sábado, 5 de maio de 2012

Romarta Ferreira no ônibus


A música perdida

 





De repente ouvi uma música. Seu som encontrou meus ouvidos como quem procura morada e, por mais que eu evitasse, tentasse dar a entender que não era comigo, ela se acendia indiscutivelmente maior dentro de mim. Tive medo de nunca mais ouvi-la, de perdê-la, que ela fosse levada pelo vento, que escapasse de mim através de meus poros e nunca mais retornasse.
Comecei a sentir sua alma, a me concentrar em adivinhar seus acordes. Ela vinha de longe, de um lugar que eu não sabia ainda onde era. E eu descalça, na chuva, à noite, me coloquei a segui-la.
Ela me levou para o mar. Meus olhos nublaram e ao longe avistei um farol em um mar que tempesteava muito. Nas dependências da torre do farol um homem ao piano executava uma sequência que tinha acabado de compor. Ele tocava suave… E aquela canção era a que agora eu tinha por dentro.
Continuei a ouvi-la, até que as ondas fizeram a torre ceder. Eu a vi cair, desmanchar, a luz do farol apagar, tudo virar silêncio… Como se nunca tivesse acontecido música alguma. Como se eu conseguisse esquecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário