À memória da poesia morta
Jairo Cézar
‘poesia natimorta e versos sobreviventes’ é o livro inaugural de Thiago Lia Fook Meira Braga. Devemos dizer que é um livro bastante maduro para um iniciante. Thiago não comete os excessos dos poetas de primeira viagem; ao contrário, contém a sangria verborrágica que acomete os estreantes.
O livro editado pela Bagagem de Campina Grande é ilustrado por Flaw Mendes e divide-se em poesia natimorta, introspecções, intersecções e circunstâncias.
A seção ‘poesia natimorta’ é composta por um poema apenas, de título homônimo. Nele, em tom de constatação metalingüística, a voz lírica se julga impotente diante da feitura do verso, chegando a confessar no fechamento do poema que não apenas ele, mas também o próprio verso, estão condenados ao não ser.
“somos eu e a poesia
natimorta...”
A segunda seção, nomeada ‘introspecções’ é composta por treze poemas, cuja temática gira em torno de reflexões sobre o tempo e a morte.
Desta parte do livro, selecionaremos o poema ‘manifesto’ (p. 19) para uma breve análise.
Neste texto, a voz lírica Braguiana demonstra todo seu desconforto com relação ao mundo material e corpóreo.
“eu choro e suporto
apenas um mundo:
o meu”
Seguindo a linha aporética, o eu lírico, em uma reflexão hipotética, chega a considerar a morte da própria morte:
“encontraremos juntos o vazio do mar”
Observem que no verso final, fica explícita a incredulidade da voz lírica na solução desse desconforto; ao contrário, mesmo com o fim da existência material e até da própria morte, o nada é o destino certo.
O tema predominante na seção ‘intersecções’, composta por quatorze poemas, é o amor.
O poema escolhido para observações foi ‘canção do amor em segredo’ (p. 51)
canção do amor em segredo
ele amou em segredo
aos poucos
voltou
a ser
criança:
Neste poema, Thiago faz uma releitura das canções de amigo comuns na idade média portuguesa, onde o amor, que nunca que concretiza, vive apenas no mundo das ideias da voz lírica masculina.
A última parte do livro denomina-se ‘circunstâncias’, que conta com quinze poemas. Os textos desta seção giram em torno do cômico e alguns poemas são dedicados a escritores, como ‘itinerário para Mário Quintana’ (p. 77), ‘ode ao dicionário’, para Silveira Bueno (p. 89) e ‘para Fernando Sabino’ (p. 93).
Para superficial análise, escolhemos o poema ‘itinerário para Mário Quintana’. Nele, bem ao estilo do poeta gaucho, o poeta de Campina Grande carrega no prosaísmo aliado à filosofia do cotidiano, onde a voz lírica procura, no reflexo do espelho, sondar sem sucesso sua essência.
Eis um fragmento do poema:
itinerário para Mario Quintana
enveredei pela rua
à espera de capturar
com as próprias mãos o vento
Para concluir, devemos dizer que o presente texto se propõe a abordar de forma superficial a obra do poeta Thiago Lia Fook Meira Braga. Seus textos carregados de lirismo e reflexões filosóficas merecem leituras bem mais apuradas, mas este não é o objetivo deste estudo, que convida o leitor a tirar suas próprias conclusões através da leitura de poesia natimorta e versos sobreviventes.
Resenha para o concurso Outros Olhares promovido pelo Cultural.
Valeu, meu caro poeta!
ResponderExcluirSua leitura deixa meu livro importante! :)
Abraço, poeta.
ResponderExcluirObrigado.
Queria comprar, mas não encontro lojas pra vendê-lo!
ResponderExcluirQueria este e também subversos, mas tá dificil achar!
Comprei ambos usados, no Sebo Cultural. Queria em estado novo, contribuía com o autor
ExcluirCompre direto com autor, se quiser eu passo o contato dele ou no amazon que esta vendendo!
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