo Léris: O mundo alado e o mundo florido ou mundo colorido (Edições Funesc).
Norma Alves: Isaura, velho como o vento ( A União).
Ronaldo Monte: A Menina de Noite (Paulus).

CATEGORIA ENSAIO/PESQUISA
Abrahão Costa Andrade e Hildeberto Barbosa Filho: Augusto dos Anjos: Origem e Modernidade (Editora Opção). 
Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues: O Fole Roncou (Jorge Zahar Editora).
Chico Pereira: Paraíba: Memória Cultural (Gráfica JB). 
Ricardo Anísio: Forró de Cabo a Rabo (Editora Bagaço). 
Rinaldo de Fernandes: Vargas Llosa: Um Prêmio Nobel em Canudos (Garamond).

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Affonso Romano de Sant'Anna no ônibus



Toda manhã a barba
cresce sobre a face
da terra e do homem
pedindo o orvalho
                            – e a navalha.
Presto, acordo a lâmina
e deslizo um óleo santo
sobre o imolado rosto da manhã.

Do chuveiro escorre a água
sobre as partes circundadas pela mão
alegre. Os poros se aliviam
descendo brancas bolhas perna abaixo.

É o banho: ritual aquático e diário
Daquele que se purifica e matinal
Desdobra as felpas da toalha
E sai ungido em veste pura.

Te vestirei com meu suor,
Te banharei toda manhã,
Te alimparei , te cuidarei
Nas unhas e dentições .

Os teus pelos polirei,
Os teus fios cortarei
E como potro bravio
Pelos pastos crescerei.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Professor é o MAIOR influenciador no hábito da leitura

Por Gustavo Magnani
Este é mais um post daquele nosso meio velhinho estudo sobre a pesquisa do INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Acabou ficando um pouco pra trás, mas pretendo retomar essas análises quinzenalmente. Hoje, parto da publicação do jornal portal Últimosegundo. Aqui trataremos do que foi, enfim, comprovado através da pesquisa. No final do post linkarei todos os textos desse nosso estudo.
Se o País quiser melhorar o índice de leitura dos seus habitantes, é fundamental investir na capacitação do professor para esse fim. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro no ano passado, mostrou que os professores são os maiores influenciadores desse hábito. Entre as 5 mil pessoas ouvidas em todo o Brasil, 45% apontaram os mestres como tal.
Essa foi a terceira pesquisa da série (iniciada em 2001) e, pela primeira vez, os docentes aparecem no topo da lista. No levantamento anterior, feito em 2007, as mães eram a figura mais lembrada nesse quesito. Elas apareciam com 49% das indicações, ante 33% dos professores. Dessa vez, tiveram dois pontos porcentuais a menos que eles: 43%.
“Isso mostra a crescente importância da escola frente ao papel dos pais, que muitas vezes não conseguem dar esse exemplo”, afirma Karine Pansa, presidente do Instituto Pró-Livro. “Logo, se tem esse status de influenciador, o professor precisa ser letrado, gostar de ler.” [RETIRADO ÚLTIMOSEGUNDO].
Hoje em dia, com cada vez mais mães trabalhando fora de casa e filhos cada vez mais² indo pra escola mais cedo, a tendência é de que o número de professores influenciadores cresça. Ótimo quando o professor é apegado à leitura e outras áreas importantes da vida. Uma pena quando o professor, ou é despreparado, ou trabalha em condições tão precárias que antes de se preocupar com a leitura, precisa se preocupar com o estômago vazio de seus alunos.
Não é que mães não influenciem, veja bem, sua influência ainda é grande. Mas, na já famosa correria da vida moderna, quando a família se “reúne” [cada vez menos], a leitura dificilmente será ressaltada. E não só a leitura, a própria escola em si. Afinal, menos tempo, menos espaço pra conversa. Imaginem então, conversas sobre livro, incentivo etc. É claro que esse é uma observação que não abarca todas as famílias brasileiras. Afinal, muitos pais e mães ainda possuem tempo para os filhos. Muitos. Não todos. Talvez, nem a maioria.
No entanto, a máxima importância dos professores foi comprovada. É cada vez mais deprimente ver profissionais que servem como espelhos, serem denegridos e pouco valorizados. E não falo só dos professores universitários que estão em greve. Falo também dos professores de base, dos de ensino médio, e de tantos outros. É difícil admitir tanto descaso com seres que são formadores de pessoas. Enfim, voltemos à pesquisa.
Veja o gráfico completo:

É interessante ver o grande salto do professor e a queda do papel da Mãe [que ainda possui uma relevância gigantesca]. Mas o maior salto de todos foi o do Pai. Cresceu em 13% o número de pessoas que disseram ter sido influenciadas por ele. Difícil precisar o motivo, mas talvez seja o mesmo do “mundo moderno”: a maior participação do pai no cotidiano. Eaí continua a descrição de influenciadores, até que paramos em outro curioso dado que é, justamente, pessoas que leram por influência de Ninguém. 
E posso dizer que faço parte desse grupo. Tive pessoas que incentivaram [como todos, qual professor nunca falou que é "bom ler"?], mas nenhum grande influenciador. Por exemplo, minha mãe sempre falava da importância da leitura. Mas posso dizer que aconteceu, justamente, o contrário. Eu a influenciei mais do que ela me influenciou. Tive uma amiga que me fez “abrir o primeiro olho” pra leitura, e esse talvez tenha sido o empurrão mais relevante. No entanto, se me perguntassem, acredito que eu faria parte dos 17%. E isso cria um questionamento interessante, no qual acredito que podemos finalizar o post [já que tratamos do aspecto da importância dos professores e outras observações relevantes]:
QUEM INFLUENCIOU VOCÊ? 
Deixe seu comentário não só acerca do seu grande influenciador, mas também da importância crucial dos professores. Curta/compartilhe e se possível, vote no literatortura para TOPBLOG2012.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Thiago Braga


Versos de circunstância


Sic transit gloria mundi


Que o mundo sempre acaba

é fato certo e, se

você duvida, saiba

que vai chegar sua vez



tal como aos Itza Maias

Martín de Urzúa trouxe

o fogo e aos Neandertais

o tempo, nova espécie



o tiro e o câncer ou

a mera idade vai

fazer chegar o alô!



até você e mais

não digo, pois secou

para esta estrofe a raia.


Mais sobre thiago no 
http://thiagoliafook.blogspot.com.br/