Por Lau Siqueira
O alto índice de aprovação do governo Dilma Roussef , de certa forma, tem salvado a pele da ministra da Cultura, Ana de Holanda. Não sei como e nem até quando, mas a presidenta tem bancado sucessivas e cada vez mais amplas insatisfações com os rumos do Ministério da Cultura. Aqui e ali testemunhamos alguma ação pontual, como a proposta do Museu do Trabalhador. Mas, qual é a política cultural da ministra Ana de Holanda? Apenas o desmonte do que foi construído? No governo Dilma muitos setores estão em expansão enquanto a cultura amarga um indisfarçável retrocesso. O ministério vive uma verdadeira metástase administrativa e política, desprendendo-se lentamente dos caminhos criados a partir da gestão de Gilberto Gil, continuada por Juca Ferreira.
Um dos capítulos desta crise que nos parece merecedor de maiores atenções se refere ao desmonte das políticas para o livro, a leitura e a literatura. Por enquanto, as críticas são originárias das bases de apoio do governo. Principalmente da base que viu o ministério dar um passo histórico no governo Lula, com a batuta do ex-ministro Gilberto Gil. O baiano deu régua e compasso para a construção de uma política de cultura no país do futebol. Foi construída uma história que, aparentemente, não interessa mais. Mas, nesta cruzada acredito que até os mandacarus morrem de sede. Os Pontos de Cultura foram transformados em reticências intermitentes. O Sistema Nacional de Cultura pode até virar uma luxuosa publicação, mas aos poucos vai se desprendendo das aldeias. Enfim, estamos carentes até mesmo de debate, de proximidade, de olho no olho.
Esta semana, uma carta aberta à Presidência da República, assinada por 9 dos 15 representantes do Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura acendeu o sinal de alerta mais uma vez. A própria carta revela o esgotamento das possibilidades de negociação interna e aponta para uma ruptura preocupante. Na verdade o que pesa é o rumo das prioridades. Logicamente isso não interessa ao globalizado e neoliberalizado mercado do livro. Não temos dúvidas que uma política pública para o livro, leitura e literatura, significa um confronto direto com o que está posto e penso que a pauta é esta. Afinal, somos destaque internacional. O Brasil é um país que produz em grande escala, proporcional e contraditoriamente, livros e analfabetismos. Mas, as coisas não são assim tão incompreensíveis. A carta do Colegiado afirma que não há clareza orçamentária quanto a internacionalização proposta pela Fundação Biblioteca Nacional. Na verdade acredito que esta clareza existe a partir do momento que observamos uma crescente transnacionalização do mercado do livro. Infelizmente parece que este é o foco primordial da FBN. O fato é que grandes editoras brasileiras, como a Moderna, já não são tão brasileiras assim. O “fogo de monturo” da internacionalização é, logicamente, a melhor estratégia para privilegiar os tubarões do mercado. Há um visível abandono até mesmo de um debate minimamente democrático.
O fato é que as ações do MinC andam pelas tabelas e ninguém mais está suportando fazer de conta que está tudo bem. Recentemente li que o ex-ministro Juca Ferreira (que considero um aliado, ex-PV e filiado ao PT) aceitaria assinar um documento pedindo a saída da ministra, caso fosse convidado. Não vejo as coisas de forma tão personalizada. Não se trata de mudar as moscas, como se diz no popular. Na verdade o MinC se transformou numa locomotiva tentando se movimentar na grama úmida do desenvolvimento brasileiro. Está fora dos trilhos e sem capacidade de diálogo com as suas diversas estações de influência. Sufocando políticas importantes e reduzindo bruscamente a marcha da articulação regional. O pulso ainda pulsa, mas o fato é que há um indisfarçável câncer na goiaba. É tempo de mudar o rumo e retomar o leme para não lamentarmos um triste naufrágio. Em tese, uma política para o livro, leitura e literatura deveria ser de interesse do mercado editorial. No entanto, o papo é outro. Os barões estão pouco ligando para a gritaria nos porões. Para eles já está de bom tamanho vender montanhas de celulose para o MEC e para as secretarias estaduais e municipais de educação. Afinal, como disse, os donos da memória editorial brasileira estão cada vez mais globalizados e transnacionalizados. O foco desta minúscula e bem articulada elite é o lucro fácil oferecido pelos cofres públicos. Um cliente poderoso que precisa investir em educação e, logicamente, desenvolver uma educação sem livros seria como obrigar um pássaro a voar sem asas. O que nos parece mais grave é ver a Fundação Biblioteca Nacional afundada neste capim raso e seco.
Está na hora da presidenta Dilma tomar uma posição quanto aos rumos do Ministério da Cultura. Afinal, parece que na passagem de governo quase tudo foi melhorando. Temos uma presidenta que orgulha o Brasil, pela sua postura, pela sua extrema capacidade de aliar o rigor com a generosidade. No entanto, o MinC está descendo a ladeira. A carta aberta dos representantes da Câmara Setorial do Livro, Leitura e Literatura soa como um pedido de socorro. Talvez seja o caso de retomarmos a marcha. Até para que a política de incentivo ao livro popular, anunciada pela presidenta, não se transforme numa grande frustração. Afinal, não existe política para o livro sem uma política de leitura. Não existe política de leitura sem política de incentivo à criação literária. Não existe educação de qualidade e cidadã sem livro, leitura e literatura. “A literatura contém muitos saberes”, dizia Roland Barthes. A íntegra da carta aberta destes defensores de políticas públicas para o livro, a leitura e a literatura você poderá conferir no meu blog www.lau-siqueira.blogspot.com . Tire suas conclusões sobre a deriva de um barco que já estava aprendendo a se conduzir pela tempestade, no resgate de um sonho brasileiro que precisa vestir-se de realidade.
