quinta-feira, 30 de junho de 2011

CAIXA BAIXA na bienal



O poeta e amigo Lau Siqueira informa no blog http://www.poesia-sim-poesia.blogspot.com/ que lançará seu livro Poesia Sem Pele, em setembro, durante a Bienal Internacional do Livro de Recife. O CAIXA BAIXA estará acompanhando seu membro honorário em um sarau.

Em breve, trarei mais detalhes.

¡Agendem-se!

Helena, ascendência em câncer


Por Eveline Alvarez

...............Seca. Assim parecia ser Helena. Não se sabia ao certo. Acordava todo dia às 6hrs da manhã e seguia seus rituais. Ligava o som da sala. Sempre a mesma música. Sempre a mesma ópera. Ouvindo Turandot, Helena engolia uma fatia de pão integral com aquele queijo sem gosto e um copo de suco de laranja. Café não tomava. Dizia que fazia mal à saúde.
...............Helena era meio neurótica. Precisava de uma ordem para que a vida seguisse. Livros arrumados. Filmes distribuídos em ordem alfabética. Talheres brilhantes, guardados de acordo com o tamanho. Era virginiana. Gostava de bolo de fubá.
...............Tinha 38 anos. Solteira, sem filho. Era silenciosa. Não gostava muito de ficar perto das pessoas. Não tinha paciência suficiente. Amigos? O único havia ido morar em Barcelona. Casara no verão de 2009 com uma gringa. Helena morava sozinha. Tinha um gato.
...............Helena era arquiteta. Tinha seu escritório há 15 anos no centro de São Paulo, perto da Praça da República. Chegava lá todos os dias às 9hrs e saía às 16hrs. Gostava de usar o metrô. Conhecia a linha 3 como ninguém. Gostava de dar informações sobre os caminhos, sobre as linhas coloridas que cruzavam a cidade de São Paulo. Gostava de observar as pessoas. Sempre ouvia Johnny Cash no seu IPod.
...............Ninguém nunca ouviu falar muito de Helena. Ela não falava de si. Era trancada em seu mundo. Gostava de ficar em casa no fim de semana. Ninguém sabia, mas ela adorava uísque e conhaque; eram seus companheiros. Helena tinha dia até para sair da ordem. Era assim todo sábado. Cozinhava, bebia, cantava as músicas do Jonny Cash. Sabia todas de cor. ♫ I don't intend to do nothin' for nobody, no time… ♫ Depois, caia no sono e acordava no domingo quase às 3hrs da tarde. Ficava na cama até o começo da noite. Não gostava de domingos. Tirava o telefone do gancho.
...............A verdade é que Helena estava entediada naquela primavera de 2010. Vivia entre uma linha tênue de ordem e de caos. Era virginiana, mas seu ascendente em câncer começou a se manifestar naquele mês de outubro. A desordem e a vontade de largar-se por aí gritavam. A Lua havia entrado em aquário.
...............Quinta-feira à noite, quando Helena ia pra sua aula yoga, algo a fez sair da rotina. Decidiu não ir à aula, foi ao cinema. Nem gostava muito de filmes. Ficava entediada quase sempre. Foi num cinema na Rua da Consolação. Era uma semana dedicada aos filmes suecos. Tomou café.
...............Cinema já escuro. Sentou em uma das duas mesinhas do bar que havia no cinema. Percebeu logo que havia alguém na mesa ao lado. Não dava pra ver direito. O filme começou. Helena prestava atenção nos diálogos. Tentava não se entediar. Às vezes olhava de lado. Era curiosa.
