sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Glória Diógenes no ônibus



Apita o trem:

a hora do dor.
É deserto na janela.

O homem da casa
conduz o rumor dos trilhos
indiferente à paisagem.

O homem da casa traz mão vazias
infinitos dedos
de ninar, de morder, de esquecer.

Os vagões da aflição do prazer sem ser
calam gemidos ocos,
Cabeça para trás, cabelos por entre as mãos,
o dueto segue sem destino. 

Um homem muito grande,
pode mudar a direção dos ventos.

Vai- vem, vai- vem, pedaço por pedaço.
boca interrompida por mãos,
grita vedada a mentira que revela.
Lágrimas desacertadas,
inundam fábulas interrompidas.

O homem- máquina transpõe as horas.

Passado come inteiro o dia seguinte.
Família invisível na sala.
O mais tarde não vive,
e ninguém vê.
A menina apoucada,
engole palavras.

O que ele fala: 
Não diga nada, não conte.
Eu te dou um chocolate Garoto, a última Barbie
te cubro o lençol na hora do adormecer.

(O apito se afasta, a mão guarda a calça,
perene aroma da culpa impregna a sala)

O que ela cala: 
Não viajo. Permaneço.
Deito nos trilhos poemas em disparada. E permaneço.
Sob carris de morte e vida.

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