Por Audaci Junior
"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem", um dia escreveu o poeta Mário Quintana (1906-1994).
Para formar novos leitores no Brasil, os livros devem ser folheados e narrados em voz alta desde o berço, vide a franca ascensão da literatura infantil desde 2007 até os dias atuais, em pesquisa recentemente realizada pelo Instituto Pró-Livro.
As informações do instituto apontam o paulista Monteiro Lobato, 'pai' da literatura infantil e dono do Sítio do Picapau Amarelo, no topo da lista de escritores mais admirados no geral. O ranking formado por 197 literatos foi citado na pesquisa divulgada no 2º Seminário Nacional Retratos da Leitura no Brasil, realizado mês passado, em Brasília.
Nesta quarta-feira é comemorado 130 anos do autor de Reinações de Narizinho, cuja data também é comemorada como o Dia Nacional do Livro Infantil, instituída desde o dia 8 de janeiro de 2002.
“O adulto também gostará de ler se o livro infantil for bom”, garante André Ricardo Aguiar, autor de livros do gênero como O Rato que Roeu o Rei (Rocco). “Tem que ter uma narrativa, uma história pra contar, e não dar uma ideia de que a criança é um leitor bobinho, que pode ser encantado por clichês.”
“O livro infantil tem que agradar a criança em primeiro lugar”, afirma Bráulio Tavares, colunista do JORNAL DA PARAÍBA e vencedor do Jabuti na categoria livro infantil por A Invenção do Mundo pelo Deus-Curumim (Editora 34), em 2009. “Agora, caso agrade o adulto também será bom, tanto no ponto de vista comercial, quanto no literário.”
Bráulio Tavares confessa que é difícil para ele escrever para o gênero, impedindo-o de colocar um estilo mais rebuscado, julgando que, em princípio, a criança não vá entender. “Sempre tem um crítico sobre seu ombro quando você vai escrever, mesmo se for imaginário.”
A premiada A Invenção do Mundo pelo Deus-Curumim está na estante de literatura infantil nas livrarias por um acidente. “Foi escrito como um roteiro de balé”, relembra Bráulio. “O espetáculo não foi montado e eu fiz algumas alterações para ser um livro infantil.”
“A criança é mais sábia que o adulto. A dificuldade reside nisso”, afirma Jairo Cézar, que lançou no mês passado, em João Pessoa, a obra Rapunzel e Outros Poemas da Infância (Forma Editorial).
“O escritor tem que ter talento pra coisa porque a criança é um leitor exigente”, admite André Ricardo, que está preparando sua próxima publicação, Pequenas Reinações, pela editora Escrituras ainda este ano.
Cézar ainda aponta a carência do livro em verso dirigido para os pequenos. “Existe uma grande produção de literatura em prosa, diferente dos feitos em versos. Dos 40 livros recomendados pelo MEC, apenas seis eram de poesias.”
A sua próxima publicação será uma releitura do clássico O Pequeno Príncipe, do francês Antoine de Saint-Exúpery.
ABC ONTEM E HOJE
Para as primeira leituras, Bráulio Tavares indica qualquer clássico de Monteiro Lobato e O Livro do Cemitério (Rocco), do inglês Neil Gaiman. “É uma história de terror, onde um menino de dois anos é criado por fantasmas.”
Já André Ricardo Aguiar seleciona o clássico O Menino do Dedo Verde (José Olympio), do francês Maurice Druon, e o humor de Os Risadinhas (Estação Liberdade), do irlandês Roddy Doyle. “(O Menino do Dedo Verde) tem uma mensagem ecológica para refletir nesta época, com um arsenal de fantasia.”
Por fim, Jairo Cézar destaca a obra da carioca Roseana Murray, uma das mais importantes poetas contemporâneas em poesia para crianças e jovens. Entre as produções locais, o autor seleciona o Zôo Imaginário (Escrituras), de Sérgio de Castro Pinto. “O livro é mais juvenil que infantil, mas quando o livro é bom, transcende esta linha tênue.”
Outra obra lembrada por Cézar é Um Boi Pastando nas Nuvens (Ideia), do paraibano Águia Mendes. “Minha filha não para de ler.”
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