Por Neide Medeiros Santos – FNLIJ/PB
Da árvore generosa nascem flores
que embelezam a vida
e frutos que alimentam nossa gente.
É o TAMOROMU.
(Neide Medeiros
Santos)
“A
árvore de Tamoromu” (Formato: 2013), reconto de uma lenda indígena de Ana Luísa
Lacombe, com ilustrações de Fernando Vilela, é um livro que cativa o leitor
pela singeleza da história e beleza das ilustrações. Aliado a tudo isso, o
livro chegou envolvido em uma embalagem especial, dentro de um grande envelope,
bem acolchoado, bem protegido, como convém às coisas preciosas e que devem ser
guardadas com muito carinho.
Na
primeira orelha, um texto de Fanny Abramovich, educadora, escritora, e boa
entendedora de teatro. Ela vibra com a experiência de Ana Luísa (Analu), atriz,
cantora e brincante que sabe contar, cantar e encantar. A segunda orelha é
reservada para guardar, bem guardadinho o CD com a história contada por Analu.
Uma suave música, imitando os sons da mata, o cantar dos pássaros, serve de
acompanhamento para a história.
Betty
Mindlin, antropóloga e pesquisadora dos povos indígenas, faz a apresentação do
livro e explica que Tamoromu é um mito dos Wapixana, recontado com graça e maestria
por Ana Luísa Lacombe, e que tem como base um registro feito por D. Mauro
Wirth, um missionário beneditino, em meados do século XX.
Quem
já conhece o trabalho de Fernando Vilela, e cito “Lampião e Lancelote” e
“Simbá, o marujo”, poderá aquilatar a beleza dessas ilustrações. A árvore se
era encantada, mais encantada ficou com seus galhos carregadinhos de frutos,
sua grande variedade de cores, principalmente a predominância dos tons vermelhos e laranjas.
A
Amazônia é rica de lendas indígenas e existe uma que os índios gostam muito – é
o mito da árvore Tamoromu. Essa história envolve dois curumins e uma cutia.
Certo
dia os curumins estavam passeando pela mata e encontraram um filhote de cutia,
ela estava toda encolhidinha no tronco de uma árvore e os meninos resolveram
levá-la para a tribo. O pai gostou tanto
da cutia que resolveu fazer uma rede para o pequeno animal se balançar. A cutia
só queria saber de comer e dormir. Era muito preguiçosa.
Depois
que cresceu, gostava de dar longos passeios pela mata, corria, corria, andava e
voltava para sua rede macia, ali dormia o sono dos justos. Em um desses
passeios mais prolongados, ela encontrou uma árvore de porte gigantesco, nunca
havia visto uma árvore tão grande e o mais estranho era que essa árvore dava
todo tipo de fruta e de legume: banana, cajá, umbu, limão, castanha-do-pará,
milho, mandioca. A cutia comeu até não poder mais. Nesse dia, ela voltou pesada
para a aldeia e não quis a comida que os curumins tinha preparado para ela. Eles
estranharam a recusa. No outro dia foi a
mesma coisa, a cutia estava “enfarada” da comida de casa. O que estaria
acontecendo?
Os
meninos desconfiaram que a cutia estivesse doente e foram contar ao pai que a
cutia não queria mais comer. O pai chamou a cutia e perguntou:
“-
Tá doente cutia?
E a
cutia respondeu:
_ Tô
doente, não... Eu tô é com a barriga cheia. Ai, que preguiça.”.
O
pai ficou matutando – a cutia disse que estava cheia. Cheia de quê? Precisava descobrir o
segredo. Agora não queria mais brincar nem comer, deitava na rede e logo
começava a roncar. Toda aldeia ouvia o ronco alto do animal, um ronco pesado de
quem dorme de barriga cheia.
Quando
a cutia saía para a mata, o pai e os filhos perguntavam:
“-
Aonde você vai?
_ O
que você come?”
E a
cutia calada estava, calada ficava.
Um
dia os índios resolveram seguir a cutia e o que descobriram é segredo, está bem
guardadinho dentro do livro. Não vou revelar, só lendo para saber.
Este
livro, além de contar uma história cheia de magia e encantamento, dá lições de
ecologia – a natureza precisa ser preservada, a mata exige cuidados especiais,
não podemos desmatá-la pensando apenas em lucro. Uma árvore derrubada, morta, é
um filho que a floresta perde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário