Enxerto poético
Seu poeta preferido,
Bem antes de ser ferido
Já era ferido.
Antes.
Não visitou as bacantes, as nereidas e as ninfas.
Quis beber de sua linfa.
Esperou…
E não morreu.
Esse poeta sou eu.
De lira desgovernada.
Delírio, musa, amada.
Orfão, bisneto de orfeu.
Eu pra cantar não vacilo.
Digo isso, digo aquilo.
Digo tudo que se disse.
Digo Veneza.
Recife.
Fortaleza que se abre.
Quero que o mundo se acabe.
Se não disser o que sinto;
Digo a verdade.
Minto…
Vertente me arrebata.
Minha voz é serenata.
Labareda e labirinto.
A pena de uma galinha;
Trinta caroços de pinha.
Doce delíro de Vate
Um colírio, um tomate.
Um cartucho de espingarda.
O sangue da onça parda.
É tudo que trago e tenho.
Nada tinha de onde venho.
Leio o que arde sozinho.
Beba comigo do vinho;
Da arte do meu engenho.
Retirado do livro "Cantáteis - Cantos Elegíacos de Amozade"
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Desejo e necessidade
ai estou nas malhas de estranha cidade
mas uma parte de mim eu diria que a metade
ficou lá aonde saí, ou seja eu me reparti
desejo e necessidade
meus nervos de fios tensos
cipós propensos ao nó
enredados de dar dó nas ficções da verdade
salgam seu leite de arame
com a sal da saudade infame
desejo e necessidade
uma grota um viaduto, a estanque velocidade
civis soldados nos outros
sem outrora e eternidade
a ternura da ausência beija todos
com clemência - desejo e necessidade
ai estou num estado tão alterado
na exata hora que vim fiquei partido, apartado
e a parte que eu vim ficou
acesa na que apagou
desejo e necessidade
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