sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PORTINARI: o pintor que fala ao coração



Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB

            Lá vai Candinho!
            Pra onde ele vai?
            Vai para Brodowski
            Buscar seu pai.
            [...]
            Lá vai Candinho
            Com seu topete!
            Vai pra Brodowski
            Pintar o sete.

(Vinicius de Moraes. Poema para Cândido Portinari em sua Morte).

            Pelas mãos habilidosas da família Dumont, o painel “Guerra e Paz”, de Cândido Portinari, ganhou uma nova linguagem – o bordado.  “Candinho e o projeto Guerra e Paz” (Companhia das Letrinhas, 2012), com bordados de Antônia Zulma e filhos, texto de Sávia Dumont, traz um pouco da história deste belo painel que se encontra no prédio da ONU, em Nova York. O livro contém duas histórias – a infância de Portinari, passada em uma cidade do interior de São Paulo- Brodowski e a história do painel “Guerra e Paz”.  
             Cândido Portinari era filho de um casal de italianos e teve vários irmãos. Sua infância foi marcada por cirandas na praça, cantiga dos carros de bois percorrendo os caminhos de terra com seus rangidos característicos, cafezais, procissões, fogueiras e a presença de moças bonitas com laços de fita.
            Quando criança, recebeu o apelido de Candinho e assim era tratado pelos familiares e amigos mais próximos. Por ocasião de sua morte, o poeta Vinicius de Moraes quis homenageá-lo de forma carinhosa e se valeu desse apelido da infância quando escreveu “Poema para Cândido Portinari em sua Morte.”.
            Os pendores artísticos se revelaram desde a mais tenra infância. Era um menino observador. O ambiente rural do interior de São Paulo, vivenciado por ele, está sempre presente em suas telas.
            Na fase adulta, com pincel, telas e tintas,  Portinari procurou retratar as cenas que povoaram a sua infância – as brincadeiras, mas também a dureza da vida dos trabalhadores de café, os retirantes da seca e o desespero de mães que perdem os filhos ainda pequenos.
            A história do painel “Guerra e Paz” que se encontra na sede da ONU precisa ser contada para as crianças e jovens.
            Em 1952, o governo brasileiro convidou Portinari para elaborar um presente para os Estados Unidos.  Naquele tempo, Portinari já estava doente pelo uso constante de tintas tóxicas, mas mesmo assim aceitou o desafio e começou a pintar dois painéis – um representando a Guerra, o outro, a Paz. Foram muitos meses de intenso trabalho durante este tempo ele criou cento e oitenta estudos.
            Os painéis medem 14x10 metros cada um e foram pintados com tinta a óleo sobre uma madeira especial, o compensado naval. Ele fez o trabalho a partir de telas de 1 x 2 metros e contou com ajuda dos amigos – Eurico Bueno e Rosalina Leão.  Em janeiro de 1956, entregou os painéis a Macedo Soares, ministro das Relações Exteriores.
            A obra estava pronta, mas o pintor brasileiro não foi aos Estados Unidos para ver sua obra instalada na sede da ONU. O governo americano achava que ele pensava diferente dos ideais americanos. Portinari era partidário do comunismo.  Portinari ficou muito triste diante desta proibição.
            Este foi o trabalho mais importante do pintor, tanto que ao terminá-lo deu uma entrevista e disse: “Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz [...] Dedico-os à humanidade” (2012: p. 41).               
            Cândido Portinari era também poeta e pessoa de grande sensibilidade artística. Vale a pena repetir esses dois pensamentos do poeta/pintor:
            “Só o coração poderá nos tornar melhores e é esta a grande função da arte.”
            “Uma pintura que não fala ao coração não é arte, porque só ele a entende”.
            O trabalho da família Dumont também foi bem demorado. “Durante dois anos, bordaram cada traço, cada detalhe e movimento das vinte telas escolhidas entre os tantos estudos de Candinho. Foram dois anos de muita bordação, alegrias, emoções e delicadezas.” (2012: p.41).


                                       











Nenhum comentário:

Postar um comentário