...............O filme terminou e Helena seguiu meio inquieta para a Rua Haddock Lobo. Sentou no primeiro bar que viu. Não percebeu que o cara que estava ao seu lado no cinema havia a seguido. Desprovido de timidez, logo sentou na mesa que ela estava. Surpresa, tímida e afoita do lado de dentro, Helena tentou quebrar o gelo com um sorriso e com um “- sim, pode sentar”. Nada daquilo parecia real. Nada estava na ordem. Culpa da Lua.
...............A noite seguiu. Helena e o homem do cinema atravessaram a noite conversando. Tão quanto ela, ele só queria companhia pra um copo de uísque, palavras. Nada mais, nada menos. Helena contou histórias do tempo que fazia faculdade, e por mais desinteressantes que fossem, o homem do cinema não queria parar de ouvir.
...............Não ficaram bêbados, mas altos o suficiente para falarem um pouco um do outro. Às vezes sorriam, às vezes ficavam calados, às vezes Helena pedia ao garçom pra colocar Jonny Cash, às vezes ela lembrava do seu gato. Ele era mais calado. Talvez libriano, talvez de capricórnio, ou pra completar a confusão, poderia ser regido pela Lua.
...............A verdade é que nada disso importava. Eles estavam ali pelas palavras, pelo uísque. Ela soube pouco dele. Eram quatro da manhã. Noite findou, o uísque acabou, palavras secaram. Helena tinha que ir. Tinha que acordar às 6hrs, pegar a linha vermelha, ouvir Jonny Cash, alimentar o gato.
...............Mantiveram contato, afinal o santo de um havia batido com o do outro. Conversavam fim de noite pela internet, pouco usavam o telefone. Às vezes passavam semanas sem se falar. Ele era estranho, sumia. Já ela, tinha a Lua em escorpião. Ficaram alguns meses sem se ver, mas um dia resolveram se encontrar. Já era verão. A Lua estava convexa, minguante, disseminada em virgem.
...............Tinha que ser rápido. Helena não gostava de ficar na rua até tarde depois do trabalho. Ele tinha que voltar pra casa. Tinha esposa, tinha dois filhos. Marcaram no Parque Trianon. Melhor lugar para se fugir do calor do mês de janeiro.
...............Helena sempre ficava nervosa quando pensava na possibilidade de vê-lo. “Tremia como a antena de um inseto irritadiço” por dentro, mas era a mesma pessoa de aparência seca por fora. Talvez ele nem notasse, mas se sim, do que isso adiantaria?
...............Encontraram-se às 16:30hrs no parque e mais uma vez conversaram. As conversas banais de sempre. Riam, sentiam prazer em estarem juntos. Às vezes o silêncio vinha. Ficavam sem graça. Helena queria dizer coisas que sentia. Ter lua em escorpião e ascendência em câncer complicava a vida dela. Ter o sol em virgem parecia não adiantar quando estava ao lado dele. E qual era o sol dele? Ela nunca soube. O que importava é que ele tinha um muro ao redor de si. Era isso que Helena sabia.
...............Mais uma tarde passou, a noite chegou, mais um encontro, mais silêncios. Não se sabe de fato o que aconteceu naquele fim de tarde além das conversas. Helena nunca contou a ninguém. Talvez tivessem deitado no colo um do outro, talvez tivessem se beijado, talvez tivessem apenas conversado as bobagens que adoravam conversar. O que se sabe é que chegaram em casa na hora de sempre.
...............O fato é que é que nada disso importa. O que importa é que depois desse dia não se encontraram mais. Falam-se esporadicamente. Parecem acompanhar naturalmente as fases da Lua.
...............A vida de Helena segue. Acorda às 6hrs da manhã, pega a linha 3, ouve Jonny Cash, faz aula de Yoga as quintas-feiras, alimenta seu gato. O problema é que Helena tem ascendência em câncer.

