por Marcelo Abreu
Antes
de começar esta resenha, gostaria de expor uma frustração minha: Como
eu gostaria de ter lido esse livro na infância! Acho que teria sido mais
mágico e mais memorável.
Infelizmente,
o fiz depois de adulto, pois jamais, em anos e anos de vida escolar,
encontrei qualquer referência a esta obra de Maurice Druon em outros
livros, especialmente os didáticos, que sempre trazem trechos de livros
consagrados.
A
primeira vez que ouvi falar de O Menino do dedo verde foi quando eu
cursava a 8ª série do 1º Grau (atual 9º Ano do Ensino Fundamental). Ele
foi recomendado com grande empolgação pelo nosso professor de Língua
Portuguesa, o carrasco James, em um de seus poucos momentos de ternura.
Sempre cínico e muito exigente com seus alunos, James tornou-se outra
pessoa ao mencionar o livro e não deixei de notar essa mudança.
É
claro que o procurei pelas livrarias da minha cidade, exaustivamente.
Mas não o encontrei, para a minha frustração. Dificilmente encontrávamos
bons livros em Manaus. A venda de títulos, até o começo dos anos 90,
era focada em livros didáticos e leituras extraclasses obrigatórias
adotadas pelas escolas e, aparentemente, O menino do dedo verde parecia
não gozar de muito prestígio entre os docentes da época. Uma pena.
Não
o encontrando também nas bibliotecas da vida, foi só depois de adulto,
lidando com as facilidades do comércio via internet é que consegui ter o
livro em mãos. E neste ano, para ser mais específico.
Em
seu livro, Maurice Druon narra a história de um garoto chamado Tistu,
nascido em berço esplêndido e que vive com seus pais em uma grande
mansão, numa cidade fictícia chamada Mirapólvora, famosa por sua
indústria bélica, comandada pelo pai do garoto, que sonha ver o filho
único seguindo a mesma carreira. Porém, ao entrar na escola da cidade,
Tistu acaba revelando-se um fiasco de estudante, por não conseguir
adaptar-se às metodologias de ensino aplicadas no local, que lhe parecem
constantemente monótonas e inúteis, levando-o ao sono involuntário
durante as aulas. E com isso, acaba sendo expulso do local.
Alarmados,
e cientes de que a formação intelectual de seu herdeiro não deve ser
negligenciada, os pais de Tistu resolvem promover sua instrução de outra
maneira, fazendo com que ele aprenda com os próprios olhos, levando-o
assim aos locais que eles consideram apropriados ao conhecimento do
menino, como o jardim da casa, os campos, os arredores da cidade, a
fábrica de canhões, o hospital, considerando assim a vida como a melhor
escola que existe.
Mesmo
sendo um proeminente intelectual e acadêmico, autor de alguns romances
históricos, Druon criou um livro infanto-juvenil perfeito, impregnado de
ternura, sensibilidade e poesia que nos fala a respeito da busca de
nossas verdadeiras vocações e convicções na figura de um garoto que, no
decorrer da história, descobre ter um poder incomum: o ‘dedo verde’,
onde tudo o que toca, floresce e frutifica, como se fosse mágica.
Recomendo
com entusiasmo a leitura deste livro aos mais jovens. Não deixe que os
mesmos vivenciem a mesma frustração que tive até poder finalmente tê-lo
em mãos. O menino do dedo verde também é um livro para se ter sempre ao
lado, para que, mesmo adultos, possamos relê-lo ao longo dos anos sempre
que tivermos uma chance ou quando nos sentirmos desestimulados diante
de nossas vidas, pois acredito que a missão desse livro é trazer de
volta ao nosso convívio o encantamento pelas coisas novas e a paixão por
um mundo mais belo e isento de conflitos. Maurice Druon criou uma obra
cujo significado o leitor mais sensível será capaz de introjetar em si,
descobrindo-se assim também um possuidor de um polegar verde capaz de
revolucionar sua própria existência e o mundo ao seu redor.
Um
livro lindo, que através da inocência dos olhos de uma criança, revela a
beleza de uma vida feita de bondade, apontando, assim, soluções simples
para grandes problemas que os adultos são incapazes de resolver.
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