DESPOEMAS – Sérgio de Castro Pinto
O título, “Despoemas”, faz menção não só ao número de poemas e de poetas com os quais o autor dialoga como também parece sugerir o exercício de desmonte dos textos a partir de um procedimento exegético. Mas a interpretação de cada poema não se restringe ao âmbito da paráfrase, na medida em que Roberto Menezes extrapola a atmosfera dos poemas selecionados para demarcar o seu próprio espaço com relação a eles. E com isso corrobora o princípio segundo o qual a literatura – e as artes, de um modo geral – encerra um procedimento dialógico, metalingüístico e intertextual, esses dois últimos recursos, vale dizer, quase sempre faces de uma mesma moeda.
Prestando um tributo aos poetas com os quais mantém “afinidades eletivas”, Roberto Menezes atua em três frentes: é o leitor e o exegeta de textos alheios, além de, na condição de escritor, reescrevê-los nesse “Despoemas”, cujo título também pode significar, ironicamente, a despoetização dos textos que lhe serviram como ponto de partida para que ele concebesse os de sua própria lavra.
Observe-se, ainda, a atmosfera on(l)írica que perpassa a maioria dos textos, quase todos se ressentindo da relação causa e efeito, como se os presidisse um clima movediço, surreal, informe, carente de completude. E esta, talvez, seja a marca registrada desse livro que torna estranho o familiar, na mesma proporção em que converte o familiar em estranho. Um livro, enfim, escrito com a imaginação sem fios e sem peias na linguagem, o que pode dificultar a leitura dos que, habituados aos jargões, às metáforas envelhecidas, veem-se surpreendidos por imagens estranhas, pelo inusitado, pelo nonsense. Livro, em suma, que concilia harmoniosamente prosa e poesia, pois uma e outra, necessariamente, não se excluem.
Que o leitor, então, analise os textos de Roberto Menezes e, quem sabe, a partir deles, engendre outros textos. A literatura, certamente, agradecerá.
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