terça-feira, 3 de abril de 2012

RAPUNZEL E OUTROS POEMAS DA INFÂNCIA – um pouco da história do autor e do livro. *

Por Neide Medeiros Santos


    A produção literária infantil no Brasil cresce de ano para ano. Como membro votante da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba, constatamos esse crescimento pelo número de livros recebidos das editoras.  Se a produção está crescente em termos de livros em prosa para crianças e jovens, o mesmo não se pode dizer quando se trata de poesia. São poucos os livros de poesia que se publica no Brasil para o público infantil. Em 2012, 26 livros para crianças foram agraciados com o selo “Altamente Recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, sem falar nos livros de autores estrangeiros traduzidos e adaptados para crianças, geralmente com o predomínio da prosa.  Dentro desse rico universo infantil, apenas cinco livros de poesia infantil receberam a mesma láurea.
 
Alguns autores já consagrados, como Ferreira Gullar, Ricardo Azevedo, Ricardo Cunha Lima, vêm mantendo acesa a chama da poesia publicando livros destinados a esse seleto público – leitores de poesia infantil. Outras vezes, poemas que não foram destinados a crianças aparecem em novas edições com ilustrações que enriquecem o texto, citamos, entre outros – “Berimbau e outros poemas” de Manuel Bandeira e “O prato azul-pombinho”, de Cora Coralina, este último com bonitas ilustrações de Ângela Lago (Ed. Global, 2001). Diante desse quadro um pouco desolador para os poetas, é motivo de regozijo encontrar este livro de Jairo Cézar – “Rapunzel e outros poemas da infância” publicado na Paraíba por uma editora da nossa terra. Parabenizamos os editores Carlos Roberto Oliveira e Juca Pontes que apostaram neste livro e acreditam, como muitos sonhadores, que a poesia modifica o mundo e as pessoas.
 
Feitas essas breves considerações sobre o panorama atual da literatura infantil no Brasil, vamos conhecer um pouco do autor de “Rapunzel”.
 
    Jairo nasceu em João Pessoa, mas mudou-se ainda muito pequeno para a terra de Augusto dos Anjos e conviveu desde cedo com a poesia do autor de “Versos Íntimos”. Certamente, foi leitor do EU desde a mais tenra idade.  Seu pai, o artista plástico João Batista, homem sensível às Artes, soube incutir no filho o amor às letras e à poesia. 
 
    Na entrevista concedida à Mariana Fernandes, no jornal “Contraponto”, B-3 (16 a 22 de março de 2012), Jairo confessa que até os 21 anos não tinha escrito nada e foi a entrada na Universidade que lhe despertou o gosto pela literatura. No curso de Letras, começou a conhecer os grandes clássicos literários.  Mas foi em uma Feira Literária de Sapé que sentiu, pela primeira vez, a vontade de escrever poemas para o público infantil.
 
Rememoremos o fato. Na Feira Literária de Sapé, uma menina com cerca de 8 a 10 anos, aproximou-se do balcão de exposição de livros e confessou para Jairo que gostava muito de ler, mas não havia livros em sua casa nem tampouco na escola. Esse fato lhe provocou mal estar e resolveu, naquela ocasião, que deveria fazer alguma coisa em prol dessa criança e de outras que não tinham acesso aos livros.  Surgiu, assim, o desejo de criar um projeto que procurasse tornar o livro mais próximo da criança e criou o PILE.  (Programa de Incentivo à Leitura na Escola) que objetiva promover a prática da leitura no ambiente da escola para todas as pessoas que integram a comunidade escolar – alunos, pais, funcionários. Esse projeto é desenvolvido, de forma mais específica, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Gentil Lins, de Sapé.  O segundo motivo para escrever um livro de poesias para crianças se deve ao nascimento de sua primeira filha – Beatriz que, já nasceu com o destino das musas.
 
     Vamos, agora, ao encontro do livro. Chamamos a atenção do leitor para o subtítulo – é bem preciso: “e outros poemas da infância,” e  não  outros poemas para a infância, mas da infância, isso significa que esses poemas integram o universo infantil, são inerentes a esse universo.     
 
    Com relação ao título “Rapunzel”, não espere o leitor encontrar neste livro contos tradicionais em forma de poesia. Os pequenos poemas apenas intertextualizam com as histórias tradicionais e convidam para um mergulho maior nos contos tradicionais e populares. A história dos três porquinhos, de forma mínima, está sintetizada nesses pequenos versos:
 
    Palha, madeira ou tijolo?
    Onde será que mora o lobo?
 
    A história de Pinóquio, que é uma longa narrativa cheia de aventuras e peripécias, vira este poemeto:
 
    O menino disse
    Que a menina ouviu
    Que de tanto dizer a verdade,
    O nariz do Pinóquio sumiu!
 
 Ao lado do reconto poético, há poemas que falam sobre animais, universo muito próximo da criança. A joaninha que é diminuta até no próprio nome foi assim descrita:
 
    A joaninha
    saiu sem sombrinha,
    chuva de café
    na sua roupinha.
   
 Ao todo são 25 poemas que levam o pequeno leitor a interagir com o livro, seja através da leitura dos poemas ou interferindo nas ilustrações em preto e branco de João Batista, feitas com o intuito pedagógico para que as crianças possam colorir.
 
     As ilustrações coloridas do livro foram feitas por Tônio. Conhecemos o trabalho desse artista plástico no “Correio das Artes”. É um dos bons ilustradores da Paraíba. Algumas ilustrações do livro, apresentadas nos jornais locais, dão a dimensão do traço seguro e do jogo do colorido utilizado por esse mago do pincel.
 
    Como leitora e crítica da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, gostamos de ver o livro bem de pertinho, senti-lo, cheirá-lo, olhá-lo detidamente. Examinar capa, contracapa, título, subtítulo, epígrafes, ilustrações, sentir o rendilhado entre texto e contexto, entre o texto e a ilustração. 
 
    Alguém já disse que o trabalho do crítico é examinar o avesso do bordado. Aquele que fez essa afirmativa em tom de censura merece esse esclarecimento.  É pelo avesso que descobrimos se o bordado está bem feito, é pelo avesso que descobrimos o valor literário de um texto.
 
(* Texto apresentado na Livraria Leitura no dia do lançamento do livro “Rapunzel e outros poemas da infância”. João Pessoa, 24 de março de 2012).
 
(* Neide Medeiros Santos é crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba e mantém uma coluna sobre literatura infantil no jornal “Contraponto”). 

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