Mais de Eveline no http://relento.blogspot.com/

deixa rebeca falar

Por Natália

O pai dizia que ela seria médica. A mãe apostava na área de exatas, a avó sonhava com ela num convento - um absurdo, diziam os tios, ela pode conseguir um bom dote. Matricularam no xadrez, inglês, alemão e piano clássico. Rebeca queria férias, sempre riam desse pedido. Menina, você não entende nada disso. Logo cedo Rebeca aprendeu falar apenas quando lhe perguntassem algo, mas só queriam saber das notas, nem seus horários ela escolhia. Quando Rebeca abria a boca, as vozes aumentavam. Em dezembro, foi fazer caridade na Bahia, atendendo os caprichos da avó. Quando Rebeca viu o mar, descobriu a felicidade. Decidiriam que já estava na hora de namorar. Encontraram um herdeiro rico, bonitinho, burro feito uma porta. Perfeito. Rebeca exclamou, gritou, suplicou. Assustados, disfarçaram o pânico com desprezo. Desde quando Rebeca fala? Quem a ensinou falar? Riram, mandaram ela calar a boca bonito. Rebeca queria voltar pro seu amor, o mar. Não deixaram. Ela deveria casar logo. Pela primeira vez Rebeca se ofendeu. Sentiu raiva, revolta, medo, culpa. Chovia. Ela saiu pro meio da rua, pro meio do mundo, dançar na chuva. Quis se conhecer. Quem sou eu? - se perguntava, não sabia, mas se sentia bem na tempestade. Foi encontrada molhada, está louca - diziam. É o demônio, gritava a avó. Choveu insultos, Rebeca não se importou. Estava dentro de si. No outro dia muita tosse. Rebeca era um incômodo. Tanto trabalho para uma decepção dessas. Depois de algumas semanas, hospital. Pneumonia. Rebeca se foi. Fácil assim, por um pouco de chuva. Antes de ir, Rebeca monossilabou... SHH fizeram. Rebeca só queria um copo d'água.
 

PS: e ela só tem 17 anos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Morreu a escritora moçambicana Lina Magaia


 
Morreu no dia 27 de Junho, em Maputo, a escritora, jornalista e veterana da Luta Armada de Libertação Nacional, Lina Magaia, vítima de doença.
 
Trata-se de uma mulher de várias facetas, que se destacou durante a vida em domínios como a escrita, cinema, desenvolvimento rural ou mesmo como combatente da libertação do país do jugo colonial. Lina Magaia, que não gozava de boa saúde nos últimos tempos, encontrou a morte em sua casa, no bairro Triunfo, depois de ter ficado internada no Instituto do Coração durante a semana passada, segundo fontes familiares. Lina Magaia nasceu em 1945, em Maputo.
 
Em nome de jovens moçambicanos amantes da literatura e das artes no geral, o Movimento Literário Kuphaluxa, serve-se deste espaço para endereçar as mais sentidas condolências à família enlutada.

com : http://revistaliteratas.blogspot.com/2011/06/morreu-lina-magaia.html

Estação Poética é dia 13

O projeto Estação Poética, desenvolvido pela Estação Ciência, já tem dia, hora e convidado.

O sarau acontece no dia 13 de julho, às 19 horas e tem como homenageado Ronaldo Cunha Lima.

Eu vou!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Notícia velha é que faz comida boa


A notícia é velha, mas fiquei tão feliz que resolvi publicar por aqui.

RIO - A criança e o adolescente brasileiros estão lendo mais. Esse foi o diagnóstico traçado nesta quinta-feira (8) no 2º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil, realizado dentro do 13ª Salão Nacional do Livro Infantil e Juvenil, no Rio de Janeiro.

De acordo com pesquisa divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), do total de 12 mil títulos novos lançados no país em 2010, cerca de 2,5 mil foram direcionados a crianças e adolescentes.

- A própria produção é uma comprovação de que as nossas crianças e jovens estão lendo mais - afirmou à Agência Brasil a diretora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Ísis Valéria Gomes.

O presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Ednilson Xavier, disse que a parte destinada à literatura infantojuvenil já representa cerca de 15% do faturamento das lojas. Levantamento feito em 455 livrarias de todo país mostra que as vendas do setor cresceram 9,6% em 2010 em relação ao ano anterior, refletindo a expansão da economia nacional. Ele ressaltou que a área infantojuvenil lidera o ranking em termos de crescimento de vendas no ano passado.

Para Xavier, a tendência é que o hábito da leitura do público infantojuvenil seja crescente.

- Não tenha dúvida. Há, nesse aspecto, a constatação do mercado editorial de que os livros nessa área, a cada ano, se tornam mais atrativos - disse.

A ANL está elaborando pesquisa sobre o livro no orçamento familiar, que será divulgada em agosto, durante a 21ª Convenção Nacional das Livrarias.

Na opinião de Ísis Valéria Gomes, o hábito da leitura é fundamental não só para ampliar o conhecimento mas, inclusive, para a formação da cidadania.

Segundo ela, a criança e o jovem brasileiros são penalizados em função do analfabetismo funcional, que exclui as pessoas do conhecimento.

Durante o encontro, foi apresentada a experiência da primeira livraria virtual para livros digitais no país, a Gato Sabido, cuja média é de dez mil a 15 mil acessos diários para consultas. A diretora da FLNIJ observou que o governo federal já desonerou impostos sobre os livros eletrônicos (e-book). Avaliou, porém, que para que o livro digital chegue às camadas da população de menor poder aquisitivo são necessárias novas ações, uma vez que esses livros são ainda muito caros, custam cerca de R$ 1,8 mil.

Ela disse, também, que é preciso garantir a qualidade dos textos impressos oferecidos ao público infantojuvenil.

- Isso é alguma coisa que precisa ser vigiada, do ponto de vista de se oferecer coisa boa aos adolescentes e às crianças - disse.

A experiência da Fundação German Sanchez Ruiperez, de Salamanca, na Espanha, foi apresentada durante o encontro nacional de livreiros. A instituição aposta na alfabetização digital para crianças a partir de cinco anos de idade, onde os menores convivem com o aprendizado simultâneo no computador e no livro impresso.

O 13º Salão Nacional do Livro Infantil e Juvenil é promovido pela FNLIJ e vai até o dia 17 deste mês.


Aníbal Aleluia revisitado


Jorge de Oliveira - O País
É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais, espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo e, no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a possibilidade que a distância temporal permite...
De Aníbal Aleluia, escritor moçambicano já falecido, publicaram-se duas obras, “Mbelele e outros Contos”, “O gajo e os Outros” e, agora, “Contos do Fantástico”. Esta última, escrita em 1988, é de natureza totalmente diferente do que têm sido, ao longo dos últimos anos, as obras literárias moçambicanas.
1. Com uma linguagem erudita, muito apurada, temáticas comuns, mas tratadas de forma bastante diferente, a obra trouxe estórias de ficção baseadas no além, naquilo que as pessoas muito falam, só que ninguém alcança. A maior parte dessas peripécias são resultantes do que ouviu ao longo das suas viagens por este país fora;
2. Até a leitura e crítica social apresentada tem um cunho e uma forma não muito simplista, o que obriga o leitor a recorrer a uma análise baseada na conotação;
3. “Cria, inventa, procura, experimenta. Observa com os teus próprios olhos. A ti é que mais interessam os fracassos e os triunfos. A eles não os afectam. Se tiveres aborrecimentos não serão eles a saná-los, embora, caso tenhas louros, sejam os primeiros a enviar relatórios às suas direcções para valorizarem as suas informações de cada ano, com vista a futuras promoções”;
4. É um texto com linguagem muito apurada, dir-se-ia mesmo um português arcaico que nem a todos atinge, exigindo muitas vezes o recurso ao dicionário, mas de uma beleza acima do comum. Um estilo agradável, diferente do usual, e que nos faz sorrir e perceber que a língua também é um espaço infinito de que nenhum humano se pode apropriar na totalidade;
5. A dado momento recorda o “Piratas das Caraíbas”, com seres meio humanos meio aquáticos a viverem em baixo da água, com muita escravatura à mistura, e, por outro lado, vale pela mostra de aspectos culturais que, em tempo de colonização, diferenciavam a visão do colonizador da do colonizado;
6. “Meteu-se imediatamente no mato. Estava ansioso e já antegozava o seu triunfo sobre os javalis. Gostava que os animais alvejados dessem luta. Quando o javali eriçava as cerdas, expedindo chispas dos olhos pequenos, e o seu rosnar transformava-se num som agudo, Luís sentia-se mais homem, porque o animal parecia lançar-lhe um desafio. Então os seus músculos ganhavam dureza, rilhava os dentes e avançava afoito como se se quisesse entregar a um violento corpo a corpo”;
7. É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais, espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo e, no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a possibilidade que a distância temporal permite, como vários tabus e preconceitos (que sempre foram demasiados) foram sendo ultrapassados sem nunca terem sido explicados (o que é óbvio, porque sempre se basearam em mentiras e lendas sem base científica nenhuma);
8. Livro de enorme riqueza narrativa, apresenta episódios que se vêem, logo à partida, tratar-se de imaginações que nunca existiram, assentes em dogmas e mentiras embutidas, ao longo de décadas, nas pessoas, até, por mais incrível que pareça, se tornarem defensáveis por alguns charlatões. E alguns dos exemplos mostram isso, como o caso de um fantasma de mulher que apanha um mulherengo, das profecias amaldiçoadas que são feitas entre humanos e se cumprem, de contactos com mortos, de Homens – Animais, de pessoas que não se pode prender ou bater e até sereias;
9. “E todos tinham medo dele. Os conselheiros, em vez de conselhos, gritavam ditirambos. O ‘censor público’ instituído pelo régulo velho para moralizar a corte e a sociedade não teve similar no Sudoeste. Aliás, Macarala não deixava os indunas falarem, salvo para proferirem elogios. E o Sudoeste começou a empobrecer, acabando por cair numa indigência generalizada, enquanto o régulo vizinho, herdeiro do Velho, com uma política sã, desenvolvia as suas terras, promovendo a felicidade do seu povo”;
10. Contos do Fantástico deve ser lido para se ganhar várias coisas, dentre elas relembrar algumas realidades dos tempos de outrora, desfrutar de uma leitura agradável (até pelo desconhecimento de alguns termos, o que é caricato), para se aprender novos termos (os tais arcaicos) e se poder avançar na direcção de novos momentos na nossa civilização.
11. É um mergulho nas amarras de um povo que tem tanto de belo como de inexplicável.
 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Poesia e loucura

