sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Poema de Vanildo Brito


Agradeço a amiga Petra Ramalho pelo envio dos poemas do nossa grande Vanildo.

ELEGIA

Quando enublou-se o lume do meu sol
E se tornaram alvas minhas têmporas,
Tardos os passos, húmido o semblante,
Vi a face do tempo em cego espelho.
Não era o fulvo e maturado tempo
Que se mirava nos meus olhos baços,
Mas um tempo vazio, carcomido
Pelo estigma da dor e da tristeza.
Diante do abismo da implacável morte
Em vão busquei o constelado espaço
Mas os de outrora fulgurantes astros
Sobre a minha cabeça escureceram.
As terras percorri e os horizontes
Do aberto mar em sonhos desatados.
Escuro via apenas, se é que via
Alguma coisa em meu olhar opaco.

Eis que me fico. Sobre as derribadas
Faces, a névoa das ardentes lágrimas.
Depois secam-me os olhos. E me sinto
Esvaziado ante esse tempo nu.
Por fim me calo. E permaneço quedo
E escurecido, náufrago rochedo
Nos desvãos desse mar emparedado,
Até que venha a sempiterna face
Redimir-me da sombra que me cerca.

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