Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB
O livro-brinquedo é
um suporte que atrai a atenção das crianças pelo seu formato diferenciado,
características ornamentais e apelos sensoriais.
(Ana Paula Paiva e
Amanda Carla M. Carvalho. Livro-brinquedo, muito prazer).
Renata Junqueira de Souza e Berta Lúcia Tagliari Feba
organizaram o livro “Leitura literária na escola: reflexões e propostas na
perspectiva do letramento” (Ed. Mercado das Letras, 2012), incluindo textos de especialistas na área da literatura
para crianças e destaque para as criações recentes que valorizam as histórias
em quadrinhos, os livros de imagens, as narrativas curtas e os
livros-brinquedo.
O 1º. capítulo é dedicado a essa crescente modalidade
infantil – o livro-brinquedo. Com o título “Livro-brinquedo, muito prazer”, as
professoras Ana Paula e Amanda Carla analisam aspectos pertinentes a esta nova
vertente literária que alia as palavras
às cores, formas, dobraduras, movimentos, jogos, surpresas.
As autoras afirmam que o livro-brinquedo, enquanto
denominação específica, ainda é pouco conhecido. No Brasil, o termo passou a
figurar nas capas de livros infantis como chamada entre os anos de 2009 e 2010.
Foi por esse período que passou a integrar a categoria “livro-brinquedo” na
seleção da FNLIJ. Lembramos, no entanto,
que a escritora Ísis Valéria ( anos 1980) já produzia livros de panos
para crianças enquadrados nessa categoria. Se pensarmos em tempos mais antigos,
vamos encontrar os álbuns ilustrados que encantavam as crianças. Não tínhamos os recursos modernos da ilustração, os
ricos projetos editoriais, mas
era um deleite olhar esses álbuns.
O livro-brinquedo é um livro “pop-up”, isto é, um livro
que salta para fora do livro, que cria janelas inesperadas. Os franceses
denominam de “livre jeu” a esta modalidade literária que apresenta
características bem lúdicas. A novidade do projeto gráfico e a diagramação
despertam o interesse sensorial das crianças e aguça sua curiosidade.
Podemos identificar o livro-brinquedo pela presença de
algumas características e destacamos: a) transgressão de padrão do livro
tradicional; b) ludicidade; c) possibilidade de manuseio e montagem; d)
estímulo ao jogo; e) surpresa visual.
Em 2012, dois livros nos chamaram a atenção por reunir
essas características e pelo instigante convite à interação com o leitor. São eles:
“Cadê o capitão Sardinha?” (Ed. Globo) e “Kokeskis” (Ed. Salamandra).
“Cadê o capitão Sardinha” foi escrito e ilustrado por
Maté e dá oportunidade ao pequeno leitor de brincar de esconde-esconde. Maté é
escritora e ilustradora francesa, radicada no Brasil e autora de vários livros
que receberam o selo Altamente
Recomendável da FNLIJ.
A história se passa em um antigo casarão que
mais parece um barco. Os personagens Tita, Beto e o gato Miado se divertem
procurando o vovô Sardinha pelos cômodos da casa. Onde se escondeu o vovô
Sardinha? Não sabemos. Ele gosta de lugares inusitados – dentro da geladeira? No baú de tampa de couro? Tudo é possível.
No jogo de esconde-esconde, abas cobrem ilustrações que
quando desveladas reservam surpresas. A criança manuseia o livro e parece que
não vai encontrar o capitão Sardinha. Mais uma vez, vem a pergunta: Onde está escondido esse velhinho peralta?
Surpresas e mais surpresas aguardam o ansioso leitor.
Além do lúdico que passeia nas páginas desse livro, o
pequeno leitor se delicia, no primeiro contato, com a sugestiva capa – um
turbante de pirata e um tampão preto no olho do pirata. E surge a dúvida: será que o capitão Sardinha é um
pirata?
“Kokeskis”, que em japonês significa boneca, é um livro
com formato distinto – dentro de uma boneca/caixa aparece o livro “O segredo de
Mitsuko”, conto de inspiração japonesa, recontado por Brigitte Delpech e
ilustrado por Corinne Demuyunck; um móbile com desenho colorido de uma boneca japonesa para pendurar no carrinho
de bebê ou em outro local escolhido pela criança; um caderno de desenhos com
quatro lindas kokeshis para a criança pintar. (Os desenhos são em preto e
branco); várias folhas de papel colorido para origami. Acompanhando as folhas
coloridas de origami vem um livrinho contendo todas as explicações necessárias
para a confecção de origamis, um trabalho artesanal de origem japonesa.
“O segredo de Mitsuko”, conto tradicional no Japão, traz
uma bonita história de amor que envolve uma moça tecedeira de quimonos de seda
para noivas e o filho de um rico vendedor de chás. Mitsuko, a jovem tecelã, apaixonou-se
pelo jovem Jiro-san, mas entre eles
havia uma grande distância social.
Jiro-san era rico, filho de um pai poderoso e Mitsuko era uma pobre moça que
morava com o avô, bordava quimonos de
noivas, fazia pipas para crianças e trabalhos em origami. Um dia Jiro-san adoeceu
e Mitsuko, com a ajuda do avô, produziu sete lindas “kokeskis” e ofereceu ao
rapaz com a finalidade de
curá-lo. Ao ver os lindos presentes,
vindos daquela que tinha mãos de fada, Jiro-san recuperou a saúde. O resto da história
não precisamos recontá-la.
Esses dois livros se enquadram na categoria “livro-brinquedo”
e possibilitam manuseio e montagem
(confecção de origamis), fogem do padrão tradicional (livro em formato de
boneca) – “Kokeskis” e propicia o jogo
do esconde-esconde – “Cadê o capitão Sardinha? “
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