quarta-feira, 16 de março de 2011

Poemas e Poetas IV

Anna Apolinário

Rosa na Redoma

A noite queima em minhas veias
Enquanto encho essa taça
Com as pétalas de um vinho sísmico
De meu ventre gritam versos de sangue
Espasmos de fel & fogo

Deito-me no chão de vidro deste século morto
Farta das verborragias do tempo e dos amantes absurdos
Um piano anuncia novos acordes para o dia
Esta redoma tornou-se um alcova de anjos ébrios e obscenos

A pálpebra cerrada do meu querubim
Ternura que arde & atormenta
Sereia encantadora de serpentes
Seu choro de rouxinol me fere
Seu pecado amordaça meu coração

De volta ao escuro do quarto sem paredes
Veludo estilhaçado pelas flechas da chuva
Minha semente viceja nesse útero terrível
Estrelas lúbricas desenham um segredo neste livro.




Edita o blog: http://www.rosanaredoma.blogspot.com/


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Águia Mendes


Poema da vagina



a vagina
é um bolso
um calabouço
um poço no jardim.

a caixa de Pandora
a lâmpada de Aladim
que homens adoram
e mulheres que não
e que sim.

a vagina é uma chama
uma chaminé 
o chapéu do pênis
o tênis do seu pé.

a boca de um jacaré
sem dentes
um galpão
uma gruta
um grotão
um cano de passar
gente.

a vagina
é uma mala
uma maleta
um vale
uma valise
uma valeta.

um cone
um canal
um monte
uma fonte
um horizonte
vertical.

a vagina
é uma boca
com gula
um forno
uma fornalha
uma fagulha.

Um viaduto
um aqueduto
um bornal
a caixinha de rapé
para o nariz do pau.


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André Ricardo

Terceira vigília

Mulher nua dormindo. O mistério em pétalas.
Os labirintos semicerrados, como se deuses
movessem a mobília dos sonhos.
A cama é uma mulher silenciosa. Gótico barco
e páginas de antigos mares na insônia
das palavras caladas, âncoras de sombra.
Noite entre mulher e vigília. 0 luar salta a janela
(uma lagoa) e por uma fresta mínima
a ternura sonha pequenos dragões.


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