Um dos capítulos desta crise que nos parece merecedor de maiores atenções se refere ao desmonte das políticas para o livro, a leitura e a literatura. Por enquanto, as críticas são originárias das bases de apoio do governo. Principalmente da base que viu o ministério dar um passo histórico no governo Lula, com a batuta do ex-ministro Gilberto Gil. O baiano deu régua e compasso para a construção de uma política de cultura no país do futebol. Foi construída uma história que, aparentemente, não interessa mais. Mas, nesta cruzada acredito que até os mandacarus morrem de sede. Os Pontos de Cultura foram transformados em reticências intermitentes. O Sistema Nacional de Cultura pode até virar uma luxuosa publicação, mas aos poucos vai se desprendendo das aldeias. Enfim, estamos carentes até mesmo de debate, de proximidade, de olho no olho.
Esta semana, uma carta aberta à Presidência da República, assinada por 9 dos 15 representantes do Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura acendeu o sinal de alerta mais uma vez. A própria carta revela o esgotamento das possibilidades de negociação interna e aponta para uma ruptura preocupante. Na verdade o que pesa é o rumo das prioridades. Logicamente isso não interessa ao globalizado e neoliberalizado mercado do livro. Não temos dúvidas que uma política pública para o livro, leitura e literatura, significa um confronto direto com o que está posto e penso que a pauta é esta. Afinal, somos destaque internacional. O Brasil é um país que produz em grande escala, proporcional e contraditoriamente, livros e analfabetismos. Mas, as coisas não são assim tão incompreensíveis. A carta do Colegiado afirma que não há clareza orçamentária quanto a internacionalização proposta pela Fundação Biblioteca Nacional. Na verdade acredito que esta clareza existe a partir do momento que observamos uma crescente transnacionalização do mercado do livro. Infelizmente parece que este é o foco primordial da FBN. O fato é que grandes editoras brasileiras, como a Moderna, já não são tão brasileiras assim. O “fogo de monturo” da internacionalização é, logicamente, a melhor estratégia para privilegiar os tubarões do mercado. Há um visível abandono até mesmo de um debate minimamente democrático.
O fato é que as ações do MinC andam pelas tabelas e ninguém mais está suportando fazer de conta que está tudo bem. Recentemente li que o ex-ministro Juca Ferreira (que considero um aliado, ex-PV e filiado ao PT) aceitaria assinar um documento pedindo a saída da ministra, caso fosse convidado. Não vejo as coisas de forma tão personalizada. Não se trata de mudar as moscas, como se diz no popular. Na verdade o MinC se transformou numa locomotiva tentando se movimentar na grama úmida do desenvolvimento brasileiro. Está fora dos trilhos e sem capacidade de diálogo com as suas diversas estações de influência. Sufocando políticas importantes e reduzindo bruscamente a marcha da articulação regional. O pulso ainda pulsa, mas o fato é que há um indisfarçável câncer na goiaba. É tempo de mudar o rumo e retomar o leme para não lamentarmos um triste naufrágio. Em tese, uma política para o livro, leitura e literatura deveria ser de interesse do mercado editorial. No entanto, o papo é outro. Os barões estão pouco ligando para a gritaria nos porões. Para eles já está de bom tamanho vender montanhas de celulose para o MEC e para as secretarias estaduais e municipais de educação. Afinal, como disse, os donos da memória editorial brasileira estão cada vez mais globalizados e transnacionalizados. O foco desta minúscula e bem articulada elite é o lucro fácil oferecido pelos cofres públicos. Um cliente poderoso que precisa investir em educação e, logicamente, desenvolver uma educação sem livros seria como obrigar um pássaro a voar sem asas. O que nos parece mais grave é ver a Fundação Biblioteca Nacional afundada neste capim raso e seco.
Está na hora da presidenta Dilma tomar uma posição quanto aos rumos do Ministério da Cultura. Afinal, parece que na passagem de governo quase tudo foi melhorando. Temos uma presidenta que orgulha o Brasil, pela sua postura, pela sua extrema capacidade de aliar o rigor com a generosidade. No entanto, o MinC está descendo a ladeira. A carta aberta dos representantes da Câmara Setorial do Livro, Leitura e Literatura soa como um pedido de socorro. Talvez seja o caso de retomarmos a marcha. Até para que a política de incentivo ao livro popular, anunciada pela presidenta, não se transforme numa grande frustração. Afinal, não existe política para o livro sem uma política de leitura. Não existe política de leitura sem política de incentivo à criação literária. Não existe educação de qualidade e cidadã sem livro, leitura e literatura. “A literatura contém muitos saberes”, dizia Roland Barthes. A íntegra da carta aberta destes defensores de políticas públicas para o livro, a leitura e a literatura você poderá conferir no meu blog www.lau-siqueira.blogspot.com . Tire suas conclusões sobre a deriva de um barco que já estava aprendendo a se conduzir pela tempestade, no resgate de um sonho brasileiro que precisa vestir-se de realidade.
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