O Enterro de Chico Buarque
Os pés unidos agora
As mãos em prece
Enrolado em bandeira
Fluminense
A vermelha estrela
Cravada na pele
qual tatuagem
Os olhos verdes
nada pesam
Flutuam
Azulados
O cortejo em cadência desce
Samba primeiro
Estação derradeira
Choram suas pequenas
Chora toda mangueira
Cova quadrada
Não lhe cabe
Bem no fundo já se sabe
Não lhe cabe o mundo
Eterno Chico,
Não lhe cabe cova
Não lhe cabe o tempo
Não há cabimento
A tropa de choque impede a comissão de frente de passar. A bateria tropeça no recuo. O caixão se perde entre as baianas.
Tanta gente,
O samba invade
Rasga-lhe o corpo
Tem pra todos
ma non troppo
Bebem de Francisco
Nas entranhas,
nenhum ai
- Politeama! Politeama! – desatina o locutor.
Na grama do estádio imaginário da Lapa, morto, o vitorioso é plantado pelo povo que seguia a passeata.
Explode o som
Nos morros, é trégua
Todos agora no carnaval
Poetas, generais
Homens de escafandros
Cantando, bebendo
Transitando
na contra-mão
Chico assinaria em baixo
O cortejo distorcido
Vivo, teria ido
Puxando o cordão
Destino de malandro
O tempo desacata
não lhe prende caixão
não lhe prende gravata
Não tem cova que o aceite
Não tem cristão que já não tenha
imitado seu grito
Será ali sua casa, nas borbulhas dos colchões incendiados dos motéis e das prisões. No grito de alerta, do grito de quero mais. Ele chegará ao canto da língua de cada um, atiçando a saudade e a vontade.
Deus lhe pague!
Publicado no suplemento Correio da Artes do Jornal a União em maio de 2010, página 24. A ainda colocaram Beto Menezes, gente é Betomenezes (acho que isto foi André Ricardo que ajudou fazer por pirraça!).
FONTE: http://pedranorim.com/
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