 

Vídeo produzido em câmera amadora sobre o lançamento de "Poesia sem Pele" do poeta Lau Siqueira. O livro foi lançado no manicômio Juliano Moreira em J Pessoa PB, no dia da Luta Antimanicomial, 18 demaio de 2011.
Produção: TV Cidade João Pessoa

domingo, 26 de junho de 2011

Poema de Ed Porto

O TREM DE CATAGUASES

O trem de Cataguases
cheio de bauxita
treme o chão
Apita e passa lerdo
perto de mim
Incita-me a pegar o túnel do tempo
e pousar num mundo sem pressa
Com sua cauda longa
para o centro da cidade e desfila.
O trem e rio se emparelham
e seguem de mãos dadas

sábado, 25 de junho de 2011

Poema de Cecília Meireles

Betomenezes de bolso

Contos de Bolso


Sobre a Coleção:


A Coleção Contos de Bolso é fruto de uma parceria entre O BULE e a 6 Sigma Publicações Digitais e traz e-livros que serão lançados mensalmente e distribuídos de forma gratuita através da internet. Ao total serão dez volumes colecionáveis de cinco autores diferentes — dois contos de cada, portanto — com, no máximo, 30 páginas para você ler em seu e-reader ou computador, enviar para os amigos, parentes, ou mesmo disponibilizar em seus blogues para download gratuito!

E na segunda edição da coleção Contos de Bolso, o autor Betomenezes, com seu O (fuzi)lamento do poeta.


Betomenezes é doutor em Física, professor universitário e autor dos romances Pirilampos Cegos (2007) e O Gosto Amargo de Qualquer Coisa (2008), ambos vencedores do prêmio Novos Escritos, da prefeitura de João Pessoa. Militante de movimentos artísticos e literários, ajudou a fundar o CAIXA BAIXA, núcleo literário de escritores paraibanos, onde exerce o cargo de presidente.

> Para baixar o conto O (fuzi)lamento do poeta em PDF, de Betomenezes, basta clicar AQUI.







PS: O que vocês acharam da foto? 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poema de vamberto spinelli jr

TAMBOR RUBOR


sob tanta carne vestido pêlos
soube
antevi por dentro
ultra-delicada cada apelo seu

tão gesto
de mão supercílios dentes
boca e outras brechas
ultra-delicadas frestas
entre carnes
molhadas rompendo
silenciosamente
sob vestido pêlos

terminados os apelos
entre pêlos
ficamos

ultra-delicada
mente



>poema do livro SEM LUGAR  de 2007
 
Vamberto foi vencedor do  concurso novos autores, promovido pela editora da Universidade

Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso

A Comissão Central organizadora da 7ª Feira do Livro de Santa Rosa, com a finalidade de estimular a produção literária local, e o intercâmbio com escritores brasileiros e de outros países institui edital que regulamenta o Concurso Internacional de Contos que nesta edição homenageia o escritor VICENTE CARDOSO.
 
1- Poderão participar escritores, maiores de 18 anos.
 
2- O tema será: contos de fantasia e/ou ficção científica.
 
3- Os textos deverão ser em língua portuguesa - digitados em Word ou BrOffice – fonte Arial – tamanho 12 – espaçamento simples – justificado – máximo de 6 laudas.
 
4- Os textos serão enviados para o endereço eletrônico concursodecontosvicentecardoso@gmail.com no campo assunto virá “Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso” com arquivo em anexo nomeado “Texto” constando o texto sem identificação do autor, apenas pseudônimo. Também um outro arquivo nomeado “DadosPseudonimo” sendo que no lugar de Pseudônimo virá o pseudônimo escolhido. Por exemplo, se o pseudônimo for “Adalio” o arquivo será nomeado “DadosAdalio”. Neste arquivo constarão: pseudônimo, nome real, endereço, endereço eletrônico, telefone e breve currículo do autor.
 
5- Os textos devem ser inéditos de publicação em livro na mídia papel. Publicação em livro sem registro ISBN ou e-book não quebram o ineditismo da obra.
 
6- Aos cinco primeiro colocados serão entregues:
 
1º colocado: diploma constando colocação, 15 exemplares da coletânea com os textos premiados no concurso e uma cesta de livros de escritores santa-rosenses;
 
2º colocado: diploma constando colocação, 10 exemplares da coletânea com os textos premiados no concurso e uma cesta de livros de escritores santa-rosenses;
 
3º colocado: diploma constando colocação e 9 exemplares da coletânea com os textos premiados no concurso.
 
4º colocado: diploma constando colocação e 8 exemplares da coletânea com os textos premiados no concurso.
 
5º colocado: diploma constando colocação e 7 exemplares da coletânea com os textos premiados no concurso.
 
7- Todos os autores que tiverem textos selecionados para participar da coletânea receberão diploma com esta menção.
 
8- A coletânea terá registro ISBN e será lançada na 7ª Feira do Livro de Santa Rosa que acontecerá de 13 a 16 de Outubro de 2011 no Parcão - Praça 10 de Agosto - em frente ao Museu Municipal. Será também distribuída para venda em livrarias e poderá ter seção de autógrafo em outras feiras ou eventos.
 
9- Ao enviar seus textos os autores estarão cedendo os direitos autorais da obra enviada para publicação em livro, e-book, áudio livro e PDF a comissão organizadora da 7ª Feira do Livro de Santa Rosa.
 
10- Os textos poderão ser enviados até 10 de Agosto de 2011 exclusivamente via internet conforme consta no artigo 4º deste regulamento.
 
11- Esta vedada a participação de integrantes ou familiares dos integrantes da comissão central da 7ª Feira do Livro de Santa Rosa e de familiares dos membros da comissão julgadora deste concurso.
 
12- Os contos serão julgados por uma comissão de alto nível literário, indicada pela Comissão Central da 7ª Feira do Livro de Santa Rosa, cuja decisão será soberana, à qual não cabem recursos sobre o resultado do concurso.
 
