Golpe de Estado
Hoje, cativo e sem perspectiva de soltura,
o poeta escreve com pedaços de telha
a sua autobiografia.
A parede é pouca e portanto é preciso
economizar sentenças. Eis porque
o poeta escreve em versos curtos:
Quem diria num pacato janeiro de chuva
meu coração ditador seria deposto.
Bem feito!, dou-lhe uns esporros.
Coração de esquerda que se preze
não pode vacilar no seu posto
nem cochilar os coturnos no seio
da pátria.
Do contrário, surge das cortinas
desfraldadas da madrugada
uma extrema-direita irresistível
com seus olhos castanhos sutilmente vesgos
tramando celulites à mostra
num decote generoso
de batom caqui e esmalte vermelho
para cravar um McDonald’s
bem no meio da sua Cuba.
do blog http://luisfernandomifo.blogspot.com.br/
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