13- As inscrições fora das normas do concurso não serão aceitas.
 
14- É de responsabilidade exclusiva do concorrente a observância e regularização de toda e qualquer questão relativa a direitos autorais sobre a obra inscrita.
 
15-Este edital atende ao disposto na Lei Federal nº 9.610 de 12/02/1998 sobre direitos autorais.
 
16-Os premiados concordam e permitem a divulgação de seu nome e imagem para a divulgação do concurso, sem qualquer ônus para os realizadores.
 
17-Os participantes declaram estar cientes e de acordo com este regulamento.
 
18-Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos pela Comissão Central da 7ª Feira do Livro de Santa Rosa.
 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A poesia com sentido e sem pele – um olhar sobre os versos de Lau Siqueira.

Por Aíla Sampaio*

Lau Siqueira é um poeta sem fronteiras. Seu projeto estético é a poesia em todas as formas, por isso revisita fórmulas de vanguarda e cria as suas, no movimento ascendente e inventivo dos que não se quedam quietos diante de uma folha (ops... tela) em branco. Sem pontuação e com o uso arbitrário de letras iniciais maiúsculas, ele fala, murmura, grita, em silêncio, como um monge que desce da torre de marfim para arrancar a olho nu a pele das palavras. Desnuda-as para retirar-lhes os panos desnecessários e vesti-las em sedas comedidas, mas surpreendentes.

Sua poesia não é intuitiva, é artesanato, tecelagem. Isso não a isenta de sensibilidade, ao contrário, revela o envolvimento de um processo cerebral que alia a razão ao pensamento, à sua forma de sentir o mundo. A reflexão metapoética diz da consciência do texto literário como um trabalho de linguagem: “no entalhe / a madeira se reparte // com porte de quem / cumpre o rito criador // o machado parte // a árvore tombada / já não é a mesma // virou linguagem / substrato e signo de / abismo e arte”. (“Tese de Machado”, em Poesia sem Pele, p. 17), o que se confirma em “poetria” (Poesia sem pele, p.21): “poema é face descoberta / de tudo que pulsa // poema é atitude permanente / em tudo que passa // (massa)”.

Lau é um manipulador de signos, gosta de experimentá-los, lavrá-los na superfície da folha. Daí suas incursões pelo não conceitual, pelo não verso, pela experiência com a palavra e sua disposição na página. Poeta semiótico, sem dúvida, herda a palavra-coisa dos concretistas, mas não cai no hermetismo deles. Como num laboratório, mistura palavras, decompõe sílabas, explora sonoridades e possibilidades expressivas. No poema “vvvvvvvvvveloz / a vida pássaro / por nósssssss” (Poesia sem pele, p.24), o efeito estilístico da aliteração do V avulta a motivação da palavra, dando-lhe movimento e velocidade; o acréscimo dos S de ‘nós’ parece querer alongar o plural e criar, no pronome, a ideia de multidão; ‘pássaro’ em vez de ‘passa’ (verbo ‘passar’ na 3ª pessoa, como se esperaria num poema conceitual) dá mais significação ao texto por evocar a ideia de voo, de liberdade, sobretudo de fugacidade da vida que não espera, passa veloz.

A linguagem do mundo virtual e a do dia a dia, inclusive os estrangeirismos, não fogem à sua criação, que aproveita formas e estilos para dialogar com todo tipo de leitor. Em “Poemail” (Texto sentido, p. 40), ele se expressa por palavras, mas, sobretudo, pelos espaços em branco... é a tentativa do poema que o eu poético diz transcrita em silêncios. Silêncios que flutuam também nos parênteses de “Pedra sobre sabão” e “Poema” (Texto sentido, p. 25 e 38) e no giro das palavras soltas que compõem um só verso-poema: “o esgar coeso das coisas é leve e de peso” (Texto sentido, p.19 ). Em “a revolução das sílabas” (Texto sentido, p.34) as letras parecem beijar-se numa mensagem social e humana, como em “papoula” (Texto sentido, p. 21), dando ao leitor a impressão de movimento contínuo.

A natureza, a criação, o amor e a fugacidade são nortes que perpassam a poética de Lau, pássaro em voo sibilante pelo território do lirismo que não se retrai ante sua inquietude com experiências formais. No poema-verso “Senha”, o eu lírico apenas diz “Ela tinha um rio de seda no abraço” (Texto Sentido, p. 31). Em “Paradigma”, é o efêmero que se interpõe para avisar que “a vida / é um eterno / ir-se embora // costura de / instantes diluídos / na eternidade // tempo / de retornos / irreparáveis // e encontros / irreconciliáveis” (Poesia sem pele, p. 38), temática bem delineada também nos versos de “bizarro”: olhar / ecoado / no espelho // os dias passam / sem que a vida / devolva / nenhum dos pedaços (Poesia sem pele, p. 56)... dá quase pra ouvir Cecília Meireles: “em que espelho ficou perdida a minha face? (“Retrato”). Aliás os sopros de poetas que certamente lhe deixaram marcas aparecem em outros diálogos como ocorre nos poemas “rio Jaguaribe” (Poesia sem pele, p.25); “persomargem” (Poesia sem pele, p. 58); “pessoa” (Poesia sem pele, p. 45); “quintanaico” (Texto sentido, p.41), em que ele intertextualiza versos de Ferreira Gullar, Manoel Bandeira, Fernando Pessoa e Mário Quintana.

Em “Plectro” ele alicia o leitor a um voo entre a densidade e a leveza, pilares de sua criação: “nada será mais denso que um / pequeno pássaro pousado sobre / as crinas da manhã” (Texto Sentido, p. 33). A figura do pássaro é recorrente: “o pássaro é além do pássaro // pássaro é conceito // lição necessária de vôos e pousos” (Poesia sem pele, p. 43); “olhar de pássaro em pétalas retidas // beleza que fere / e impulsiona o hálito / delicado do vento” (Poesia sem pele, p. 52)... essa identificação com o símbolo da fragilidade, mas também da liberdade de pairar sobre todas as coisas, seja talvez a tradução do ir e vir, o exercício da busca pelo equilíbrio das asas que temem as ventanias como se lê em “pulo didático” (Poesia sem pele, p. 26): “acostumei / mirar de frente / os precipícios // não raras vezes / medindo o porte / das asas / para o pulo / desmedido das / coisas inexatas” e em “equilíbrio” (Poesia sem pele, p.64): “quando voar sobre / incêndios / não derrete minhas / asas”, numa resistência patente ao destino de Ícaro.

A poesia de amor, ausente de Poesia sem pele, está presente em Texto sentido, sobretudo em “permito de amor” (p. 43), uma tentativa de revelação de um antirromantismo que não se configura de forma convincente: desculpe / se não fechei a porta / ao sair de uma residência / em ti // é que sou uma casa / sem portas / sem janelas / sem paredes // e sem as imolações / de um coração que / não se permite / aniquilar // pelo amor à própria sede”.

Nesse esgar de idas e vindas, elocubrações existencialistas e reflexões metapoéticas, bem como nas incursões pelas vanguardas e pelos experimentalismos, a poesia de Lau Siqueira paira longe de rótulos ou correntes estéticas. Não se detém a nenhuma fórmula ou estilo. Sua palavra de ordem é experimentar; buscar densidade na leveza (e vice-versa), mansidão no absurdo; conseguir o ‘máximo surto em poemas curtos,’ como ele mesmo declara no poema “conceito” (Poesia sem pele, p. 15), um monumento à concisão, característica primordial de sua poética de máximo no mínimo; de muito no pouco, sem preocupação minimalista, mas, tão-somente, levado pela audácia de manipular as palavras e saber extrair delas todas as otencialidades expressivas.

*Aíla Sampaio é professora do Depto de Letras da UNIFOR.

Do blog: Publicação no blog Esaios de Literatura e Artes, http://litebrasil.blogspot.com/2011/06/poesia-com-sentido-e-sem-pele-um-olhar.html